Autor: Otávio Canestri de Souza Andrade
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O nitrogênio (N) é um elemento químico bastante abundante em todo o planeta, correspondendo a aproximadamente 78% de toda a atmosfera terrestre e encontrado primariamente no estado gasoso como sua condição natural (N≡N). Este elemento, depois do carbono, hidrogênio e oxigênio é o nutriente mais demandado pelos vegetais, possuindo importâncias fundamentais nas etapas de crescimento e desenvolvimento das plantas, principalmente na formação da clorofila, estrutura fundamental para o metabolismo da maioria dos vegetais. De acordo com dados da Embrapa, para se produzir 1 tonelada de grãos de soja, por exemplo, é necessário aproximadamente 80kg de N.
No entanto, para que o nitrogênio possa ser usado e absorvido pelos vegetais, é necessário primeiro que sua molécula gasosa (N≡N) seja quebrada, o que permite que cada átomo de nitrogênio seja posteriormente disponibilizado para fixação e combinação com outros elementos, tornando-se assim solúvel e assimilável.
A FIXAÇÃO BIOLÓGICA DO NITROGÊNIO
Diante deste contexto, um processo que se mostra extremamente necessário para que ocorra a fixação e combinação deste nutriente é a fixação biológica de nitrogênio, comumente chamada de FBN. Segundo alguns pesquisadores, esse é um dos processos naturais existentes na Terra mais importantes que existem, sendo comparado até com a fotossíntese. De forma direta, podemos definir a FBN como sendo a conversão de N2 em outras formas de nitrogênio que são capazes de serem utilizadas e aproveitadas pelas plantas.
Quem realiza essa conversão, são bactérias denominadas diazotróficas, como por exemplo as do gênero Rhizobium, que são bactérias fixadoras de nitrogênio que podem possuir vida livre ou associativa. Essas bactérias, através da ação da nitrogenase conseguem transformar o nitrogênio presente na atmosfera em amônia (NH3), que é uma forma assimilável pelas plantas, que através da fotossíntese retribuem fornecendo compostos orgânicos para as bactérias.
Esse processo em que um organismo contribui com o outro recebe o nome de simbiose e, em níveis agronômicos, podemos afirmar que a simbiose entre bactérias fixadoras de nitrogênio e plantas leguminosas (soja, amendoim, feijão, ervilha, etc) é a mais significativa e expressiva. Quando estão em contato com as raízes das leguminosas, essas bactérias induzem a formação de nódulos, que é o local onde ficam alojadas e também realizam os processos de aproveitamento do nitrogênio do ar.
A AÇÃO DOS INOCULANTES
Devido ao fato das bactérias fixadoras de nitrogênio não serem encontradas em grande abundância nos solos brasileiros, um produto que surgiu e ganhou grande importância e notoriedade foram os inoculantes. Estes, por sua vez, são insumos que podem ser líquidos ou sólidos e apresentam em sua composição bactérias previamente selecionadas e capazes de realizar a FBN. Cada inoculante contém bactérias específicas para determinado tipo de cultura.
Com a ação dos inoculantes, as raízes tendem a formar muito mais nódulos em suas estruturas e dessa forma aproveitam muito mais o nitrogênio atmosférico, sendo possível até substituir adubações nitrogenadas na maioria dos casos, reduzindo gastos e otimizando as operações de manejo. Além disso, vale destacar que os custos desses insumos biológicos são muito inferiores quando comparados aos preços de adubos a base de nitrogênio, fazendo com que o produtor consiga economizar e ainda ter um resultado mais expressivo.
Além de promoverem o surgimento de nódulos nas raízes, algumas bactérias presentes nesses inoculantes são capazes ainda de produzirem hormônios de crescimento para as plantas, como é o caso das bactérias do gênero Azospirillum, que estimulam o aumento da densidade de pelos radiculares, proporcionando à planta melhores condições de suportar estresses hídricos e melhoram ainda a capacidade dela absorver e reter a água do solo (EMBRAPA).
