Autor: Otávio Canestri de Souza Andrade
Foto: Pixabay
A busca por solos mais férteis, produtivos e que proporcionem boas condições às plantas são sempre assuntos de grandes debates e pesquisas no cenário agrícola de todo o mundo. Além de manter o solo bem manejado, adubado, com equilíbrio nutricional e com boa disponibilidade de água, os produtores precisam ainda se preocuparem com alguns importantes fatores físicos, químicos e biológicos que estão diretamente relacionados com a matéria orgânica presente no solo. Mas antes de abordarmos esse assunto, precisamos primeiro entender o conceito e o significado desse elemento tão importante e essencial para a vida na Terra.
De acordo com o conceito agronômico, temos que solo é um elemento que cobre a parte exterior da crosta terrestre e se forma através do intemperismo de um material de origem, ou seja, ele é resultado da degradação de uma rocha matriz que passou por uma série de transformações ao longo do tempo e se desenvolveu decorrente da atividade do relevo, clima, topografia e ação de organismos, que juntos, são chamados fatores de formação de solo. A maior ou menor intensidade de algum fator, pode ser determinante no determinado tipo de solo que será formado. Além disso, podemos dizer que os solos são compostos de três fases: sólida (minerais e matéria orgânica), líquida (solução do solo) e gasosa (ar). Todo esse processo de degradação e formação do solo, recebe o nome de pedogênese e a pedologia é a ciência responsável por estudar essas etapas.
Além das divisões do solo em fases, ele também se divide em horizontes, comumente chamado de camadas ou perfis do solo, em que podemos perceber as grandes diferenças entre as características dos solos. A seguir veremos uma representação desses horizontes:
Fonte: brasilescola.uol.com.br / Rodolfo Alves Pena
- Horizonte O = é a camada orgânica superficial, com boa drenagem e coloração escura. É aqui que se encontra a grande parte da matéria orgânica de um solo.
- Horizonte A = é a camada em que se localiza, basicamente, rocha alterada ou fragmentos da rocha matriz e húmus, sendo também o local de maior concentração das raízes das plantas e também de organismos decompositores. Neste horizonte também é possível encontrar uma boa quantidade de material orgânico em decomposição.
- Horizonte B = é uma camada com grande composição de material mineral, principalmente ferro e alumínio. Baixos níveis de matéria orgânica.
- Horizonte C = é a camada de transição entre o solo formado e a sua rocha matriz. Alta concentração de materiais oriundos da rocha formadora menos decompostos.
- Horizonte R ou Rocha Matriz = Rocha matriz não alterada responsável pela formação do solo localizado nas camadas superiores.
O QUE É A MATÉRIA ORGÂNICA?
Podemos definir a matéria orgânica (M.O.) como o conjunto de compostos ou materiais orgânicos (que contém carbono em sua estrutura) que se localizam na superfície ou incorporados ao solo, nos mais diferentes níveis de decomposição. Esses compostos podem ser desde restos de animais, folhas, raízes e resíduos vegetas, até organismos vivos como bactérias e fungos presentes no solo. Através do processo de decomposição dessa matéria orgânica surge então o húmus, que é um produto altamente positivo e benéfico ao solo, capaz de melhorar suas condições físicas, químicas e também biológicas, fornecendo nutrientes e podendo melhorar o potencial produtivo de um solo. Esse processo de formação de húmus recebe o nome de humificação. Por esses motivos, podemos afirmar que a matéria orgânica pode ser considerada como um indicativo de fertilidade de solo na maioria dos casos.
Os teores de matéria orgânica em determinado solo são resultados do balanço entre a deposição de resíduos orgânicos e a decomposição dos mesmos. Em sistemas de plantio direto e pastagens por exemplo, em que ocorre uma elevada produção e deposição de fitomassa, ocorre por consequência um maior acúmulo de matéria orgânica. Em geral, os solos brasileiros apresentam índices entre 2,5 a 5% de M.O. necessitando de longos anos de manejo e planejamento para que os índices aumentem (NETO, A. E. F. et al., 2001).
PROPRIEDADES DA M.O.
São várias as propriedades e atributos positivos que a matéria orgânica possuí. A seguir, listaremos e abordaremos os principais deles (NETO, A. E. F. et al., 2001):
- Mineralização – é o processo de decomposição da matéria orgânica que libera para a solução do solo, diversos nutrientes essenciais para o desenvolvimento das plantas, principalmente nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (K).
- CTC – o húmus pode apresentar altíssima capacidade de troca de cátions, devido a geração de cargas negativas, aumentando a CTC do solo, reduzindo perdas por lixiviação e problemas com salinidade.
- Ação tamponante (efeito tampão) – os compostos orgânicos auxiliam no processo de estabilização do pH, minimizando problemas por acidificação.
- Combinação com argilas – a M.O. exerce importante ação cimentante na formação de agregados, podendo melhorar a estrutura do solo, porosidade, infiltração de água e redução de danos por erosão.
- Retenção de água – a matéria orgânica possui a capacidade de reter até 20 vezes do seu peso em água, retratando uma melhoria significativa na capacidade dos solos em reter água, sendo extremamente benéfica, principalmente, a solos arenosos.
- Cobertura superficial do solo – a camada superficial formada pela M.O. nos solos, além de promover uma redução no impacto das gotas das chuvas que podem causar erosão, promove ainda a formação de microclimas altamente benéficos para as plantas, proporcionando melhores condições de cultivo. Além disso essa cobertura contribui também evitando a compactação dos solos.
FONTES DE M.O.
São muitos os elementos e produtos que podem ser utilizados como fonte de adubos orgânicos. Veja a seguir os principais compostos e sua relação C/N (Carbono/Nitrogênio):
Relação C/N de materiais:
Adaptado: http://www.esalq.usp.br/cprural/upimg/evento/ Fonte: Souza et al., 1999
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante de todas essas informações, fica clara e evidente a grande importância que a matéria orgânica possuí e o quanto os seus atributos e as suas propriedades podem ser benéficas na construção da fertilidade de um solo. Além de proporcionar melhorias químicas, físicas e biológicas, ela é capaz de promover melhores condições ao desenvolvimento e crescimento das plantas, gerando consequentemente uma maior produtividade, qualidade e rentabilidade ao produtor. Além disso ela promove também uma maior sustentabilidade no cultivo, evitando erosões e compactações no solo, sendo positiva para a recuperação de áreas degradadas e solos com baixos níveis de fertilidade. Alternativas de manejos e adubações que promovam um aumento nos índices de matéria orgânica do solo são, na maioria das vezes, uma excelente opção ao agricultor que visa produzir mais e com mais qualidade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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