Giane Lima Nepomuceno
Universidade Federal de Lavras – 3rlab
Leitões nascidos em grandes leitegadas tendem a serem menos pesados do que leitões em leitegadas pequenas. Com vários estudos em melhoramento genético, seleções de linhagem conseguiram aumentar em grande escala o número de leitões nascidos, mas, surgiram alguns problemas como leitões muito leves, desuniformização da leitegada e falta de tetos para leitões excedentes. Outro fator importante está ligado à viabilidade e vitalidade dos leitões menos favorecidos, em virtude do baixo peso ao nascer. Ao mesmo tempo em que nascem mais leitões, muitos acabam morrendo durante a fase de lactação, principalmente durante os primeiros dias de vida.
Estratégias para melhorar o desempenho dos leitões na maternidade foram estudadas, como a transferência cruzada de leitões, com o objetivo de melhorar o desempenho e reduzir a mortalidade e desuniformidade dos leitões. Esse manejo consiste em transferir leitões entre leitegadas, visando equalizar o número de leitões de acordo com a capacidade mamária da porca e reduzir a variação de peso entre eles (figura 1). Foram observados uma redução de 13,4 para 6,7% na mortalidade pré- desmame com a uniformização dos animais e um efeito favorável também no desempenho, sendo que os leitões leves ao nascimento (< 800 g) apresentaram 62,5% de mortalidade quando não foram uniformizados em relação a 15,4% nos animais uniformizados.
Figura 1 – Leitegada uniformizada
Estudos avaliaram a uniformização dos leitões pequenos (1,03 kg) com animais médios (1,24 kg) ou grandes (1,67 kg) em leitegadas com 8 a 9 leitões e 11 a 12 leitões. Os leitões que foram alocados em leitegadas maiores tiveram um ganho de peso 7,23% inferior e leitões pequenos e apresentaram maior mortalidade quando foram alocados com leitões pesados na mesma leitegada. Os leitões pequenos brigaram mais com leitões médios e tiveram uma tendência de redução de desempenho em relação aos que permaneceram com animais grandes. Os autores sugeriram que devido ao aumento de brigas os leitões pequenos perderam mais mamadas e que a presença de animais maiores estimulou mais a fêmea a produzir leite. Observaram que leitões médios ganharam menos peso quando foram alocados com leitões pesados na leitegada do que quando estavam com leitões pequenos.
Em relação à uniformidade ao desmame, observaram em leitegada com aproximadamente 8 e 11 leitões que a variação de peso ao desmame diminuiu (22%) com alta variação de peso inicial (26%) e que em leitegadas uniformes no início da lactação (7,5%) a variação de peso chegou a dobrar ao desmame (14,5%), não houve alteração de comportamento de competição e redução na mortalidade pré-desmame. Outros autores relataram que os animais transferidos apresentaram menor ganho de peso e menor peso aos 18 dias de idade independente do peso ao nascer. Os autores explicam que os leitões transferidos têm que competir pelos tetos já estabelecidos, o estabelecimento de tetos específicos pelos leitões já ocorre antes do último leitão nascer (figura 2). Houve uma interação entre a transferência cruzada e o peso ao nascer, onde os leitões mais pesados ao nascer sofreram maior efeito negativo da transferência sobre o desempenho do que os leitões menores.
Figura 2 – Competição por tetos.
A transferência cruzada deve ter como objetivo principal reduzir a mortalidade e evitar restrições severas de alimento, e deve ser realizada com o ajuste da relação número de leitões e glândulas mamárias funcionais da porca para permitir a máxima produção de leite pela porca. Ao realizar esse manejo, deve-se procurar transferir o mínimo possível de animais e escolher os mais distantes do peso da leitegada de origem e colocar na leitegada de destino animais com peso próximo à média da leitegada. É importante observar que este manejo, devido a definição dos tetos, deve ser realizado preferencialmente nas primeiras 24 horas após o nascimento.
Com a finalidade de superar a limitação da alimentação natural, o comedouro seletivo para leitões (creep feeding) durante o aleitamento seria o fornecimento de alimento suplementar ao leite exclusivo para os leitões. É uma estratégia interessante visando reduzir a mortalidade na maternidade, superar a situações em que a porca não atende a demanda de leite dos leitões e evitar escore corporal excessivo da porca. Os alimentos fornecidos podem ser líquidos ou sólidos, sendo que podem variar em relação à composição das matérias prima, níveis nutricionais e porcentagem de inclusão de água.
Em conclusão, a uniformização de leitegadas é um manejo indispensável em granjas tecnificadas de suínos, principalmente com as atuais fêmeas hiperprolíficas. Esse manejo tem por objetivo aperfeiçoar o desempenho e a viabilidade dos leitões, mas o sucesso depende da maneira como é realizado. Uniformização entre 6 – 24h após o nascimento, para garantir proteção aos leitões contra patógenos mediante transferência passiva de imunidade humoral e celular. Observar número de tetos viáveis anterior à uniformização para evitar disputas de tetos, refugagem e morte de leitões. Menor número ou tamanho de leitões em primíparas para garantir desempenho dos leitões e evitar perdas corporais excessivas nas fêmeas. Transferir no máximo 20%, atenuar a disseminação de patógenos e incidência de doenças. Uniformizar leitões leves com leves ou médios, para garantir melhor viabilidade aos leitões leves.