Rafael Achilles Marcelino
Universidade federal de Lavras – 3rlab
A utilização de plantas medicinais para melhorar as condições de saúde dos peixes criados em piscicultura é tema de pesquisas desenvolvidas por vários centros de pesquisas e universidades espalhadas em todo o Brasil mas principalmente na Amazônia. Plantas como cipóalho, cravo-da-índia e alfavaca, estão sendo testadas para desenvolvimento de tecnologias que melhorem a sustentabilidade ambiental da piscicultura. Essas tecnologias passam por testes para boas práticas de manejo, que possam prevenir danos à saúde humana e reduzir riscos ambientais na produçäo de pescado que muitas vezes utilizam produtos químicos que tanto são tóxicos ao homem como para o próprio ambiente do peixe, no caso rios, córregos e lagoas.
Anestésico natural
A proposta da utilização de plantas medicinais na piscicultura visa proporcionar alternativas naturais para substituir produtos químicos que tenham potencial tóxico. Um exemplo é o eugenol, substância encontrada no cravo-da-índia, testado em pesquisa como anestésico, para minimizar problemas no transporte de peixe,como por exemplo o tambaqui (figura 1) originário da Amazônia, que passou a ser cultivado em várias regiões do Brasil, principalmente por ter boa aceitação comercial. O transporte é um momento de extremo estresse para o animal pois ele está deixando um ambiente no qual já está acostumado para ir para outro totalmente diferente e muitas vezes o próprio veículo de transporte ou a estrada podem aumentar esses estresse sentido pelo animal, e por serem animais que sofrem muito com o estresse é muito importante um produto natural que diminua os problemas causados pelo transporte e também pela mudança de tanques.
Figura 1 – Tambaqui
Os efeitos medicinais do alho e do cipó-alho para a prevenção de doenças do tambaqui, quando criado em gaiolas, também são objeto de estudos. A pesquisadora da Embrapa Arnazônia Ocidental, Cheila Boijink, explica que a disseminação de problemas relacionados à saúde dos peixes nas estações de piscicultura está relacionada às quantidades e densidade mais elevadas de peixes do que as encontradas naturalmente nos rios e lagos. Nessas lagoas artificias ou taques (figura 2) em que os peixes são criados são muitos e em pouco espaço são mais afetados por microorganismos no caso parasitos oportunistas que causam grandes perdas econômicas pois diminuem crescimento e podem causar incluse a morte dos animais e, com isso, os produtores vêm aumentando o uso de produtos químicos para o controle e prevenção de doenças e muitos desse produtos são tóxicos a microflora do tanque, com o uso de produtos naturais esse impacto seria quase nulo ou bem menor que com o uso de produtos químicos.
Figura 2 – Tanque de criação de tambaqui
A preocupação com os riscos de intoxicação dos consumidores e com a poluição dos mananciais de água, motivou as pesquisas em busca de alternativas nas plantas medicinais. “A proposta de uso de produtos naturais com conhecida característica medicinal parece ser alternativa interessante para amenizar esses problemas, proporcionando ainda melhor qualidade do pescado, livre de produtos químicos”, afirma Cheila Boijink, pesquisadora da área de fisiologia e sanidade de peixes.
Outra vantagem na utilização desses produtos naturais é o menor risco ambiental e a redução de custos com a compra de medicamentos e aumento na renda gerada pelos animais. Pois com o aumento dos meios de comunicação e e das informações, cada vez mais as pessoas e principalmente, os mercados internacionais de peixes estão solicitando alimentos que não tiveram nenhum contato com produtos químicos e muitas vezes orgânicos, buscando alimentos mais saudáveis e com menor risco de problemas a saúde.
Projeto Aquabrasil
Esses estudos se integram a uma ampla rede de pesquisas com aquicultura, por meio do projeto Aquabrasil, que tem por objetivo gerar bases tecnológicas visando ao desenvolvimento sustentável da aquicultura nacional. A primeira etapa do projeto, coordenada pela Embrapa Pantanal, de Corumbá (MS), contou com mais de 90 pesquisadores de todas as regiões do país, 16 unidades da Embrapa além de várias universidades públicas e privadas, empresas de pesquisas federais e estaduais tanto nacionais como estrangeiras e institutos ligados as áreas de agricultura, aquicultura e meio ambiente.