Pedro Felipe Martins da Silva UFLA-3rlab
O milho segunda safra ou mais comumente chamado de milho safrinha, é o milho plantado após a colheita da primeira safra. No Brasil geralmente a primeira safra a ser cultivada é da cultura da soja e em seguida o milho é semeado, no entanto, também pode-se trabalhar com a possibilidade de realizar a primeira safra de feijão (conhecido como feijão das águas) e em sucessão procede-se o plantio do milho.
A safrinha começou a ser praticada inicialmente na safra de 1978/1979 após a colheita da soja, no entanto a partir de 1980 o cultivo começou a ganhar grande importância econômica principalmente no estado do Paraná. Em decorrência da falta de informações prévias sobre o cultivo, as primeiras safras apresentavam baixas produtividades quando comparadas com as lavouras plantadas no início da época chuvosa. Em virtude de pesquisas a respeito do assunto e o contínuo interesse de produtores em realizar a safrinha houve grandes avanços no que diz respeito ao aumento de produtividade, como forma de constatação em 2009 a safrinha apresentou maior produtividade média quando comparado ao milho de primeira safra, cerca de 9,5% de incremento de produtividade.
Atualmente a safrinha do milho se popularizou nos estados do Paraná, São Paulo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais e representa uma boa opção de maximização do uso da terra nas grandes regiões produtoras. Geralmente é semeado entre os meses de janeiro e março. Atualmente a área de safrinha de milho já supera a área plantada de milho de primeira safra, na região Centro-Oeste aproximadamente 70% do milho produzido é oriundo dessa segunda safra, em estados como o Mato Grosso (segundo maior produtor de milho do Brasil) a safrinha contribui com aproximadamente 92,7% da produção total de milho do estado.
Apesar das vantagens de se realizar a safrinha, é evidente que o plantio apresenta algumas limitações, principalmente relacionadas a possível restrição de água, tendo em vista que a semeadura ocorre no fim do período das chuvas em grande parte das regiões e ocorre em certos anos perdas de produtividade em decorrência desse problema.
Na atual safrinha está sendo observado em quase todas as regiões produtoras danos a lavoura em decorrência da escassez de chuva e das altas temperaturas que são atípicas para essa determinada época do ano. Segundo produtores as perdas podem alcançar até 40% em determinadas localidades, tornando assim a atividade inviável tendo em vista os altos custos de produção principalmente influenciados pelas seguidas pulverizações para tentar conter os severos ataques de lagartas e pulgões que são favorecidos pelo clima seco e quente.
Em Minas Gerais mais precisamente na região do triangulo mineiro onde estão localizadas maioria das áreas de milho safrinha do estado, as chuvas não ocorrem a aproximadamente a 40 dias, comprometendo em muito as lavouras que já estão em fase de floração. Segundo produtores a produtividade não deve ultrapassar 50 sacas por hectare, produção cerca de 58,3% menor do que a registrada no ano anterior.
Também é observado perdas nos estados do Paraná, São Paulo, Goiás, Mato Grosso do Sul e partes do Mato Grosso. Nesses estados o milho semeado em janeiro não teve seu desenvolvimento e produtividade comprometidos pela a falta de chuva, mas as lavouras semeadas a partir de fevereiro estão sendo severamente prejudicadas pois necessitam de água para realizar a polinização e posteriormente encher os grãos (figura 1).
Figura 1- Lavoura de milho severamente comprometida pela falta de chuva na região do sudoeste de Goiás.
Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), a queda da produção do milho para atual safra pode chegar a 2 milhões de toneladas, porém alguns especialistas e analistas, caso a situação não melhore dentro dos próximos dias a queda da produção pode chegar a 10 toneladas.
A seca no mês de abril coincidiu com o período de floração das plantas em muitas localidades, esse estágio da lavoura é considerado crítico quanto ao déficit hídrico e a ocorrência das altas temperaturas interferem na sincronização entre a produção de pólen e a emissão do estilo-estigma (boneca do milho). As altas temperaturas aliadas à ausência de precipitação são responsáveis por desidratar o estilo-estigma e ocasionar falhas na espiga (figura 2), causando perdas de produtividade.
Figura 2- Espiga com falas em detrimento do stress hídrico.
Diante da consequente quebra de produtividade da safrinha de milho em funções das condições climáticas atuais, fica claro que tal situação repercutirá no mercado, tendo em vista que o milho é o alimento básico para a elaboração de dietas para todos os animais. Em caso de baixa oferta no mercado poderá haver aumento considerável do preço pago ao produto podendo trazer certa dificuldade em administrar os custos de produção.