Durante boa parte da história, o sistema de cultivo adotado no país, especialmente na região do Cerrado, foi ligado ao extrativismo. Basicamente se fazia a queimada sobre a vegetação nativa e posteriormente o plantio de uma monocultura. Era plantado a mesma cultura em anos agrícolas consecutivos. Essa prática se repetia por muito tempo até esgotar os nutrientes do solo, ou seja, até a saturação do mesmo. Consequentemente, gerando perdas significativas na produtividade.
Com a Revolução Verde, surgiram novas técnicas e maneiras de plantar, ”derrubando’’ assim o vigente extrativismo e aumentando significativamente a produtividade agrícola. E países, especialmente os subdesenvolvidos, passaram a serem grandes fornecedores globais de alimentos, sendo o Brasil o principal deles. A FAO-ONU estima que a população mundial alcance os nove bilhões de habitantes até 2050, e para a segurança alimentar, é necessário que o Brasil aumente sua produção alimentícia em 40%. Portanto, para que isso ocorra é fundamental o aumento da produtividade através de novas tecnologias e não por meio da abertura de novas áreas.
Entretanto, um grande entrave na atualidade, para o aumento da produtividade pode ser considerado: o grande número de áreas cultivadas utilizando do sistema de monoculturas.
Neste contexto, o uso contínuo do sistema monocultor e do sistema de sucessão, ou seja, o plantio de culturas distintas em estações diferentes, porém dentro da mesma propriedade e mesmo ano agrícola. Acarretarão na degradação das características físicas, químicas e biológicas do solo e consequentemente na queda da produtividade das culturas de interesse econômico. Vale ressaltar também que essas práticas geram um ambiente propicio ao surgimento e desenvolvimento de pragas e doenças.
No entanto, para a diminuição dos problemas do monocultivo, e aumento no fornecimento de alimentos, é fundamental o plantio de outras espécies dentro da mesma propriedade, ou seja, a implantação do sistema de rotação de culturas, que torna, ao longo do tempo, o agronegócio altamente produtivo, rentável e ambientalmente sustentável. Esse sistema é conceituado como uma técnica agrícola que consiste na alternância planejada do cultivo de diferentes espécies vegetais em um determinado período sobre uma mesma área (Figura 1).
Figura 1 – Exemplo de rotação de culturas bastante utilizado no Paraná.
Nesse sistema, basicamente o agricultor não deve plantar na mesma área, em anos agrícolas seguidos, a mesma cultura. Pois, como é a mesma espécie botânica possuem exigências nutricionais e sistemas radiculares iguais irão “explorar” o solo da mesma maneira e intensidade, ocasionando saturação e consequentemente maiores gastos para o produtor com correção de solos, ou seja, suprir deficiências nutricionais, adequação de pH e entre outros problemas.
Para se obter um bom desempenho e produtividade do sistema é essencial a divisão da propriedade em glebas, reservando pelo menos uma por ano para o cultivo de plantas de cobertura, tais como: mucunas, aveia preta, nabo forrageiro, crotalárias, girassol, feijão de porco, feijão guandu (prática conhecida como adubação verde), e as demais destinadas ao plantio de culturas comerciais, exemplos: aveia preta+nabo/milho, aveia branca/soja, milho safrinha/soja etrigo/soja. O uso desta prática gera enormes benefícios para o solo, como por exemplo: elevada produção de massa verde (biomassa), grande quantidade de nitrogênio fixado ao solo (através da simbiose com bactérias), solubilização de fertilizantes minerais, ciclagem de nutrientes, diminuição de ervas daninhas, produção de palhada e entre outros.
