Autor: Otávio Canestri de Souza Andrade
Foto: http://www.sulgesso.com/site/portfolio-view/gesso-agricola/
As práticas relacionadas à correção dos solos têm se tornado cada vez mais comuns nas grandes e pequenas propriedades do país, devido aos seus grandes benefícios e vantagens que podem proporcionar a produtividade das lavouras e também a fertilidade dos solos. A calagem e a gessagem são as principais dessas práticas, sendo uma bem distinta e com objetivos completamente diferentes da outra, mas podemos dizer que ambas são complementares e fundamentais em um sistema de cultivo que visa produzir mais e com mais qualidade. A seguir falaremos com detalhes sobre a realização da gessagem e quais as suas diferenças principais quando comparada com a calagem.
O QUE É A GESSAGEM?
Antes de compreender sobre o gesso agrícola e como é que ele age no solo, é necessário primeiro ter uma noção sobre a composição dos solos, principalmente, os solos brasileiros. Aqui em nosso país é muito comum encontrarmos regiões com baixíssimas quantidades de cálcio (Ca) que é um macronutriente fundamental para as plantas e alta concentração de alumínio (Al), principalmente em camadas mais profundas, que é um elemento extremamente tóxico e prejudicial para elas.
Dessa forma, durante o processo de desenvolvimento e crescimento das lavouras, elas enfrentam uma grande dificuldade para desenvolver o seu sistema radicular, que é muito comprometido pelo alumínio tóxico em profundidade, fazendo com que as raízes fiquem mais concentradas na superfície do solo e não atingem grandes profundidades, influenciando negativamente não só na estrutura de sustentação da planta, mas também em sua absorção de nutrientes e elementos essenciais.
Diante dessas condições, a realização da gessagem ganha grande destaque e importância agronômica. O gesso agrícola (CaSo4) que é utilizado nessa prática, é basicamente definido como um condicionador do solo. Isso significa que ele é um produto que promove melhorias nas propriedades físicas, químicas ou biológicas do substrato em que é colocado.
VANTAGENS DE SUA REALIZAÇÃO
Basicamente, a sua composição química funciona como fonte de cálcio (20%) e enxofre (15-18%) para o solo, atuando de maneira muito eficiente e principalmente, atingindo grandes profundidades. Além disso, uma de suas principais funções é a neutralização do alumínio, que como citado anteriormente, é tóxico e prejudica o desenvolvimento das plantas.
Essa neutralização ocorre, de maneira resumida, da seguinte forma: pelo fato do gesso possuir alta solubilidade (capacidade de se solubilizar na solução do solo), rapidamente ele aumenta as concentrações de Ca2+ e SO42– no solo em profundidade. Com isso, o alumínio que antes estava ligado aos colóides do solo, se desprende e se liga ao sulfato, descendo para camadas ainda mais profundas e deixando a região ocupada pelo sistema radicular das plantas menos tóxico.
Ao passo que essas reações vão ocorrendo, o solo deixa de ter o alumínio prejudicial ao desenvolvimento e crescimento das lavouras e proporciona uma melhor condição para elas, por isso a definição de gesso como um condicionador de solo.
As quantidades de cálcio e enxofre também são muito significativas para as plantas, substituindo inclusive a utilização de alguma adubação a base desses nutrientes. Vale ressaltar que o enxofre, é um macronutriente importantíssimo para os vegetais, atuando diretamente no controle hormonal das plantas, sistema de defesa, resistência e também na formação e produção de proteínas.
Veja a seguir uma representação da atuação benéfica do gesso no crescimento e desenvolvimento radicular das plantas.
QUANDO É RECOMENDADO FAZER?
O processo de realização da gessagem, assim como qualquer outro processo de correção ou adubação, tem início com a amostragem e análise de solo. Essa etapa é crucial e extremamente importante ao produtor, pois é aqui que ele terá a oportunidade de conhecer toda a composição química de sua área e também saber com riqueza de detalhes quais são as suas reais necessidades. (Caso você tenha o interesse em entender melhor sobre o processo de análises de solo, basta acessar o artigo Análises de Solo que postamos em nosso blog!)
Após realizadas todas as devidas análises e com os resultados em mãos, existem alguns critérios que o produtor poderá seguir para verificar se realmente sua área tem a necessidade de receber a gessagem.
Os critérios são:
- Cálcio menor que 0,5 cmolc/dm3;
- Alumínio maior que 0,5 cmolc/dm3;
- Saturação por alumínio maior que 20%;
- Saturação por bases (V%) menor que 35%.
Caso todos, ou apenas um dos critérios sejam identificados pelo agricultor, o mais recomendado então é que se realize sim a gessagem nessa área. É importante destacar também que o mais indicado é de que o cálculo para determinação da necessidade de gesso, ou seja, a quantidade ideal para se aplicar no solo, deve ser feita com auxílio de um profissional especializado ou órgão responsável por assistência técnica, para que o produtor não tenha equívocos ou algum prejuízo nesse momento.
DIFERENÇAS ENTRE CALAGEM E GESSAGEM
Quando nos mencionamos à correção do solo, muitas pessoas acabam ficando com dúvidas em relação aos processos de calagem e gessagem. Apesar de ambos serem um pouco semelhantes, como por exemplo na presença de cálcio na composição química, eles se diferem bastante e possuem objetivos muito diferentes também.
Veja a seguir uma tabela que evidencia muito bem as diferenças de funções entre esses dois processos:
PRINCIPAIS DIFERENÇAS ENTRE CALAGEM E GESSAGEM
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A gessagem é sem dúvidas um dos principais processos de correção e melhoria das condições físicas e químicas do solo. Além de neutralizar o alumínio tóxico para as plantas, funciona também como um adubo, disponibilizando cálcio e magnésio para o sistema radicular delas. Sua principal característica é a capacidade de atuação em profundas camadas do solo e isso se deve pelo fato do gesso apresentar alta solubilidade.
Tão importante quanto realizar esse processo, é fazê-lo de uma maneira bem feita e por esse motivo a realização de boas análises de solo são fundamentais para se obter os melhores resultados. O produtor deve sempre conhecer a composição química e física de seu solo para conseguir tomar sempre as melhores decisões, obtendo assim melhores produtividades, qualidade e rentabilidade na produção.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CHINELATO, G. – GESSAGEM: TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER SOBRE ESTA PRÁTICA AGRÍCOLA – DISPONÍVEL EM https://blog.aegro.com.br ACESSO EM 23/08/2020.
BRANDÃO, A. – EMBRAPA – CALAGEM E GESSAGEM DE SOLOS ÁCIDOS GARANTEM MAIOR PRODUTIVIDADE PARA PASTAGENS E GRÃOS – DISPONÍVEL EM https://www.embrapa.br ACESSO EM 23/08/2020.