Gabriella Lima Andrade de Sousa
A legislação ambiental determinou o fim das queimadas nos canaviais até 2031, e, mesmo não tendo parado completamente, a prática já apresenta enormes reduções nos últimos anos. Um exemplo dessa diminuição pode ser percebido na produção dos associados na União dos Produtores de Bioenergia de São Paulo, que já atingiu 91% com colheita mecanizada no último ano e que em 2017 chegará a 100%. A medida, apesar de positiva, resultou numa abertura para que a cigarrinha das raízes, também conhecida como cigarrinha da cana, voltasse a crescer com força total, causando grandes danos às plantações.
Atualmente, a cigarrinha das raízes (Mahanarva Fimbriolata) está presente em diversas regiões, com elevadas populações no Centro-Sul e em alguns Estados do Nordeste do País, causando danos severos à produtividade e à qualidade da matéria-prima.
O clima apresenta grande influência na dinâmica populacional dessa praga, pois com o início da estação chuvosa ocorre a eclosão dos ovos, aumentando o número de indivíduos. O ciclo biológico da cigarrinha das raízes apresenta duração média de 60 dias, o que possibilita a presença de cerca de três gerações da praga a cada safra.
A espécie é encontrada com mais facilidade na cana soca, porém, em regiões com alta pressão populacional ou em áreas próximas às pastagens, pode-se encontrar a espécie até mesmo em cana planta. O nome da praga está ligado ao seu hábito alimentar: quando jovens, se alimentam das raízes e radicelas das plantas de cana.
As duas principais fases desse inseto, a inicial (ninfa) e a adulta, causam danos por meio da introdução de toxinas nas plantas. A diferença é como isso ocorre e os danos causados. Na fase inicial (ninfa) dessa praga, que é o momento mais preocupante, o inseto se alimenta da seiva da raiz (figura 1).Caso não haja tratamento, as plantas apresentarão perdas substanciais de água e nutrientes que, com o tempo, desencadearão o secar das folhas, a diminuição do teor de açúcares das canas e, por fim, levarão a planta à morte. Os adultos também causam prejuízos à planta, mas em outra frente. Eles sugam a seiva das folhas, causando amarelecimento e, em consequência, diminuição da fotossíntese, que em casos mais sérios também pode secar as folhas.
Figura 1: Ninfa da cigarrinha na raiz
Em sua fase adulta, o inseto mede cerca de 13 milímetros e pode apresentar duas cores. No caso dos machos, tons mais avermelhados com manchas longitudinais nas costas, e, no caso das fêmeas, uma cor marrom-escura, com as mesmas manchas (figura 2). Já na fase jovem, pode-se identificar a presença da cigarrinha pela existência de uma espuma esbranquiçada, bem parecida com espuma de detergente, próxima à raiz.
Figura 2: Adultos de cigarrinha das raízes (macho à esquerda e fêmea à direita)
Assim como a maioria das pragas, o controle desse inseto pode ser feito de três modos. Por meio do controle biológico, quando utilizamos um fungo conhecido como Metarhizium, do controle cultural, utilizando-se do desafogamento das soqueiras e do uso de variedades mais resistentes, e o controle químico, feito pela utilização de inseticidas.
O uso de inseticidas químicos tem se mostrado uma eficiente forma de controle. Alguns produtos, porém, começam o controle de forma efetiva somente de 15 a 20 dias após serem aplicados e para a obtenção de um manejo eficiente é necessário um rápido efeito de choque. Quanto maior o período de convivência da praga com a planta, maiores serão os danos em produtividade e qualidade da matéria-prima.
Por todo o exposto, fica claro todos os danos que a cigarrinha das raízes pode causar, principalmente nos canaviais. Medidas de controle são importantes para redução dos prejuízos causados, desde que sejam utilizadas de forma racional. A adoção de medidas de controle adequadas, tais como práticas culturais, cultivares resistentes e uso racional de inseticidas, pode favorecer o aumento dos inimigos naturais, reduzindo os gastos para o produtor.