Giane Lima Nepomuceno
Universidade Federal de Lavras – 3rlab
A cadeia produtiva da suinocultura atingiu um alto patamar tecnificado e de credibilidade de seus produtos. Com isso, problemas associados à intensificação precisam ser enfrentados considerando que o mercado exige e oferece vantagens competitivas para quem consegue atender. A contaminação por salmonela se caracteriza por dois problemas: a presença de sorovares patogênicos, adaptados ao suíno, que provocam gastroenterites e septicêmias e a presença de sorovares que não causam doença nos animais, mas são as principais fontes de contaminação das carcaças nos frigoríficos e que podem infectar humanos. Cerca de 15% a 20% dos alimentos de origem suína são responsabilizados por surtos de salmonelose humana. No Brasil não existe um programa oficial de monitoria ativa da contaminação de carcaças suínas por salmonelas, porém as agroindústrias possuem protocolos de monitoria interna, que vem tomando espaço dentro dos programas de boas práticas de produção.
O gênero salmonela pertence à família Enterobacteriaceae, sendo composta por bacilos gram-negativos não esporulantes, intracelulares facultativos e geralmente móveis, com flagelos. Os suínos podem ser infectados por uma grande variedade de espécies e sorotipos de importância na saúde humana. Entretanto, os de maior prejuízo clínico para os suínos são a Salmonella choleraesuis e a Salmonella thyphimurium (EKPERIGIN & NAGARAJA, 1998; MURRAY, 2000) (figura 1). Os fatores de virulência da salmonela estão relacionados à adesão, invasão, citotoxicidade, resistência a fagócitos e a combinação destes. A doença pode variar de manifestações brandas e sem sinais clínicos à enterite aguda ou crônica que, em casos mais graves, pode levar a quadros de septicemia. A severidade do caso varia de acordo com a virulência da cepa infectante e o estado imunológico do leitão. Percebe-se que os surtos ocorrem, principalmente, em casos de animais debilitados e em situações de estresse, geralmente com idade média de cinco semanas a dezesseis semanas. Em leitões neonatos este quadro é incomum, pelo fato de serem protegidos pela imunidade passiva via colostro.
Figura 1: Animal infectado por Salmonella.
O principal sinal clínico da salmonelose é a diarreia. Isto ocorre porque conforme as bactérias se multiplicam no intestino do animal elas geram quadros isquêmicos locais, levando a uma inflamação e necrose da mucosa intestinal. Em consequência, o organismo buscando compensar a má absorção, aumenta a permeabilidade intestinal, fazendo com que mais água e nutrientes cheguem à luz do órgão, ocorrendo assim, a diarreia (figura 2).
Figura 2: Animais com sinal clínico de salmonella diarreia.
A salmonelose em suínos é responsável por elevar os custos da produção por conta da necessidade de utilização de antibióticos e do aumento de mortalidade, em especial nos animais mais jovens. Além disso, possui grande importância em saúde pública, sendo responsável por surtos de infecções e toxinfecções alimentares. Dentro deste contexto o suíno tem um papel importante na epidemiologia da doença em humanos, pois atuam como reservatórios deste agente, causando preocupação quanto à prevenção e ao controle deste agente em granjas. Muito se investe no esclarecimento da epidemiologia deste processo. Trata-se de um tema de grande complexidade e que deve ser elucidado até que seja possível estabelecer um programa realmente eficiente para o controle de infecção.
A principal forma de infecção é fecal-oral, em que a bactéria pode alojar-se nos linfonodos e ser excretada quando o animal for submetido a quadros de estresse, como no transporte e/ou reagrupamento. A infecção por salmonela apresenta uma grande capacidade de disseminação por meio da cadeia produtiva, já que animais portadores podem contaminar lotes inteiros. Com isso, os fatores predisponentes para a contaminação são: falhas no sistema de biosseguridade, incluindo os manejos de limpeza, desinfecção e a presença de animais portadores e excretores. Além disso, é importante realizar o controle de roedores e outros veiculadores, como insetos e aves. Fatores estressantes como, transporte, reagrupamento, superlotação, desafio calórico, pré-parto e outros fatores imunossupressores, apresentam importância na epidemiologia da doença.
Animais portadores de salmonela podem infectar superficialmente a carcaça e subprodutos da carne suína. Isto porque o estresse do transporte e do manejo pré-abate desencadeiam a excreção da bactéria, ocasionando a transmissão horizontal entre os animais nos caminhões e nas baias de espera. Assim, transmissão entre lotes pode ocorrer, quando há ineficiência nos processos de limpeza e desinfecção, permitindo que a bactéria permaneça na baia e infecte um novo grupo de animais.
A epidemiologia da infecção por Salmonella sp. em suínos é complexa, apresentando múltiplos fatores determinantes da transmissão do microrganismo. Ao longo da cadeia de produção é possível observar a amplificação do problema, geralmente pela rápida transmissão da bactéria a animais não infectados, após o contato com ambientes e animais positivos para Salmonella. Sendo assim, a garantia de um produto livre de Salmonella passa por medidas de controle implementados na granja, no transporte, na espera pré-abate e na linha de processamento. Somente a ação integrada em todas as fases garantirá o sucesso dos programas de controle.