Pedro Felipe Martins da Silva
Universidade Federal de Lavras – 3rlab
Historicamente a produção de aves ou vulgarmente a criação de “galinhas”, sempre teve papel de grande importância dentro da sociedade. As primeiras criações foram originárias do continente asiático, onde os animais tinham papel principal de ornamentação nas residências. Porém somente no final do século XIX os ovos e a carne passaram a ser apreciados pela população e consequentemente a atividade de criação de aves passou a ter maior relevância dentro da sociedade. No Brasil as primeiras aves domesticadas chegaram por volta do início do século XX trazida pelos portugueses, no primeiro momento tais aves foram criadas de maneira mais extensiva em fazendas com o intuito de produzir carnes e ovos para os moradores da zona rural. Com a crescente urbanização e o aumento do êxodo rural a atividade foi sofrendo inúmeros processos de intensificação a fim de conseguir suprir a demanda por alimentos dos grandes centros urbanos.
Mercado e Produção Brasileira
Através de avanços na pesquisa aplicada na criação de frangos, possibilitou ao Brasil ser considerado um dos maiores produtores de carne do mundo. Segundo dados da United States of Agriculture em 2011, o Brasil já ocupava a 3° colocação entre os maiores produtores de carne de frango do mundo, com produção estimada de aproximadamente 13,05 milhões de toneladas, nesse caso somente sendo superado pela China (produção de 13,2 milhões de toneladas) e Estados Unidos (maior produtor mundial com produção de 16,75 milhões de toneladas).
Em relação às exportações, o país é considerado o maior exportador de carne de frango do mundo. Em 2015 as exportações acumularam 4 milhões de toneladas (maior valor registrado na história), para se ter ideia da evolução das exportações brasileira nos últimos anos em 2002 o volume exportado não passava de 1,625 milhões de toneladas, em 10 anos o país conseguiu aumentar em 246% o volume exportado. Sabe-se que mais de 150 países importam a carne de frango do Brasil, no entanto os 10 maiores importadores são responsáveis por 63,7% do total das exportações do Brasil, sendo que os três maiores importadores do Brasil são: Arábia Saudita, Japão e Holanda.
De maneira geral as grandes produções estão concentradas na região sul do país, região responsável por quase 73% da produção nacional, seguido da região centro-oeste responsável por 15,11% e a região sudeste responsável por 12,26%. Dentre os estados brasileiros o estado de Santa Catarina é o estado de maior produção, responsável por produzir aproximadamente 27% de toda produção nacional, seguido do Paraná (26,48%) e Rio Grande do Sul (18,86%). A produção dos demais estados estão representadas na figura abaixo (Figura 1).
Figura 1- Quantidade de carne de frango produzida nos estados brasileiros.
Consumo interno
Em razão das grandes mudanças na sociedade nos últimos anos, houve alterações no padrão de consumo de carnes, observa-se através de estudos realizados que o consumidor atual prioriza produtos em relação ao seu preço, saudabilidade e praticidade em relação ao seu preparo. Nesse sentido a carne de frango vem conquistando grande espaço no “cardápio” do consumidor brasileiro, pois tal produto apresenta cotação de preço menor em relação a carne suína e bovina, apresenta bons aspectos nutricionais como baixo porcentagem de gordura, rico teor de proteína e contém baixa taxa de colesterol. Também é notado que nos últimos anos a indústria vem procurando elaborar novos meios de consumo da carne de frango, através de produtos semi prontos.
Em detrimento das vantagens competitivas citadas acima, é observado que ano após ano há crescentes incrementos no consumo per capita. Em 2004 o consumo de carne de frango por habitante ano foi de aproximadamente 33,7 Kg, já em 2011 o consumo já era de 41,82 Kg (19,42% de aumento), enquanto que no mesmo período o consumo per capita de carne bovina aumentou somente 3,7%.
Vantagens competitivas do Brasil
Por se tratar de um país de dimensões continentais e, portanto, com grande disponibilidade de áreas destinadas a produção agrícola e pecuária, fez com que o Brasil alcançasse uma certa estabilidade na produção de carnes. Sabe-se que o Brasil é o 3° maior produtor mundial de milho e o 2° maior produtor mundial de soja, com essa grande oferta de grãos no mercado interno tem possibilitando a produção de carne com custos de produção mais baixo quando comparados a países que não produzem grandes quantidades de grãos.
Além da grande produção de grãos no país, os climas característicos das grandes regiões produtoras são mais propícios a criação de frangos quando comparados a países de clima temperado. Nesses países é necessário que se gaste mais com energia a fim de promover maior aquecimento dos galpões de produção em decorrência das baixas temperaturas registrados no inverno, gerando maiores custos para se produzir.
Limitações
Em detrimento da sua grande área territorial, o pais apresenta sérios problemas em relação a logística. É de comum conhecimento que a maioria das rodovias brasileiras apresenta graves problemas em relação a infraestrutura e segurança, como consequência desse fato os custos relacionados ao frete são elevados, tornando assim a produção agropecuária menos viável. A solução para tentar solucionar tal problema seria utilizar outros meios de transportes alternativos como as ferrovias e hidrovias que por si só apresentam menores custos operacionais quando comparados ao transporte rodoviário (figura 2).
Impulsionados pela alta do dólar em 2016 houve grande volume de exportações de grãos, com isso o mercado interno sofreu com a baixa oferta de milho e soja e consequentemente com os altos preços. Em santa Catarina o milho que era cotado em R$27,00 em outubro de 2015 passou a ser cotado entre R$43,00 a R$47,00 em março, ou seja, somente considerando o milho o custo com a alimentação aumentou 57,4% em 6 meses.
Em virtude dos altos custos para a alimentação dos animais, muitos empreendimentos estão se tornando inviáveis economicamente, principalmente para aquelas empresas que tem baixa capacidade produtiva. Em médio prazo tal situação pode vir a representar um grande risco para o setor granjeiro do país, pois com a saída das menores empresas do mercado pode vim a ocorrer a concentração de mercado, onde pequenos números de empresas controlam todo o mercado.
Figura 2- Hidrovia usada para o escoamento de grãos.
Perspectiva
Espera-se que com o aumento da população mundial e a crescente urbanização nos países emergentes o consumo de proteína animal aumente, principalmente a carne de frango. No entanto já se observa a preocupação das empresas em agregar valor ao produto final na tentativa de alcançar maiores ganhos, através de cortes selecionados, food service, desossa, produtos semi prontos, etc.
Segundo alguns estudos, até 2050 a população mundial chegará a 9,2 bilhões de habitantes, sendo que somente na Ásia responderá por 50% do aumento populacional de todo o mundo. De acordo com essa informação observa-se que há um grande mercado ainda a ser explorado visando grandes exportações para a determinada região. Líderes e representantes do setor granjeiros brasileiros devem focar seus esforços a fim de conquistar esse crescente mercado.