Métodos de controle do percevejo castanho da raiz na cultura da soja
Gabriel Castillo
Universidade Federal de Lavras-3rlab
O percevejo castanho da raiz é o nome utilizado para se referir a um grupo de insetos composto de várias espécies de percevejo da família Cydnidae que habitam o solo. No Brasil, há registros de sua ocorrência de Norte a Sul. Entretanto, essa praga tem causado sérios problemas econômicos principalmente na região do Cerrado.
Na cultura da soja há a ocorrência de diversas espécies desse percevejo, entretanto a espécie Scaptocoris castanea (figura 1) é a mais preocupante. Os adultos desta espécie medem cerca de oito milímetros de comprimento, apresentam coloração castanha e possuem pernas anteriores adaptadas para escavar, enquanto as ninfas, bem menores, apresentam coloração branca.
Figura 1- Scaptocoris castanea em fase adulta.
Essa espécie possui hábito subterrâneo, e tanto os adultos quanto as ninfas atacam o sistema radicular das plantas. Ao se alimentar da raiz, o percevejo injeta uma toxina que impede o crescimento da planta, deixando-a com aspecto amarelado, enfraquecida podendo até morrer.
Prejuízos na cultura da soja
Sabe-se que esse inseto se esconde no solo na época de estiagem à procura de umidade e retornam à superfície no período das chuvas e ao retornarem atacam em reboleiras ou em focos distribuídos. Esse ataque pode ocorrer tanto em sistema de plantio convencional quanto em sistema de plantio direto. Os sintomas variam de acordo com a intensidade e época do ataque e muitas vezes são confundidos com deficiência nutricional ou doença da planta.
Na cultura da soja essa praga pode trazer enormes prejuízos, sendo principalmente:
- Ataque das raízes desde a fase de plântula até a colheita;
- Quando ocorre nos primeiros estágios da fase vegetativa (fase de desenvolvimento) as consequências vão de amarelamento e murchamento das folhas até a seca e morte da planta;
- Redução do número de plantas no estande final (figura 2);
- Menor rendimento da planta;
- Menor desenvolvimento das raízes;
- Diminuição da resistência da planta a estresses hídricos, uma vez que atacam o sistema radicular;
- Decréscimo no tamanho final da planta e no peso dos grãos;
- Perdas na produção que variam de 15 a 75%.
Figura 2- Estande reduzido devido ataques de percevejo castanho (Scaptocoris castanea).
Entretanto, ainda não se tem muitas informações sobre o comportamento desse percevejo, mas sabe-se que a presença de umidade interfere diretamente no aumento de sua população. Dessa maneira, em safras com chuvas mais precoces a tendência é de ter infestações maiores no início do plantio da soja.
Métodos de controle
O manejo dessa praga é difícil e hoje não há produtos no mercado eficazes para o controle desse inseto, isso se deve ao hábito subterrâneo e ao comportamento dessa praga. O controle químico tem se mostrado limitado, uma vez que o inseto precisa estar a no máximo 15 cm de profundidade no solo para que se tenha contato com a raiz e seja atingido pelo produto. Diante dessa ineficácia, o uso de fungos entomopatogênicos, (principalmente os do gênero: Metharizium, Beauveria e Paecilomyces) têm sido estudado como forma alternativa de controle.
Diante da fragilidade desses métodos de controle, há a necessidade de se adotar medidas preventivas que amenizam os ataques dessa praga para que não ocorra perdas consideráveis na produtividade. Existem algumas medidas viáveis, dentre as quais podem ser destacadas:
- Mapeamento de infestação para melhor controle do histórico de áreas atacadas ao longo dos anos;
- Antecipar a semeadura das áreas infestadas;
- Utilizar sementes de boa qualidade com melhor desenvolvimento radicular;
- Realizar bom manejo no controle de plantas daninhas que podem servir de hospedeiras tanto na entressafra quanto na cultura da soja;
- Utilizar adubação com sulfato de amônio, cálcio e fósforo para aumentar o enraizamento;
- Incorporar enxofre durante a correção dos solos, uma vez que esse elemento tem se mostrado como repelente ao ataque dessa praga;
- Utilizar de rotação ou sucessão de culturas utilizando espécies menos atacadas por esse percevejo.
Diante disso, o monitoramento é essencial para melhor controle dessa praga na cultura da soja. Segundo a pesquisadora e entomologista da Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso, Fundação MT, Lucia Vivan uma das principais medidas é através do histórico de ocorrência nas áreas ao longo dos anos e realizar o monitoramento por meio de covas com medidas de 30x30x50 cm para observar a presença da população desse inseto no solo e no início das chuvas atentar-se as revoadas dos insetos adultos.
Como o percevejo castanho da raiz gera inúmeros danos a cultura da soja e seu controle é de difícil manejo, torna-se importante obter uma boa nutrição da planta e utilizar métodos que visam controlar os ataques dessa praga na cultura, para não ocorrer perdas consideráveis na produtividade e consequentemente inviabilizar economicamente o agronegócio.