Pedro Felipe Martins da Silva
Universidade Federal de Lavras – 3rlab
É de conhecimento geral que a produção de forragem oscila durante o ano em relação às condições climáticas de uma determinada região. Em sistemas que utilizam quase exclusivamente o pasto como fonte de alimentação para os animais, as grandes variações na taxa de acúmulo podem vim a representar, um grave problema no sistema produtivo, principalmente quando não há uma estratégia de alimentação do rebanho em épocas de baixo ou nulo acúmulo de forragem.
Existem inúmeros métodos de armazenamento de forragem que podem ser utilizados no próprio estabelecimento rural. No Brasil os mais difundidos são as confecções de silagens, fenos, pré-secados e a vedação de pastos. O diferimento de pastagens pode ser entendido simplesmente como interrupção temporária no pastejo sobre determinado pasto, antes do período seco, no intuito de acumular forragem para suprir o rebanho na época seca do ano.
Este breve artigo, tem a finalidade informar quais são os principais pontos que devem ser observados para que o diferimento possa a contribuir para o sucesso do manejo nutricional do rebanho.
- Época de diferimento e manejo da pastagem no pré diferimento
A época de vedação do pasto é o primeiro aspecto que deve ser levado em consideração, pois a vedação do pasto na época imprópria pode vim a ser responsável por pastos com baixo acúmulo de matéria seca. Para que a pastagem tenha a capacidade de acumular o máximo de matéria seca em um determinado período de tempo é recomendado que o pasto seja vedado ainda na época das chuvas. De maneira geral as pastagens devem ser vedadas entre 60 e 120 dias antes do término das chuvas, esse tempo de vedação está relacionado a adubação da área e espécie forrageira na qual se está trabalhando. O ideal que se faça a medição constante do pasto para que se tenha o conhecimento da massa de matéria seca presente na área.
O manejo na pré-vedação consiste em submeter a área destinada ao diferimento a um pastejo mais intenso, com o objetivo de eliminar o máximo possível a quantidade de colmos e talos que são de baixa digestibilidade para os animais. Após a retirada dos animais é necessária uma adubação nitrogenada para que o dossel tenha capacidade de acumular o máximo de matéria seca em um curto período de tempo.
- Espécies forrageiras mais indicadas
Para a prática do diferimento de pastagens devem-se preferir espécies forrageiras que têm como características marcantes o grande acúmulo de folhas em relação ao acúmulo de talos e colmos. Outra característica desejável é o hábito de crescimento, dessa forma devemos priorizar o uso de forrageiras que apresentam o crescimento tipo prostrado, muito comum as espécies do gênero dos Cynodons e das Brachiaria.
Objetiva-se com a vedação de pastos o acúmulo de 3 a 4 toneladas de matéria seca por hectare, ou seja para as espécies do gênero das Brachiarias a altura em que o gado deverá entrar para realizar o pastejo será de aproximadamente de 40 a 50 cm (figura 1) e para os Cynodons a altura de pastejo será de 30 cm.
Figura 1- Pastagem de Brachiaria Brizantha diferida em altura ideal de pastejo.
- Categoria animal e quantidade ofertada
As pastagens diferidas podem ser ofertadas para qualquer categoria animal presente na propriedade rural, porém devemos reconhecer que tais pastagens apresentam um baixo valor nutricional, pelo fato de já terem passado do ponto ideal de pastejo em situações normais. De acordo com esse fato é indicado que se trabalhe com categorias de animais menos exigentes em nutrição ou que não estão no momento em produção, visto que a suplementação proteica para tais animais será bem menor do que para os animais em plena produção.
O pasto vedado pode ser utilizado no manejo alimentar de bezerras em sistemas de produção de leite, ou para animais que apresentam baixas taxas de ganho de peso em sistemas produtivos de gado de corte. Vale a pena ressaltar que apesar de tais animais não apresentarem alta exigência nutricional é de essencial importância que se suplemente os mesmos (figura 2), visto que pastagens diferidas apresentam somente 7% de proteína bruta na matéria seca ( teor muito baixo).
A quantidade ofertada no caso de pastejo em área diferida deve ser maior do que em relação a quantidade ofertada em área não diferida, essa recomendação é justificada pela razão da baixa qualidade nutricional da forrageira e com isso o animal precisará ter maior seletividade no consumo para poder desempenhar melhor. Na prática está sendo ofertado 8kg de matéria seca/100 Kg de peso vivo/dia, essa quantidade ofertada é 4 vezes maior do que a quantidade normalmente utilizada( 2Kg de matéria seca/100Kg de peso vivo/dia).
Figura 2- Suplementação proteica de animais a pasto diferido.
- Considerações finais
O diferimento de pastagens como prática de armazenamento de forrageiras para o período seco do ano é um procedimento de baixo custo, fácil implementação e que pode apresentar resultados satisfatórios. Porém como todo procedimento a ser realizado, existe a necessidade do planejamento, para que se evitem futuras frustrações. No planejamento devemos considerar a categoria animal que iremos disponibilizar a pastagem vedada, o potencial produtivo da forrageira disponível e se aquela determinada forrageira apresenta características ideais para que se realize o diferimento.