O agricultor deve iniciar de maneira gradativa o processo de implantação do sistema para não gerar transtornos organizacionais ou econômicos. Para isso, deve-se iniciar em uma menor parte da propriedade e ir anexando novas áreas até que todo seu terreno esteja dentro do sistema de rotação. Entretanto, não basta apenas implantar a técnica e conduzir a sequência de culturas, é fundamental que se utilize de todas as demais tecnologias e tratos culturais à sua disposição, dentre as quais podem ser citadas: controle de erosão, calagem, adubação orgânica e mineral, adubação foliar, tratamento de sementes, cultivares adaptados, controle de ervas daninhas, manejo integrado de pragas e doenças, análises foliares, análise de solos e entre outras. Portanto, o planejamento é fundamental, uma vez que as tecnologias devem ser utilizadas em sincronia.
No que se refere à parte econômica, oprodutor deve-se atentar para a escolha da sua “cabeça de rotação”, ou seja, qual cultura irá ocupar maior área de plantio ou irá gerar maior rendimento bruto. No Brasil, segundo maior país produtor de grãos do mundo, a soja tem sido escolhida em maior parte como cabeça de rotaçãoe plantada em maior área, ocupando cerca de 31.573 milhões de hectares no total. Sendo assim, o produtor deve fazer uma análise de viabilidade econômica, atentando-se aos preços de mercado, custos de produção, analisar as condições ambientais e adaptação das culturas/cultivares e entre outros fatores necessários para uma escolha adequada das espécies a serem implantadas no sistema.
De acordo com o gráfico abaixo (Figura 2) é possível concluir-que nos sistemas de rotação a produtividade foi maior quando comparado ao sistema de sucessão. Na utilização da rotação, no caso utilizou-se: tremoço/milho no ano um, aveia/soja no ano dois e trigo/soja no ano três. Já na sucessão utilizou-se apenas trigo/soja durante o mesmo período. É significativa a diferença observada em valores de produtividade entre os sistemas, principalmente quando se compara os números obtidos com trigo/soja em rotação, no ano três e o plantio das mesmas culturas em sucessão, gerando uma diferença de aproximadamente 500 kg/ha, algo em torno de 7-8 sacas de 60 kg.
Figura 2 – Gráfico comparativo de produtividade entre o sistema de rotação e o sistema de sucessão.
Outros estudos, realizados principalmente pela EMBRAPA Soja, relacionados a combinações de rotação milho/soja/adubo verde, também constataram aumento significativo na produtividade dos cereais quando comparados ao sistema monocultor. Estes estudos também comprovaram a importância desta técnica, por meio da alternância das culturas, na redução da população de pragas e doenças. Obteve-se grande diminuição na população do tamanduá da soja (Sternechus subsignatus), uma das pragas mais destrutivas dessa cultura, graças a alternância com o milho, devido a esse inseto não atacar gramíneas. Cabe ressaltar também um trabalho realizado pela FUNDACEP, em Cruz Alta, RS, no qual se utilizou soja na rotação com milho (Figura 3) e se obteve uma diferença expressiva quando comparado a monocultura.
Figura 3- Culturas de milho e soja utilizadas em sistema de rotação.
São muitas as vantagens do sistema de rotação de culturas. Além de proporcionar produção variada de alimentos e consequentemente não deixar o agricultor preso ao preço de mercado, ou seja, dependente da cotação de uma única commodity. Essa prática se adotada de maneira adequada e manejada de maneira eficiente a médio e longo prazo traz, por exemplo, algumas das vantagens:
- Maior teor de matéria orgânica do solo;
- Proteção da camada superficial do solo;
- Menores perdas de umidade do solo por evaporação;
- Ciclagem de nutrientes das camadas profundas para as camadas superficiais;
- Redução da população de ervas daninhas, através da alelopatia e/ou supressão;
- Melhoria das propriedades físicas, químicas e biológicas do solo;
- Melhor controle de pragas e doenças;
- Grande aporte de nitrogênio incorporado ao solo, através da simbiose entre as raízes das leguminosas e bactérias;
- Menores custos com adubação e correção de solos;
- Viabilização do sistema de plantio direto (SPD);
- Aumento da produtividade das culturas econômicas;
Portanto, é importante o planejamento do produtor para que se possa