No intuito de maximizar a mão-de-obra nas atividades cafeeiras, produtores e técnicos vem buscando alternativas de produção que visam minimizar os custos com a colheita e que garante bons índices de produtividade. Nessa lógica o sistema safra-zero demonstra ser uma alternativa de produção para aqueles cafeicultores que pretendem explorar ao máximo a capacidade produtiva do seu cafezal.
Por definição o sistema safra zero é caracterizado por podas cíclicas através de esqueletamento (para delimitar o tamanho dos ramos plagiotrópicos) e decote (para delimitar altura de planta), sendo que tais podas devem ser aplicadas ao cafezal a cada dois anos, afim de manter o porte da lavoura e excluir os custos de colheita em ano de carga baixa. No primeiro ano pós poda ocorre o desenvolvimento dos ramos produtivos e não há produção para este ano, no segundo ano pós poda ocorre a frutificação e a colheita.
Realização do esqueletamento
O esqueletamento por si só é o corte dos ramos laterais produtivos (ramos plagiotrópicos), que devem ser conduzidos na planta de maneira cônica, ou seja, os ramos laterais que estão na parte mais superior da planta serão cortados mais próximos do ramo ortotrópico (20 a 30 cm) e os ramos laterais que estejam na parte mais inferior serão cortados mais distantes do ramo ortotrópico aproximadamente entre 30 e 50 cm (figura 1).
Assim como toda operação desempenhada na lavoura, é necessário que haja certos critérios na operação, de maneira geral o esqueletamento é recomendado em situações em que se deseje abrir a lavoura quando as mesmas ficarem com espaçamento entre linhas fechadas, recuperar o vigor da lavoura, principalmente relacionadas à lavouras velhas (aumentado o número de ramos produtivos) e na recuperação de saias perdidas pelo sombreamento excessivo.
A época de realização da poda é outro fator de extrema importância para o sucesso da prática, recomenda-se que a operação deva ser feita logo após a colheita quando possível em meados de julho até setembro, a partir de setembro a poda é considerada tardia e o cafeeiro pouco se desenvolve afetando consequentemente a produtividade da próxima safra.
Em relação a frequência do esqueletamento devemos nos atentar em não esqueletar em anos em que a carga seja alta, a operação deve ser feita somente em anos em que a carga a ser colhida for baixa. No entanto antes da tomada de decisão é recomendado avaliar se aquela determinada lavoura tem a capacidade de responder bem a poda através de análises de solo e folha, devemos salientar que o esqueletamento por si só não é responsável pelo aumento de produtividade e pode ser considerado uma ferramenta para o aumento de produção por área, assim como um bom manejo nutricional e fitossanitário.
Figura 1– Lavoura recém esqueletada
Realização do decote
A poda por decote compreende o corte do ramo ortotrópico. Dependendo do tipo de sistema de condução empregado pode ser feito entre as alturas de 1,2m a 2,5m. Recomenda-se em lavouras mais adensadas o corte mais baixo dos ramos ortotrópicos a fim de proporcionar maior penetração de luz no cafezal, já em lavouras menos adensadas recomenda-se a altura de corte maior.
A realização deste tipo de poda é feita por maquinários específicos (figura 2) e quase sempre tal poda é feita junto com o esqueletamento. O decote em sua essência tem a finalidade de limitar a altura de plantas, desta forma facilitando a colheita (manual e mecânica), aumentando a eficiência das pulverizações e em casos de cafeicultura irrigada por pivô central tem se recomendado o decote a fim de evitar o contato entre as plantas e o dispositivo de irrigação (LEPA). A poda tipo decote também tem sido empregado em situações de morte de ponteiros como em secas e geadas de capote.
Figura 2– Decotadeira e esqueletadeira.
Adubações e controle fitossanitário pós- poda
Em alguns casos observa-se que após as podas produtores restringem as adubações e os cuidados fitossanitários com a lavoura. Devemos ressaltar que a poda por si só não resolve os problemas da lavoura e tão pouco é responsável por aumentar a produtividade. De acordo com a literatura recomenda-se 1º no ano pós poda adubar de acordo com as recomendações do 2º ano de plantio e a adubação do 2º ano pós poda deve ser recomendada de acordo com a previsão de safra. Em algumas situações o produtor tem a disponibilidade de triturar os restos de poda, nesses casos os restos culturais irão complementar a adubação, os teores de nutrientes disponíveis nesses restos serão inferidos através de análises químicas ou através de tabelas disponíveis na literatura.
Sabe-se que as podas são operações que abrem portas de entrada para doenças, na prática tem observado que maiores incidências de ataque de ferrugem, phoma e mancha aureolada, estão relacionadas as podas, portanto a aplicação de fungicidas protetores é uma operação obrigatória quando pensamos em safra-zero e adubações.
Diante de todos argumentos apresentados durante o nosso estudo, fica claro que o sistema safra –zero é uma tecnologia de fácil aplicação em todos os tipos de propriedades. No entanto devemos nos atentar a alguns cuidados como o modo de realização das podas e os manejos da fertilidade do solo e da sanidade da lavoura.