Certamente estas são perguntas que devem ser feitas no momento de ensilagem do milho, isto mesmo, quando a carreta estiver descarregando o material picado no silo. É neste momento que devemos estar presente com duas ferramentas: peneira da Universidade da Pensilvânia (Penn State Box) e um balde com água.
Para confeccionar:
A peneira da Universidade da Pensilvânia irá permitir o ajuste do tamanho de corte da ensiladeira. Esta peneira consiste em um grupo de 3 peneiras que são acopladas verticalmente, uma em cima da outra. A peneira com poro maior (19 mm), a peneira com poro médio (8 mm), a peneira com poro pequeno (1.18 mm) e a parte de baixo que coleta o material (Figura 1). No momento da ensilagem uma pessoa deve estar coletando uma amostra (200 gramas, aproximadamente duas mãos cheias) do material picado e colocando na peneira. A mesma pessoa deve chacoalhar a peneira 40 vezes, 5 vezes por cada lado com uma repetição (Figura 2). Após este processo o material contido em cada peneira deve ser pesado. Como exemplo, podemos observar uma carreta com o material picado corretamente (Carreta 4), a próxima em que o material está muito longo (Carreta 5) e a seguinte após amolar as facas da picadeira (Carreta 6) na tabela 1.
Este é a primeira ferramenta que deve ser utilizada em cada carreta que é descarregada no silo. O correto tamanho de partícula da silagem permite um melhor perfil de fermentação e também que os animais ruminem quando o material for oferecido aos mesmos.
A segunda ferramenta que também deve ser utilizada em cada carreta que é descarregada no silo é a análise do processamento dos grãos da silagem. Para isto, necessitamos de um balde com água preenchido até a metade. Colete novamente duas mãos cheias do material picado da carreta e coloque no balde com água. Mexa o material e vá removendo o material que está boiando (planta) até que o balde contenha somente os grãos. Neste momento, jogue toda a água fora e coloque os grãos em uma superfície branca. Compare com a figura 3. Podemos visualizar na figura 3 que os materiais possuem processamentos distintos: o material da esquerda menos danificado e o da direita mais danificado. A recomendação é que o milho de cada carreta esteja o mais próximo possível com o material da direita.
Verificando se o processo de ensilagem foi correto:
Pronto, a silagem está confeccionada, conseguimos atingir as metas de comprimento de corte e processamento de grãos em quase todas as carretas e fechamos o silo. O que eu posso medir para verificar que realmente o grão da silagem está bem processado e não errei na minha avaliação visual? Nesse ponto podemos coletar uma amostra da silagem e enviar ao laboratório para análise de processamento de grãos (KPS). Nesta análise, o laboratório seca a silagem e passa a mesma por uma peneira de 4.75 mm. No material que passou na peneira (menor que 4.75 mm), uma análise de amido é realizada. O objetivo é que a silagem contenha mais de 70% de amido no material que passou na peneira de 4.75 mm (Tabela 2). Como exemplo temos uma silagem com KPS de 80%, isto significa que no material enviado ao laboratório (silagem de milho), da quantidade que passou na peneira de 4.75 mm (portanto menor que 4.75 mm), 80% era amido, portanto uma silagem com processamento de grãos excelente!
Uma ferramenta adicional para verificar que o processo de ensilagem foi realizado com sucesso é a determinação de pH e perfil de ácidos graxos da silagem. Para utilizar esta ferramenta uma amostra da silagem é enviada ao laboratório e as seguintes análises são realizadas: pH, ácido lático, ácido acético, ácido propiônico, ácido butírico, ácidos totais, amônia (Tabela 3). A comparação do resultado da silagem produzida com a meta apresentada pode gerar pontos de oportunidade para a confecção da silagem do próximo ano.
