Lucas Machado
Universidade Federal de Lavras – 3rlab
A mosca dos estábulos (Stomoxys calcitrans), também conhecida como mosca da vinhaça (figura 1), é um inseto que tem causado enorme prejuízo na cadeia produtiva do agronegócio brasileiro, estima-se que os prejuízos passem de R$ 1 bilhão de reais por ano. O inseto, de aparência semelhante à mosca doméstica, se alimenta de sangue principalmente de equinos e bovinos, sendo encontrado próximo a estábulos, currais e confinamentos.
O aumento considerado da infestação da mosca dos estábulos está diretamente ligado ao desenvolvimento das usinas de cana-de-açúcar, devido aos resíduos gerados pela mesma, que proporcionam condições ideais para o desenvolvimento do inseto e ataque aos animais que estão próximos as usinas.
Os ataques dos insetos ocorrem principalmente na região do lombo e das patas dos animais, deixando os animais inquietos. Devido à dor e ao incômodo, os animais apresentam um comportamento bem característico, que se resumem em ficarem próximos uns aos outros para esfregarem o corpo, não param de balançar o rabo e permanecem constantemente tentando coçar as patas (figura 2). Os bovinos são os mais afetados, podendo ocorrer redução de até 30% do peso e de até 50% na produção de leite. Nos últimos anos tem sido registrados surtos nas proximidades das usinas sucroalcooleiras nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás.
As moscas se alimentam do sangue de uma a duas vezes por dia, sendo necessário cerca de três minutos para ingestão e pode-se observar uma lesão característica de dermatite. As fêmeas podem ovipositar entre 25 e 50 ovos, em matéria vegetal em decomposição, como a palha da cana úmida pela vinhaça distribuída via fertirrigação. A evolução, do ovo até a mosca adulta pode durar de 12 a 60 dias, dependendo da temperatura e os adultos podem viver durante cerca de um mês.
O resíduo sólido da filtragem do caldo da cana-de-açúcar, conhecido como “torta de filtro” e a palhada da cana misturada com o resíduo da destilação do caldo fermentado durante a produção de álcool, chamado “vinhaça”, que é utilizado em fertirrigação, são apontados como os principais responsáveis pela multiplicação e desenvolvimento das moscas nas usinas (figura 3).
No entanto, não é apenas a usina responsável pela proliferação dessas moscas. Restos de alimentos dos animais, como: ração, silagem e feno, somados aos dejetos dos animais, decorrentes de uma limpeza inadequada, são ambientes favoráveis ao desenvolvimento da mosca nas propriedades. Estudos apontam que a utilização inadequada da adubação orgânica, como o uso da cama de frango e dejetos da suinocultura, tem agravado a situação.
Para controle das moscas nas propriedades, é essencial adotar como estratégia o manejo sanitário, que consiste basicamente em remover e dar o destino adequado aos resíduos alimentares e dejetos dos animais, controlar vazamentos e drenar bem o terreno a fim de evitar empoçamentos, principalmente próximo aos cochos. Nas usinas, em função das extensas áreas e grande quantidade de resíduo gerado, é necessário adotar medidas mais específicas, como: reduzir a quantidade de vinhaça que é distribuída por hectare, escarificar o solo, para que a palhada seja incorporada e após a fertirrigação, realizar o enleiramento com posterior revolvimento da palhada. Essas medidas têm por objetivo aumentar a absorção da vinhaça pelo solo e diminuir a umidade, se tornando um ambiente menos favorável às moscas.
A utilização de inseticidas nos ambientes e até mesmo sobre os animais não tem mostrado eficiência e tão pouco tem sido viável, sendo que não existem informações concretas de como, onde e quando utilizar esses inseticidas comerciais. A Embrapa Gado de Corte publicou um circular técnico sobre a prevenção dos surtos através da queima profilática da palhada residual pós-colheita, entretanto, as queimadas são regulamentadas por leis específicas, sendo necessária autorização dos órgãos competentes.
O combate da mosca dos estábulos só se torna eficiente quando as fazendas e usinas trabalham em conjunto, adotando todas essas estratégias de prevenção e controle mencionadas anteriormente.
1 Comment
O que ela usa pra picar (Probóscide) não é pontudo e sim, rombudo (ponta arrendondada). Como pode isso entrar na pele do boi ? cuja as camadas de pele é tão espessa. É como tentar atravessar um cabo de vassoura num couro curtido. Tem certeza que as feridas são mesmo dessa mosca e não (talvez) de carrapato (que também deve ser dolorida, dada a forma (quase broca), com que fura a pele do hospedeiro. Nessa caso, o carrapato cai no solo quando se enche de sangue e deposita os ovos na ferida. Depois vem as moscas, atraídas pelo sangue da ferida e “se servem” do estrago deixado pelo carrapato. Tem certeza que não acharam carrapatos (ou suas larvas) pelo solo, nas pastagens ?