Rafael Achilles Marcelino
Universidade Federal de Lavras – 3rlab
Cerca de 40% a 60% do custo total na produção de leite é destinada a alimentação do rebanho, portanto os produtores vêm sempre buscado alternativas mais baratas e que possam melhorar as características qualitativas e quantitativas do leite. Dentre os diversos alimentos alternativos do mercado, existe um subproduto da indústria têxtil que podemos destacar por poder ser utilizado como alimento complementar, que é o caroço de algodão.
A análise do caroço de algodão revela a seguinte composição: 92% de matéria seca, 23% de proteína bruta, 20% de extrato etéreo, 44% de fibra em detergente neutro, 4,80% de cinzas, 0,21% de cálcio e 0,64% de fósforo. O que o torna um alimento com característica protéico-energética, portanto ele pode substituir em parte o alimento volumoso e o concentrado.
A proteína do caroço apresenta lenta digestibilidade e maior tempo de permanência no rúmen, esta característica pode ser vantajosa para a otimização da síntese de proteína microbiana, ou seja, em associação com fontes energéticas de lenta degradabilidade (casca de soja, milho moído, etc.) possibilita a sincronização da liberação de amônia (degradação da proteína) e da cadeia de carbono (degradação da fibra), de forma mais homogênea ao decorrer do período.
O gossipol
Apesar de todas essas qualidades o caroço de algodão possui um fator anti-nutricional, o gossipol. O teor de gossipol livre (GL) pode variar de 0,5 a 1,0% na MS dependendo do cultivar.
Em pequenas quantidades o GL não causa problemas, porém em grandes quantidades ou o consumo por tempo prolongado o GL pode causar lesões cardíacas e hepáticas em animais jovens.
O gossipol tem efeito anticoncepcional em animais reprodutores e, por isso, alguns pesquisadores recomendam a não utilização de derivados de algodão em dietas de reprodutores machos. Pesquisas mostraram que reprodutores que consumiram durante dois meses um nível de GL de 0,1% na MS, tiveram azoospermia (ausência de espermatozoide no sêmen), ou tiveram alterações na morfologia dos espermatozoides.
A maioria dos problemas causados pelo gossipol podem ser reduzidos quando a dieta é rica em cálcio, pois ele é capaz de neutralizar o gossipol.
Como fornecer
O caroço de algodão contém muito óleo, segundo Hopkins e associados, deve ser fornecido na dieta de vacas um valor entre 2-4kg de MS/vaca/dia, esses limites estão relacionados a o elevado valor de gordura no caroço, cerca de 18-20% da MS. É recomendado não fornecer mais do que 700 g/vaca/dia de óleo proveniente de fontes vegetais, pois o excesso pode causar uma intoxicação na microbiota ruminal, diminuindo a digestibilidade da fibra e da energia da dieta, além de causar diarréia no animal.
A inclusão do caroço de algodão na dieta deve ser feita gradualmente, para que ocorra uma adaptação tanto do animal quanto da microbiota ruminal.
O caroço deve ser fornecido inteiro para que ele possa estimular a ruminação e permitir que o óleo seja liberado lentamente à medida que a ruminação ocorre, diminuindo os danos a microbiota intestinal, o que faz com que o caroço ganhe destaque em comparação a outras fontes de óleo.
Para um bom funcionamento do rúmen e para a saúde do animal, a presença de fibras na dieta é fundamental. Recomenda-se um mínimo de fibra na dieta de vacas em lactação para que não ocorra redução no teor de gordura do leite, esse pode ser um problema quando se trata de vacas de alta produção que necessitam de altos valores de concentrados para suprir todas as outras necessidades do animal. O caroço de algodão pode ter um papel fundamental para esses animais, pois fornece um bom valor de fibra (algumas partículas do algodão que ficam aderidas ao caroço – figura 1), energia através do óleo presente na semente e também proteína.
Figura 1 Caroço de algodão com fibras aderidas
Alguns caroços escapam da fermentação ruminal e sofrem a digestão no intestino, fazendo com que o óleo seja liberado nesse órgão, esse óleo pode ser incorporado ao leite melhorando a composição do mesmo. Alguns estudos mostraram que animais que receberam um teor de caroço na dieta acima de 15-20% tiveram um maior teor de gordura no leite, porém houve uma diminuição no teor de proteína.
Armazenagem do caroço de algodão
O caroço de boa qualidade deve ser firme, limpo, com odor característico, livre de substâncias estranhas e com coloração entre branco e cinza claro. Após a colheita ele deve ser armazenado em local seco e fresco, pois o excesso de umidade faz com que ocorra um aquecimento dos caroços fazendo com que eles fiquem escuros, o que indica uma perda na qualidade do mesmo, pois ele se torna menos digestível, o valor de proteína diminui, e pode ocorrer a rancificação das gorduras na semente.
Os cuidados devem ser os mesmos na propriedade, os sacos devem ficar em locais secos e bem ventilados, em cima de estrados e protegidos da luz solar direta. Deve-se evitar também o amontoamento, sempre deixando espaços para a passagem de ar, a fim de evitar o aumento da temperatura e umidade dos caroços (figura 2).
Figura 2 Armazenamento dos caroços de algodão
O caroço de algodão apresenta ótimos índices de gordura, fibras e proteína, além de preço competitivo, vem sendo muito utilizado em granjas leiteiras, com ótimos resultados em termos de custos de produção e desempenho dos animais.
Portanto o uso do caroço deve ser feito com atenção e cuidado, pois o excesso dele na dieta pode causar problemas no animal e no leite. Também se deve observar a estocagem do caroço na propriedade para que não ocorra a perda de qualidade do alimento.
3 Comments
o cobsumo do algodao pode vir a dar gosto no leite
Ótimo artigo, temos caroço de algodão para venda.
BOA NOITE. ACESSEI ESTE SITE PARA VERIFICAR SE O CAROÇO DE ALGODÃO É ABORTIVO PARA VACAS PARIDEIRAS. MUITO OBRIGADO