Cristiane Andrade Pinto
Universidade federal de Lavras – 3lab
Trigo é uma cultura que responde ao incremento tecnológico na quantidade de água aplicada durante o ciclo. O rendimento médio das culturas irrigadas chega a ser três vezes maior que nas culturas de sequeiro. O estádio de enchimento de grão tem sido relatado como de maior sensibilidade a esse estresse, na figura 1 é mostrado uma parcela de trigo submetida a estresse hídrico. Na cultura de trigo safrinha, a necessidade de água também se faz sentir no período de estabelecimento da cultura, sem a qual dificilmente se consegue estande adequado de plantas nas lavouras. Na região do Cerrado, esta cultura pode sofrer estresse hídrico principalmente nos estádios iniciais de estabelecimento até o perfilhamento, pela ocorrência de veranicos e nos estádios finais, pelo término do período de chuva com a chegada da estação seca.
Figura 1: Genótipo de trigo (PF 23201A) sensível ao estresse hídrico.
Estratégias de melhoramento para resistência a seca vem sendo parte integrante do melhoramento genético da maioria das culturas cultivadas em sistemas de sequeiro. A resistência à seca é um fenômeno complexo que envolve o escape e a tolerância à seca. Os métodos convencionais de melhoramento têm utilizado como critério de seleção, principalmente a produção ou caracteres secundários altamente ligados à produção ou sob condições de estresse. Esse procedimento tem originado cultivares com melhor adaptação e performance em ambientes de estresse, mas o progresso tem sido lento por causa da integração genótipo x ambiente, uma vez que há considerável variação na ocorrência e intensidade do estresse hídrico tanto em campo, quanto em condições controladas.
Muitos caracteres morfológicos, fisiológicos e bioquímicos estão relacionados com tolerância à seca em trigo, mas nem todos os caracteres são apropriados para seleção em qualquer ambiente. Acessos de trigo provenientes de regiões em que a seca é uma ocorrência comum são fontes potenciais de genes para tolerância à seca. Os principais caracteres relacionados com a resistência à seca, identificados em diversos programas de melhoramento, são: elevado teor de clorofila no espigamento, densidade de pubescência, complexação do alumínio com ácidos orgânicos na rozosfera de matérias tolerantes, volume do pedúnculo, stay green e tolerância ao calor. A pesquisa tem buscado aristas longas, elevado ajustamento osmótico e biomassa sob condições de estresse hídrico e de elevadas temperaturas.
A experiência em programas internacionais de melhoramento de trigo revela que o melhoramento para caracteres fisiológicos adaptativos ao estresse hídrico é difícil pela baixa herdabilidade e correlação negativa existente entre esses caracteres e a produtividade em muitos casos. Informações sobre a herdabilidade, facilidade de seleção, existência de marcadores moleculares, interação genótipo x ambiente esperada para maioria desses caracteres estão disponíveis na literatura. Procedimentos fisiológicos podem incrementar o rendimento de diferentes materiais: primeiro, pela identificação dos caracteres para os quais não há variabilidade genética suficiente nas populações melhoradas; segundo, variações sazonais na produtividade e a interação genótipo x ambiente, que podem tornar a seleção direta para produtividade ineficiente. Sendo assim, a seleção de caracteres fisiológicos que limitam a produtividade e têm elevada herdabilidade pode ser mais efetiva do que a seleção direta para produtividade; terceiro, uma maior estabilidade na produtividade pode ser importante para minimizar as perdas em anos de maior ocorrência de déficit hídrico, o que pode ser alcançado pela seleção de caracteres fisiológicos. Além disso, a seleção para caracteres fisiológicos em gerações precoces nos cultivos fora de época (safrinha) pode ser mais efetiva que a seleção direta para produtividade.
Desta forma, a identificação de metodologias adequadas para a região alvo, bem como a caracterização do germoplasma disponível de acordo com estas metodologias e sua utilização na geração de novos cultivares constituem grandes desafios para estabilização da produção de trigo na região do Cerrado.