Diovana M. Santos
Universidade Federal de Lavras- 3rlab
As vacas produzem continuamente calor e humidade, que liberam para o ar que as rodeia. O sistema de ventilação substitui o ar, mais quente e húmido, do interior do estábulo pelo ar, mais fresco e seco, do exterior. Além de retirar calor e humidade ao ambiente interior do estábulo, a ventilação também ajuda a manter as condições de bem-estar e saúde para os animais. Um sistema de ventilação consiste num conjunto de entradas e saídas de ar e um mecanismo de movimentação. Os sistemas de ventilação dividem-se em dois grandes grupos, em função do processo de movimentação do ar: ventilação natural e ventilação forçada. Um bom sistema de ventilação deve renovar o ar, ser regulável, ajustando-se a cada momento às condições interiores e exteriores, e ser flexível, de modo a poder proporcionar um bom ambiente em qualquer estação do ano.
Normalmente os produtores optam pela ventilação natural. Quando há vento, é este o principal responsável pela renovação do ar. Condições essenciais: lados abertos, beirais altos, localização e orientação corretas da instalação, ausência de obstáculos ao vento nas proximidades. Quando não há vento, a renovação de ar faz-se por convecção, ou “efeito chaminé”: o ar quente sai pela fresta de cumeeira, gerando uma depressão que aspira o ar fresco pelos lados abertos da instalação.
Uma boa opção é o chamado “estábulo de ventilação cruzada de baixo perfil” (LPCV, na sigla em inglês) que tem ambientes fechados e monitoração permanente ao longo do ano. Esse tipo de acomodação funde confinamentos convencionais (4 ou 6 linhas de free-stall) dentro de uma mesma construção, eliminando o espaço necessário para separar cada estábulo. Por exemplo, quando dois free-stalls tradicionais de 4 linhas são unidos, surge um novo sistema de LPVC (figura 1) de 8 fileiras. O interior da construção é semelhante ao de galpões comuns, a maior diferença é a presença de defletores instalados aproximadamente no meio da distância entre o chão e o teto e estão acoplados às colunas das paredes (figura 2). A função deles é aumentar a velocidade do ar e redirecionar o vento em direção ao free-stall.
Figura 1- Exemplo de um estábulo LPCV de 200 metros de largura, com portões de acesso em todas as ruas e uma pista central conectando o espaço à sala de ordenha.
Figura 2- Defletores de metal localizados entre duas fileiras de free-stall.
Em uma construção LPCV o declive do telhado é oito vezes menor do que em estábulos convencionais, e a altura das paredes permanece a mesma, mas apresenta menor inclinação no telhado. A altura no centro do galpão é inferior no sistema LPCV (por isso o nome de “baixo perfil”, Low-profile). Em uma das paredes laterais há ventiladores, no lado oposto existe uma entrada de ar (feita de painéis de evaporação em alguns casos); assim, o cruzamento (cross) de ventilação da denominação do sistema. As portas de acesso às ruelas entre as acomodações ficam nas extremidades dianteira e/ou traseira, semelhante aos confinamentos convencionais.
Uma das vantagens desse sistema é que permite concentrar as vacas, reduzindo a distância das deslocações. A ventilação natural limita a largura dos pavilhões, já na ventilação cruzada, a largura dos pavilhões pode ser o dobro ou mais. A temperatura mantém-se mais constante ao longo do ano e então as vacas passam mais tempo na zona de conforto térmico, aumentando do bem-estar dos animais.
A produção de leite sobe significativamente de 1,5-2,5 kg por vaca e dia, ou cerca de 450 kg/vaca/ano. O consumo de alimento também aumenta, mas a eficiência de conversão alimentar é melhor, pois há menos gastos metabólicos com o controle da temperatura corporal. Além disso, pode haver outras considerações sobre o bem-estar animal que favorecem o uso de sistemas LPCV. Foram avaliados diferentes tipos de habitação (estábulos LPCV, estábulos Compost Barn e estábulos free-stall convencionais) e notou-se que há uma tendência de um maior conforto animal (índice de conforto=número de vacas deitadas em suas acomodações, dividido pelo número de animais nas acomodações; 85,9% vs. 81,4%) e interação ambiental (índice de interação com o estábulo=relação entre número de vacas deitadas pelo número de animais confinados que não estivessem se alimentando; 76,8% vs. 71,5%) na comparação de LPCV com estábulos convencionais, respectivamente.
Algumas das desvantagens desse sistema são os maiores custos com energia e manutenção, devido ao funcionamento contínuo da ventilação; melhor adequado para grandes propriedades – o mínimo sugerido é de 400 vacas e em climas com elevada umidade relativa, o sistema de arrefecimento por evaporação é menos eficiente em evitar o estresse térmico.