As silagens de milho do estado do Rio Grande do Sul são as silagens mais completas analisadas até o momento (Tabela 1). Como podemos observar são silagens que possuem quantidade interessante de amido (média 34), com baixa fibra (média 43) e com fibra de qualidade (TTNDFD e digestibilidade em 24, 30 e 48 horas mais próximos da silagem americana). Até mesmo a matéria seca da silagem gaúcha é semelhante à matéria seca média da silagem americana. Esta observação, de qualidade de silagem, cria uma grande oportunidade para os nutricionistas do estado utilizarem dietas com mais forragens em dietas de vacas leiteiras. Mas uma silagem com 35% de amido é melhor do que uma silagem com 25% de amido?
Esta pergunta precisa ser compreendida pelos nutricionistas para entenderem o poder da resposta. Por que eu preciso medir amido em uma silagem de milho? Em uma dieta com milho moído, farelo de soja e silagem de milho o amido proveniente da silagem pode compreender metade do amido da dieta! Considerando uma vaca consumindo 20 kg de matéria seca com 25% da dieta sendo amido, este animal esta consumindo 5 kg de amido, 2,5kg foram produzidos na fazenda. Portanto, quanto mais amido conseguirmos produzir na fazenda menos amido precisamos comprar. Perfeito, agora precisamos entender que o amido precisa estar disponível para a vaca.
Como podemos nos assegurar que o amido da silagem de milho estará disponível para o animal? Está muito claro que para ser utilizado, o grão da silagem de milho precisa ser processado, caso contrário iremos ter uma maior quantidade de amido nas fezes. Portanto, uma silagem de milho com 35% de amido é melhor do que uma silagem com 25% de amido? Depende do grau de processamento. Se a silagem de milho com 25% de amido estiver mais processada ela pode ser melhor. Como podemos medir? Existe uma técnica chamada KPS (grau de processamento da silagem de milho). Esta técnica consiste em avaliar qual a quantidade de amido que está abaixo da peneira de 4.75 mm, ou seja, qual a porcentagem de amido da silagem que esta abaixo da peneira de 4,75 mm (mais danificado). Quanto maior melhor. Como exemplo, temos uma silagem com KPS ruim (A) ou excelente (B), utilizando a mesma silagem (Tabela 2). No caso prático de fazenda, seria a mesma silagem produzida, somente teríamos uma silagem mal processada (A) ou uma silagem bem processada (B). Importante, não estamos avaliando tamanho de partícula e sim processamento do grão de milho da silagem. Como podemos observar temos exatamente a mesma dieta oferecida para o animal (10 kg de silagem de milho, 7 kg de milho moído e 3 kg de farelo de soja). Entretanto, substituímos uma silagem com grão mal processado por uma silagem com grão bem processado. Tivemos uma estimativa de resposta de aproximadamente 4 kg de leite. São 4 quilos de leite a mais na fazenda utilizando os mesmos ingredientes! E o mais importante: mais leite com o mesmo custo, pois todos os ingredientes são iguais. Isto proporciona um maior retorno para o produtor (RSCA).
O amido é um polissacarídeo de moléculas de glicose. Isto significa que várias moléculas de glicose são ligadas e formam correntes, isto de uma maneira bem simples é o amido. Entretanto, este amido precisa de tempo para ser utilizado pelos microorganismos no rúmen. Quando o tempo não é suficiente podemos medir o mesmo nas fezes. Quais as causas de falta de tempo para utilização no rúmen? A principal causa é mau processamento. Mau processamento significa que a bactéria precisa primeiro fermentar o pericarpo do grão para depois chegar ao amido. Para fermentar o pericarpo a bactéria irá ficar “grudada” no mesmo e se não conseguir quebrar o pericarpo dentro do rúmen os dois aparecerão nas fezes. Exatamente por este motivo que um grão mal processado resulta em menos leite do que um grão bem processado, a diferença é a quantidade de bactéria que pode ser produzida. Podemos concluir que amido é um nutriente extremamente necessário para a produção de leite. Muitos nutricionistas americanos sugerem que 25% da dieta precisa ser amido, ou seja, 1/4 do que a vaca esta consumindo é amido. Continuaremos a discutir a importância do correto processamento do amido como também o nível recomendado para máxima eficiência de produção de leite no próximo artigo.
Tabela 1 – Composição Nutricional de silagem de milho do Estado do Rio Grande do Sul.
Mínimo | Média | Máximo | EUA | |
MS | 28 | 38 | 49 | 38 |
CNF | 35 | 44 | 54 | 43 |
Amido | 24 | 34 | 44 | 31 |
FDN | 33 | 43 | 53 | 44 |
kd do FDN, %/hr | 2,5 | 3,4 | 4,2 | 3,9 |
TTNDFD, % | 31 | 40 | 50 | 44 |
Dig FDN 24 hrs, % | 0 | 12 | 25 | 20 |
Dig FDN 30 hrs, % | 10 | 21 | 33 | 28 |
Dig FDN 48 hrs, % | 26 | 40 | 54 | 47 |
Fontes: 3rlab e Rock River Lab.
EUA = média das análises realizadas nos nossos laboratórios em Wisconsin, Califórnia e Ohio.
Dados americanos e brasileiros de fevereiro a setembro de 2014.
Valores expressos em % da matéria seca quando unidade não estiver presente.
MS = Matéria Seca, CNF = Carboidratos Não Fibrosos, FDN = Fibra em detergente neutro, kd do FDN = velocidade de degradação do FDN, TTNDFD = Digestibilidade do FDN no trato grastro intestinal total, DIG FDN 24 hrs = Digestibilidade do FDN em 24 horas no rúmen, DIG FDN 30 hrs = Digestibilidade do FDN em 30 horas no rúmen, DIG FDN 48 hrs = Digestibilidade do FDN em 24 horas no rúmen.
Tabela 2 – Efeito do grau de processamento do grão da silagem de milho na produção de leite
Silagem milho A | Silagem milho B | |
Bem processada | Mal
Processada |
|
Silagem de milho | 10 | 10 |
Milho moído | 7 | 7 |
Farelo de soja | 3 | 3 |
KPS | 45 | 75 |
Leite (l/d) * | 27 | 31 |
Custo vaca/dia, R$/dia | 12,65 | 12,65 |
RSCA, R$/dia | 14,41 | 17,07 |
Dados para simulação: Vaca de 600 kg, 90 DEL, 3,5% gordura, CNCPS 6.1/AMTS
KPS = grão de processamento do grão da silagem de milho
Ingredientes em kg de MS.
Leite (l/d) * = estimativa de produção de acordo com o processamento do grão da silagem de milho (KPS).