Certamente um dos grandes diferencias dos sistemas que permitem a utilização de uma forrageira de inverno é a produção de fibra de excelente qualidade. Este material é parte essencial (como pasto ou silagem ou pré-secado) para altas produções de leite. Mas por que fibra de qualidade já que sempre discutimos quantidade de fibra e muito raramente qualidade? Por que estes materiais são importantes para altas produções de leite? Vamos discutir alguns pontos que serão necessários para responder as perguntas acima.
Fibra (FDN) é uma fração do alimento consumido pela vaca responsável por limitar quantidade que o animal consome. Portanto, uma vaca A consumindo 7 kg de FDN tem maior ingestão do que uma vaca (B) consumindo 9 kg de FDN, como consequência a vaca A irá produzir mais leite, correto? Incorreto. Este é um ponto que precisamos entender para responder as perguntas acima. Vamos discutir um segundo exemplo para poder entender o primeiro exemplo. Uma vaca (A) consumindo uma dieta com 16,5% de proteína bruta (PB) irá produzir mais leite que uma vaca (B) que esta consumindo uma dieta com 15% de PB porque a dieta com mais proteína tem um NDT maior, correto? Incorreto. Assim como no caso do FDN, a PB é composta de subunidades (aminoácidos, peptídeos, amônia) e cada parte da PB é responsável pelo aumento da produção de leite, não a soma dos constituintes. No exemplo da proteína a dieta com menor PB pode ter mais aminoácidos e produzir mais leite. Assim como a dieta com mais PB pode ter também mais uréia, que não ajuda aumentar a produção de leite se a mesma estiver em excesso. Portanto fica muito claro que precisamos entender “do que são feitos” os nutrientes que estamos alimentando o animal.
Qual a maneira técnica para avaliar a composição ou “do que são feitos” os nutrientes? Análise dos constituintes ou digestibilidade dos nutrientes. Portanto, no caso do FDN, temos que entender qual a digestibilidade do mesmo. A vaca B consumindo 9 kg de FDN pode estar consumindo um material com digestibilidade maior do que a vaca A que estava consumindo somente 7 kg de FDN. Desta maneira a vaca B irá consumir mais. Portanto aprendemos que a qualidade do FDN, ou em termos técnicos, a digestibilidade, tem impacto direto na quantidade de alimento ingerido pelo animal. Quanto melhor a qualidade, maior o consumo. Como também já sabemos, um animal que consome mais tem maior chance de produzir mais leite. Desta maneira podemos concluir que digestibilidade do FDN é sim, causa, e muito importante, para altas produções de leite. Agora que entendemos os pontos importantes vamos discutir a qualidade do azevém durante os principais meses de utilização do mesmo.
Podemos observar na tabela 1 que a quantidade de proteína bruta é um fator importante. O azevém possui uma grande quantidade, e como podemos observar relativamente constante, e com metade da proteína sendo de degradação rápida (solúvel). Quando observamos a quantidade de fibra (FDN), este se assemelha muito com capins de verão. Entretanto, quando observamos a qualidade da fibra, esta se torna imbatível. As maiores digestibilidades de forragens analisadas até o momento. Desta maneira podemos entender porque é pratica comum a utilização de um pré-secado deste material em adição à silagem de milho para altas produções de leite. O papel do pré-secado nestas situações é substituir fibra de baixa qualidade da silagem de milho, aumentando o consumo do animal e como consequência a produção de leite.
Interessante notar que mesmo com variações durantes os meses de junho a novembro, a qualidade do azevém é muito superior às outras fontes de forragens disponíveis. Como comparação vamos utilizar o TTNDFD. Na média podemos dizer que metade do FDN do azevém será utilizada pela vaca (TTNDFD de 50%) e o restante será excretado como fezes. Média do TTNDFD da silagem de milho é menor que 40%, para cana de açúcar menor que 20%. Portanto, com material que apresenta qualidade de fibra, nós estamos buscando materiais com alta quantidade de FDN. É um conceito novo, mas que encaixa no metabolismo no animal.
Tabela 1 – Variação da qualidade nutricional de pastos de azevém no Brasil.
Junho | Julho | Agosto | Setembro | Outubro | Novembro | |
PB, %MS | 7 | 12 | 13 | 19 | 16 | 19 |
PS, %PB | 8 | 50 | 47 | 43 | 35 | 37 |
FDN, %MS | 68 | 70 | 62 | 55 | 57 | 55 |
FDN, 24 hrs | 25 | 22 | 28 | 26 | 35 | 46 |
FDN, 30 hrs | 35 | 30 | 37 | 34 | 41 | 55 |
FDN, 48 hrs | 48 | 50 | 58 | 55 | 59 | 67 |
Kd do FDN | 3,7 | 4,7 | 4,8 | 5,2 | 5,5 | 6,5 |
TTNDFD | 40 | 51 | 51 | 50 | 49 | 58 |
PB = proteína bruta, PS = proteína solúvel, FDN = Fibra em detergente neutro, kd do FDN = velocidade de degradação do FDN, TTNDFD = Digestibilidade do FDN no trato grastro intestinal total, DIG FDN 24 hrs = Digestibilidade do FDN em 24 horas no rúmen, DIG FDN 30 hrs = Digestibilidade do FDN em 30 horas no rúmen, DIG FDN 48 hrs = Digestibilidade do FDN em 48 horas no rúmen.