Gabriel Castillo
Universidade Federal de Lavras-3rlab
Entende-se por adubação verde a utilização de plantas, principalmente leguminosas e gramíneas em rotação, sucessão ou consorciação (figura 1) com as culturas comerciais, incorporando-as ou deixando-as sobre a superfície do solo, visando a proteção superficial (cobertura) bem como a manutenção e melhoria da capacidade produtiva do solo.
A adubação verde é uma prática agrícola utilizada há mais de 2.000 anos por chineses, gregos e romanos. É uma técnica comprovada por pesquisas que recupera os solos degradados pelo cultivo, melhora os solos naturalmente pobres e conserva aqueles que são produtivos. No Brasil, os primeiros estudos dessa técnica agrícola foram realizados no Instituto Agronômico (IAC), no estado de São Paulo, e foram obtidos resultados muito positivos em que os benefícios da técnica foi evidente.
Figura 1- Mucuna anã (adubo verde) em consórcio com milho.
Benefícios da adubação verde
A utilização da adubação verde pode ser considerada de maneira incontestável como uma prática agrícola sustentável, uma vez que fornece inúmeros benefícios à cultura principal e ao solo de maneira geral e consequentemente aumenta a produtividade e diminui os custos com insumos. Dessa maneira, essa técnica possui inúmeros benefícios dentre os quais podem ser destacados:
- Funciona como cobertura do solo protegendo-o da radiação solar, bem como dos agentes erosivos;
- Descompactação, aeração, estruturação e reciclagem de nutrientes, uma vez que possuem sistema radicular vigoroso e em profundidade são capazes de aumentar a taxa de infiltração e retenção de água no solo bem como reciclar nutrientes lixiviados em profundidades e pouco solúveis;
- Redução na população de plantas daninhas por efeitos de supressão e/ou alelopatia;
- Incorporação de nitrogênio da atmosfera ao solo (tabela 1) devido à fixação com bactérias (FBN) que vivem em associação com os nódulos radiculares das leguminosas;
- Melhora na eficiência de fertilizantes minerais uma vez que as raízes liberam ácidos orgânicos que ajudam na solubilização de minerais, principalmente do fósforo;
- Aumenta os teores de matéria orgânica no solo através da produção de fitomassa;
- Algumas espécies possuem capacidade de controlar nematoides.
Figura 1- Tabela apresentando quantidade de nitrogênio total fixado ao solo pela adubação verde.
Espécies recomendadas
A escolha da espécie de adubo verde a ser utilizada no sistema de produção é extremamente importante. Esta deve apresentar características interessantes que devem ser analisadas de acordo com o principal objetivo: melhorar a capacidade produtiva do solo. A espécie a ser escolhida deve apresentar algumas características, sendo estas: concorrer minimamente em luz, água e nutrientes com a espécie comercial cultivada, visando manter a produtividade alta; ser capaz de se adaptar às condições de fertilidade das terras, objetivando potencializar a produção de massa vegetal; a espécie escolhida não deve ser da mesma família das espécies econômicas que o produtor normalmente cultiva dificultando a disseminação de pragas e doenças; possuir crescimento rápido; grande produção de fitomassa; capacidade de realizar fixação biológica de nitrogênio (FBN); bom desenvolvimento radicular; resistência a pragas e doenças; facilidade na obtenção das sementes; capacidade de reciclar nutrientes e se possível produzir diretamente receita ao produtor.
A família das leguminosas têm sido a mais utilizada na adubação verde devido a sua capacidade de se associar com as bactérias dos gêneros Rhizobium e Bradyrhizobium que fixam o N atmosférico, somado a isso algumas de suas espécies, em especial algumas crotalárias possuem como característica secundária o controle de nematoides. Além disso, a palhada das leguminosas apresenta maior teor de nitrogênio quando comparada as demais espécies, possibilitando uma decomposição mais rápida e maior disponibilização de nutrientes para planta devido a sua menor relação carbono/nitrogênio. Exemplos de leguminosas utilizadas como adubo verde: feijão de porco, feijão guandú, ervilhaca, crotalárias, mucuna preta, lab lab e entre outros.
A família das gramíneas ainda pouco utilizadas dentro dessa prática merecem atenção. Essas acumulam elevadas quantidades de matéria verde, mesmo quando submetidas a um solo de baixa fertilidade. Apresentam um bom desenvolvimento radicular superficial o que favorece a atividade dos microorganismos. Além disso, as gramíneas possuem uma decomposição mais lenta no solo, gerando uma cobertura residual mais estável e aumentando o período de residência da matéria orgânica no solo. Entretanto, como principal desvantagem essa espécie se propaga vegetativamente, podendo em poucos anos se estabelecer na área e competir diretamente por água, luz e nutrientes com as culturas comerciais, gerando perdas significativas na produtividade. Exemplos de gramíneas utilizadas como adubo verde: aveia, milheto, capim Tanzânia, capim Mombaça e entre outros.
Algumas espécies pertencentes a outras famílias botânicas também têm sido utilizadas na adubação verde. É o caso do nabo forrageiro e girassol, por exemplo. Entretanto, essas espécies têm se mostrado bastante exigentes com relação a fertilidade do solo o que torna um entrave na sua utilização.
Na decisão da escolha do adubo verde a ser utilizado o produtor deve atentar-se a outros fatores determinantes no bom funcionamento do sistema, são eles: manejo, topografia, altitude, tipo de solo e disponibilidade de água para irrigação. O bom manejo se torna essencial, uma vez que se realizado de maneira deficiente pode ocasionar em competição do adubo verde com as culturas comerciais. Além disso, ao longo dos anos é importante a observação, através de análises das condições físicas, químicas e biológicas do solo, uma vez que a utilização dessa prática não supre em 100% as necessidades do sistema de produção.
Diante disso, a utilização da adubação verde torna-se um elo interessante na construção de uma produção agrícola sustentável uma vez que diminui consideravelmente os custos com insumos, principalmente os adubos nitrogenados e aumenta a capacidade produtiva do sistema em geral, possibilitando maiores produtividades e consequente maior lucro ao agricultor.