COMO É FEITA A INOCULAÇÃO
O processo de inoculação é uma etapa extremamente importante e que merece atenção e alguns cuidados especiais. É também um momento crucial para determinar o sucesso que as sementes terão e como consequência, o sucesso que a lavoura terá.
É sempre indicado seguir as recomendações do fabricante, como por exemplo realizar a inoculação em local fresco, na sombra e de preferência com temperatura equilibrada. Veja a seguir algumas outras dicas para obter sucesso nesse processo:
- Realizar a inoculação em tambor rotatório, betoneira ou maquinário específico previamente higienizado e, se possível, esterilizado.
- Após a inoculação, manter as sementes em descanso para que possam secar e absorver o produto. Importante que as sementes não sejam expostas ao sol, ou calor excessivo.
- Cada fabricante tem a sua recomendação de quantidade de produto a ser utilizada, mas de forma geral podemos dizer que deverá ser fornecido no mínimo 1,2 milhões de células da bactéria por semente.
- Em caso de inoculantes turfosos, é indicado umedecer as sementes em solução açucarada.
- A cada 50kg de sementes é recomendado, na maioria dos casos, que sejam utilizados aproximadamente 300-550ml de inoculante.
- Não é aconselhado utilizar o inoculante direto na caixa semeadora e nem misturar com outros produtos químicos.
- Quando a semeadura é realizada no mesmo dia da inoculação das sementes, as chances de sucesso são maiores.
- O inoculante não pode ser misturado com os fungicidas e micronutrientes, pois estes são, em maior ou menor grau, tóxicos para as bactérias. Recomenda-se primeiro fazer o tratamento de sementes com esses produtos para só depois fazer a inoculação (EMBRAPA).
VANTAGENS DA FBN
Assim como mencionado anteriormente, as vantagens e as contribuições promovidas pela fixação biológica de nitrogênio para as plantas leguminosas são muito importantes. Mesmo existindo inoculantes compatíveis para diversos tipos de cultura, os resultados mais expressivos e notórios que podemos perceber ocorrem na cultura da soja. Veja a seguir um estudo realizado que comprovou os benefícios promovidos pelos inoculantes:
Número de nódulos nas raízes, produção de grãos em nitrogênio acumulado na soja com e sem inoculação de Bradyrhizobium
Com todas essas informações, fica clara e evidente a grande contribuição que as bactérias fixadoras de nitrogênio promovem às plantas. Além de aumentarem a quantidade de nódulos por raízes, elas proporcionam também um aumento significativo na matéria seca da parte aérea, melhor rendimento de grãos e maior quantidade de nitrogênio acumulado. É uma excelente alternativa ao produtor que deseja produzir mais, com mais qualidade e de forma sustentável, reduzindo custos e a utilização de adubos nitrogenados.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Mendes, Iêda de Carvalho. 20 perguntas e respostas sobre fixação biológica de nitrogênio / Iêda de Carvalho Mendes, Fábio Bueno Reis Junior, Mariangela Hungria da Cunha. – Planaltina, DF : Embrapa Cerrados, 2010.19 p. – (Documentos / Embrapa Cerrados, ISSN 1517-5111, ISSN online 2176-5081 ; 281).
RIZOBACTER – Fixação Biológica de Nitrogênio e a inoculação: entenda sua importância para a planta – disponível em http://www.rizobacter.com.br/novidades/5/noticias/30/fixacao-biologica-de-nitrogenio-e-a-inoculacao-entenda-sua-importancia-para-a-planta – acesso em 29/05/2020.
ZILLI, J. E. et al. Inoculação de Bradyrhizobium em soja por pulverização em cobertura. Pesq. agropec. bras., Brasília, DF, v. 43, n. 4, p. 541-544, 2008.
AGEITEC – EMBRAPA; Fixação Biológica de Nitrogênio – disponível em https://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/cana-de-acucar/arvore/CONTAG01_31_711200516717.html acesso em 29/05/2020.