Medindo a qualidade da silagem nos animais
Talvez o local mais importante para medir a qualidade da silagem produzida na fazenda seja os animais. A silagem no silo não é a mesma que chega ao rúmen do animal devido a vários fatores: manejo de silo, tempo entre desensilagem e oferecimento, qualidade da mistura, espaço de cocho, etc… Portanto, como nosso objetivo é a manter na fazenda animais saudáveis e produtivos, os mesmos são um excelente material para verificar se a silagem foi bem confeccionada.
A primeira ferramenta que pode ser utilizada é a porcentagem de amido nas fezes. Esta ferramenta permite ao técnico verificar se o amido que o animal ingeriu foi utilizado ou foi excretado. A meta para vacas leiteiras é que menos de 5% de amido esteja presente nas fezes. No Brasil, temos fazendas com alta produção, animais saudáveis, sem a utilização de grão úmido na dieta, com fezes atingindo esta meta. Portanto, este valor apesar de ser uma meta americana, também é atingível em nossas fazendas.
A segunda ferramenta que pode ser utilizada na fazenda é a observação de ruminação dos animais. Em condições normais, metade dos animais no lote devem estar ruminando, exceto quando estiverem comendo ou sob stress térmico.
Impacto econômico:
Podemos visualizar na Tabela 4 a comparação econômica entre duas silagens com processamentos distenso de grãos. A silagem A com o grão de milho processado corretamente e a silagem B com o grão de milho processado incorretamente. Para esta simulação vamos utilizar os seguintes parâmetros: 600 kg peso vivo, 80 DEL, 3,5% Gordura, 30 kg de leite. Podemos observar que quando a silagem possui grãos que foram danificados no processo de ensilagem temos a expectativa de aumentar a produção das vacas em aproximadamente 1 kg de leite, esta produção é refletida em um maior retorno sobre custo alimentar (RSCA) com a utilização da silagem A. Este valor pode ser utilizado para uma decisão sobre processar ou não o grão da silagem. Como exemplo, temos uma fazenda com 100 vacas. Assumindo aumento de 1 kg de leite/vaca/por com o processamento temos 100 kg. No ano temos R$36.500,00 (assumindo preço do leite a R$1). Vamos simplificar e adotar R$35.000,00. Se o valor que se paga para o processamento do milho no momento da ensilagem for menor que R$35.000,00 temos que adotar esta prática.
Conclusão:
Como a qualidade da silagem de milho impacta diretamente a quantidade de concentrado utilizado na dieta (quanto melhor a silagem menos concentrado), devemos utilizar ferramentas que nos permitam produzir a melhor silagem possível na fazenda. Visto que alimentação é o maior custo para produção de leite, estamos focando exatamente na variável de maior impacto no sistema.
Figura 1 – Peneiras da Universidade da Pensilvânia – Ferramenta muito útil para determinar o correto tamanho de corte da silagem de milho
Figura 2 – Movimentos a serem realizados pela pessoa responsável pela determinação do tamanho de corte no silo. Cada lado da peneira necessita de 5 movimentos com uma repetição, totalizando 40 movimentos.
Figura 3 – Resultado do processo de remoção da forragem do material picado. Três processamentos de grãos podem ser visualizados, somente o material da direita está processado corretamente.
Tabela 1 – Exemplo de amostragem de milho picado em três carretas. Carreta 4 dentro da meta, Carreta 5 acima da meta (muito longo), Carreta 6 dentro da meta
Tabela 2 – Meta para análise de processamento de grãos da silagem (KPS)
Tabela 3 – Meta de perfil de fermentação para silagem de milho
Tabela 4 – Comparação entre o efeito do processamento de grãos da silagem na produção de leite.
Silagem A: silagem com grãos processados corretamente (KPS > 70%).
Silagem B: silagem com mau processamento dos grãos (KPS 45%).
Composição da dieta (%MS): 10 kg silagem de milho, 5 kg milho moído fino, 2,5 kg caroço de algodão e 3 kg de farelo de soja.
EM: Energia metabolizável disponível para produção de leite
RSCA: Retorno sobre custo alimentar.
Por: Marcelo Hentz Ramos, PhD-Diretor 3rlab, consultor Rehagro