Na atividade leiteira existem diversos desafios, dentre eles a produção de novilhas de reposição. Muitas vezes essa classe de animais na fazenda não recebem os cuidados de manejo e nutrição necessários, com a ideia errônea de que não se deve gastar com esses animais já que não estão na sua fase produtiva. Porém pequenos gastos já demonstram grande impacto, exemplos: melhora na produção futura, precocidade, idade ao primeiro parto, ganho de peso e qualidade das novilhas.
O primeiro passo para uma boa criação de bezerras que garantirá boas vacas é muito simples. A primeira mamada é de extrema importância, pois nela que estão todos os anticorpos necessários para as primeiras semanas de vida. Devido ao tipo de placenta, bovinos recém-nascidos não possuem imunoglobulinas (Ig), ou seja, não tem anticorpos, todos os anticorpos estão no colostro, principal impactante na taxa de mortalidade de bezerras.
Inúmeros estudos americanos mostram que de 7 a 11% da taxa de mortalidade está relacionado a falha na aquisição de imunidade passiva (FAIP). Ainda assim diversos sistemas de produção não realizam os diversos protocolos de colostragem. Considera-se que bezerras com concentração de Ig circulante menor que 10mg/ml (levando em consideração amostras de 24 e 48 horas de vida) estejam com FAIP. Para que esta aquisição de anticorpos seja bem-sucedida, devemos priorizar alguns fatores, sendo os principais em ordem estes: tempo de fornecimento, qualidade de colostro (concentração de Ig) e volume fornecido.
A absorção de Ig é diretamente relacionada com o tempo de ingestão do colostro após o nascimento pela bezerra, já que a absorção acontece nas primeiras horas de vida, não ocorrendo após 24h. Aconselha-se fornecer o colostro logo após o nascimento ou o mais rápido possível, já que a absorção da Ig ocorre na maior parte no intestino, e ao passar do tempo a atividade enzimática começar a fechar os canais de entrada das Ig, e perda da habilidade de absorção de Ig independente do volume fornecido. Na figura 1, o tempo e o volume de colostragem foi relacionado à concentração de imunoglobulina. Apesar do maior volume de colostro (2L) expresso pela barra mais escura no gráfico, resultar em maior concentração de IGG, a concentração já começa a cair após 4 horas de vida. O nível ótimo de 10 mg/dl de Ig já não é alcançada após 12 horas do nascimento nem com maior volume de colostro.
Figura 1 – Relação entre horas de vida no fornecimento de colostro e pico de concentração sérica de IgG
Quando o colostro é bom, e quando é ruim? O colostro é avaliado de acordo com a sua densidade, sendo que os valores de proteína, gordura e minerais totais são bem maiores que os do leite, e baixa a lactose voltando ao normal ao decorrer das ordenhas (Tabela 1).
Tabela 1. Alteração na composição de colostro conforme as ordenhas
A ferramenta utilizada para avaliar o colostro é o colostrometro, um densímetro desenvolvido para classifica-lo em três faixas de acordo com a concentração: 1) ruim <22 ml/mg, 2) moderado de 22 a 50mg/ml, 3) bom >50 mg/ml. Uma alternativa para que as bezerras sempre sejam alimentadas com colostro de alta qualidade é a formação de um banco de colostro na propriedade, já que não se tem perda de qualidade em colostro armazenados em freezer por até um ano e até uma semana em geladeira, retirando apenas as porções que vão ser utilizadas.
Qual a quantidade de colostro deve ser fornecida para a bezerra recém-nascida? Tradicionalmente a recomendação é de 10% do peso vivo nas primeiras 24 horas. Por exemplo, uma bezerra da raça Holandês com 40kg de PV em média deve mamar 2L o mais rápido possível, e mais 2L depois de 12 horas (total de 4L ou 10% do peso), para atender as exigências de > 10 mg/ml de Ig no plasma.
A colostragem é um divisor de águas na produção leiteira, estudos mostram diversos motivos para sua execução bem-feita nas propriedades: -Vacas são mais produtivas de acordo com a quantidade de Ig nas primeiras horas de vida;
-O ganho peso é consideravelmente aumentado em novilhas que ingeriram maior quantidade de colostro de alta qualidade, cerca de 200g a mais que novilhas que não tiveram uma boa colostragem.
Parâmetros mais que convincentes para que vire rotina em todas as propriedades produtoras de leite, já que os custos relativos para uma boa colostragem são pequenos e de grande impacto na fazenda.