Gabriella Lima Andrade de Sousa
Universidade Federal de Lavras – 3rlab
O bicudo da cana-de-açúcar, Sphenophorus levis, é uma importante praga dos canaviais, principalmente no estado de São Paulo. Foi detectada pela primeira vez no Brasil em 1977 sendo assim uma das pragas mais novas a atacar a cultura da cana-de-açúcar. O maior problema teve início aos redores do município de Piracicaba e depois acabou se espalhando para outras localidades.
As fêmeas inserem os ovos na base de brotações, abaixo do nível do solo, após perfurarem os tecidos sadios do rizoma com as mandíbulas presentes no ápice do rostro. Após 7 a 12 dias de incubação dos ovos, as larvas eclodem (figura 1) e passam a escavar galerias no interior e na base da planta ao se alimentarem, que permanecem cheias de serragem fina. O desenvolvimento das larvas dá-se em um período médio de 50 dias, sendo que no final dessa fase o inseto prepara uma câmara com a serragem, e transforma-se em pupa no seu interior (figura 2). Após 7 a 15 dias, emergem os adultos (figura 3) que permanecem no solo, sob torrões e restos vegetais ou entre os perfilhos, nas bases das touceiras. A longevidade média dos adultos é de 203 dias para os machos e 224 dias para as fêmeas, com cada fêmea colocando ao longo desse período cerca de 40 ovos, podendo chegar a 70 ovos.
Figura 1: Larva de Sphenophorus levis
Figura 2: Serragem fina da pupa no colmo
Figura 3: Adulto de Sphenophorus levis
Esta praga caminha pouco no solo e tem voos curtos, fato que impede a sua disseminação para áreas mais distantes, sendo o homem o grande responsável pela introdução da praga em lavouras que antes não tinha a presença da praga. Ela vai junto com a muda da cana, muitas vezes na base dos colmos que ficam perto do solo, na forma de larvas e ovos e também sobrevivem em outras culturas diferentes da cana-de-açúcar como o milho por exemplo.
Em valores médios, as perdas giram ao redor de 20 a 23 toneladas por ano a cada hectare cultivado ou de 48 a 56 toneladas por alqueire, mostrando a importância que assume esta praga em locais com elevada infestação. Esta praga também deixa a cana com um desenvolvimento menor em ocasiões que não chega a matar, interferindo assim na redução do número de cortes tendo o fornecedor a necessidade de reformar o seu canavial mais cedo, envolvendo maiores custos de produção e menor rentabilidade.
Para controle desta praga o melhor método que apresenta maiores resultados é o da destruição de soqueiras com uma boa aração e gradagem nos meses de abril a agosto, permitindo assim uma maior exposição destas larvas ao sol e a ação de pássaros que comem estas larvas e pupas que ficaram no solo.
Uma outra forma de controle é de iscas tóxicas que captura grande quantidade de adultos da praga, sendo de grande importância colocar no talhão entre setembro a março, quando as condições são favoráveis para sua reprodução. As iscas são canas que podem ser cortadas ao meio e embebidas com inseticidas com princípio ativo a base de carbaril com melaço.
Por todo exposto, fica claro os grandes prejuízos que o bicudo da cana-de-açúcar vem causando às lavouras e a importância do manejo adequado. Entretanto, apesar de todas essas medidas, ainda tem ocorrido um incremento nas populações da praga, sendo frequente, nos últimos anos, registros de novas áreas infestadas. Isso demonstra a dificuldade de controle desse inseto, ressaltando a importância da continuidade de pesquisas na busca de alternativas mais eficazes, sem poluir o meio ambiente.