Certamente uma situação que muitos nutricionistas passam durante um determinado período do ano trabalhando com silagem ou pasto: ambos não possuem composição bromatológica uniforme. Existem períodos de forragem de boa qualidade e períodos de forragem de baixa qualidade: variação na qualidade do solo, densidade de plantio, aplicação uniforme de fertilizante, velocidade de colheita, manchas de oxigênio no silo, capacidade de manter o manejo do pasto conforme determinado pelo técnico da fazenda, etc… São inúmeros os fatores que causam variação na qualidade da forragem que trabalhamos.
Quando estamos no momento de forragem boa a ideia é trabalhar com mais forragem na dieta e menos concentrado para produzir um leite mais barato. O extremo é a situação de forragem de baixa qualidade: fornecer menos (pois esta limita consumo), mas irei precisar de mais concentrado ou subproduto, o custo de produção do leite vai subir. Existe alternativa para este último cenário?
Pesquisadores do departamento de forragem do departamento de agricultura dos EUA em associação com pesquisadores da Universidade de Purdue desenvolveram um experimento com o objetivo de avaliar doses crescentes de carbonato de potássio sobre o desempenho de 207 vacas em lactação. Podemos observar na tabela 1 que vacas que receberam adição de carbonato de potássio (2.4% de K na dieta final) consumiram 1.4 kg a mais de matéria seca que vacas no tratamento controle (1.6% de k na dieta). Este aumento de consumo resultou em 1.5 kg de leite a mais para vacas suplementadas com carbonato de potássio.
Qual foi a estratégia do experimento? Utilizar um produto que remova mais rápido o conteúdo do rúmen para dar oportunidade para vaca consumir mais. Ainda podemos observar na tabela 1 que o conteúdo ruminal das vacas que receberam carbonato de potássio foi 5 kg mais leve que as vacas controle. A comida saiu do rúmen mais rápido, como? O consumo total de água (consumo de água mais a água do alimento) foi 20 litros maiores para vacas na dieta de alto potássio. Sim, a estratégia foi aumentar o consumo de água para remover o conteúdo ruminal mais rápido com o objetivo de aumentar o consumo.
É uma estratégia possível de ser adotada em nossas fazendas comerciais? Sim. Principalmente nos meses mais quentes do ano onde o consumo de matéria seca irá cair como também em situações de forragem de baixa qualidade. Precisamos entender que o impacto da qualidade da forragem é muito grande no negócio leite: para cada unidade de aumento na digestibilidade do FDN podemos esperar 120 g de aumento no consumo de matéria seca e 210 g de aumento na produção de leite. O contrário também é verdadeiro, diminuição na digestibilidade do FDN irá causar diminuição no consumo e na produção de leite. Este artigo teve como objetivo mostrar uma ferramenta validada pela ciência que pode ser utilizada pelo nutricionista em momentos de forragem de baixa qualidade para evitar a queda no consumo e produção de leite.
Tabela 1 – Desempenho de vacas leiteiras consumindo dietas com baixa (1.6% de K na dieta) ou alta (2.4% de K na dieta) concentração de K na dieta.
Baixo K | Alto K | |
CMS, kg/d | 20.4 | 21.8 |
Leite, kg/d | 24.9 | 26.4 |
Consumo de água, L | 120 | 140 |
Peso conteúdo rúmen, kg | 76.4 | 71.5 |
DCAD, mEq/100 g | 16 | 34 |
Adaptado de: JDS 98:3247-3256, abril de 2015.