Gabriella Lima Andrade de Sousa
Universidade Federal de Lavras – 3rlab
A Helicoverpa armigera é uma lagarta que vem causando inúmeras perdas em lavouras brasileiras desde 2012 e tem surpreendido produtores e pesquisadores pelo seu poder de destruição da parte vegetativa e reprodutiva das plantas. A praga é capaz de causar prejuízos em mais de 180 espécies hospedeiras, incluindo as culturas da soja, milho, algodão, tomate, feijão e sorgo.
Estima-se que entre custos com controle e perdas de produção, os gastos mundiais com a lagarta, em diversas culturas, aproximam-se anualmente a 5 bilhões de dólares. No Brasil, ainda não foram mensurados os prejuízos econômicos relacionados à Helicoverpa, porém considera-se que o rápido crescimento populacional da praga foi ocasionado principalmente pelo uso cumulativo de algumas práticas inadequadas de cultivo, como o plantio sucessivo das principais espécies vegetais hospedeiras da praga (soja, milho e algodão) em áreas muito extensas e próximas umas às outras, além da aplicação inadequada de defensivos agrícolas, tornando o agroecossistema suscetível às lagartas.
A H. armigera é um inseto de metamorfose completa (ovo, lagarta, pupa e adulta) e cada fêmea é capaz de ovipositar de 1000 a 1500 ovos de forma isolada, sobre talos, flores, frutos e na face superior das folhas, preferencialmente no período noturno. Os ovos possuem um período de incubação por volta de 3 dias, com uma coloração branco-amarelada, com aspecto brilhante logo após a sua deposição no substrato, tornando-se marrom-escuro próximo do momento de eclosão da larva. O período larval pode durar de 2 a 3 semanas, de acordo com as condições climáticas.
A lagarta possui de 30 a 40 milímetros de comprimento, coloração do amarelo-palha ao verde, alterando de acordo com a alimentação (figura 1). Entre os detalhes característicos da lagarta, está sua cápsula cefálica de cor parda clara, linhas finas brancas laterais e a presença de pelos. Na fase final de desenvolvimento, a espécie apresenta um acentuado dimorfismo sexual, em que os machos possuem o primeiro par de asas de cor cinza esverdeado e as fêmeas, pardo-alaranjado.
Figura 1: Características da lagarta Helicoverpa armigera
A lagarta é a fase mais prejudicial às culturas, atacando preferencialmente as estruturas reprodutivas, como botões florais, frutos, maçãs (algodoeiro), espigas e inflorescências, alimentando-se também da parte vegetativa das plantas, como as hastes e as folhas. O ataque da Helicoverpa tem se tornado cada vez mais preocupante devido a algumas características específicas como, a alta capacidade de dispersão das mariposas, o ataque a diversas espécies de interesse econômico, elevada aptidão de reprodução e sobrevivência, além do potencial de resistência a inseticidas.
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA vem sugerindo algumas medidas de manejo baseadas no Manejo Integrado de Pragas – MIP como a utilização de armadilhas e iscas para o controle e monitoramento da praga, semeadura em períodos adequados e no menor tempo possível, adoção de um período de vazio sanitário na área de cultivo, rotação de culturas, destruição dos restos culturais, utilização de cultivares que reduzem a população da praga, implantação de áreas de refúgio no plantio e o uso de controle biológico, através de parasitoides e predadores.
O controle biológico da Helicoverpa deve ser realizado utilizando-se táticas de conservação ou crescimento populacional dos inimigos naturais no agroecossistema. As vespas parasitoides conhecidas como Trichogramma spp. são insetos que se caracterizam pelo seu tamanho reduzido e pela capacidade de parasitar ovos de inúmeras espécies de Lepidopteras, e vem apresentando eficiência no controle da dessa praga. A fêmea adulta da vespa deposita seus ovos no interior dos ovos da praga, onde ocorre todo desenvolvimento do parasitoide (figura 2). A larva da vespa se alimenta internamente do ovo da Helicoverpa.
Figura 2: Vespa de Trichogramma spp. parasitando ovo, como controle biológico
O controle químico da Helicoverpa armigera deve ser realizado de forma emergencial, respeitando os níveis de controle descritos na literatura internacional e as dosagens recomendadas. Os inseticidas nunca devem ser aplicados preventivamente, correndo o risco de agravar em longo prazo problemas como, a dizimação dos inimigos naturais e a criação de mecanismos de resistência das pragas. Em áreas com frequente histórico de ocorrência da praga, as medidas de controle químico podem ser iniciadas mesmo antes da semeadura.
Por todo o exposto, fica claro a importância em se conhecer a Helicoverpa armigera e os prejuízos causados por essa praga. As técnicas de manejo integrado de pragas reduzirão o custo de produção, com menor utilização de inseticidas, protegendo a lavoura do ataque dessa praga.