Gabriel Castillo
Universidade Federal de Lavras-3rlab
A ferrugem asiática, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizie, na cultura da soja é uma das doenças com maior importância na atualidade. Isso se deve ao fato deste fungo causar grandes perdas no rendimento da planta. A doença teve sua origem na Ásia, e no Brasil foi encontrada no final da safra de 2000/2001, no estado do Paraná. Diante disso, disseminou-se rapidamente para outros estados e vêm aumentando sua área de ocorrência a cada safra. Atualmente, tem causado grandes problemas nas lavouras de soja principalmente na região do cerrado, onde vem sendo necessário excessivas pulverizações de fungicidas na tentativa de melhor controle da doença.
Sabe-se que o patógeno é favorecido por chuvas bem distribuídas e longos períodos de alta umidade. A temperatura considerada ótima para seu desenvolvimento varia de 18 a 28°C e sob essas condições as perdas na produtividade podem variar de 10 a 90%.
Sintomas e identificação
As lesões causadas nas folhas da planta pela ferrugem asiática podem variar de acordo com o cultivar. Caso seja um cultivar suscetível, as lesões predominantes são castanhas claras (figura 1). Entretanto, quando ocorre em altas incidências pode gerar um crestamento foliar muitas vezes confundido com os sintomas de Cercospora. Já em cultivares resistentes, as lesões predominantes são castanho avermelhadas.
Figura 1- Folha lesionada de um cultivar de soja suscetível à ferrugem asiática.
Os primeiros sintomas são encontrados nas folhas inferiores da planta, sendo minúsculos pontos de coloração esverdeada a cinza esverdeada que variam de 1 a 2mm de diâmetro e são mais escuros que o tecido sadio da folha. O fungo por ser de hábito biotrófico se nutre do tecido vivo das plantas. Em cultivares suscetíveis, as células infectadas morrem após a ocorrência de alta esporulação. As lesões no início da infestação não são identificadas facilmente e para melhor visualização destas nesse estágio, é importante analisar uma folha com suspeita através do limbo foliar pela face superior da folha (adaxial) diante de um fundo claro. Após localizado o ponto suspeito, deve-se observar o ponto escuro pela face inferior (abaxial) da folha, com o auxílio de uma lupa de 10x a 30x de aumento, ou microscópio estereoscópico e identificar a presença de urédias. As urédias são caracterizadas por pequenas protuberâncias na face abaxial da folha e são estruturas reprodutivas do fungo, sendo responsáveis pela formação e disseminação dos esporos do patógeno. Á medida que os tecidos infectados morrem, as manchas aumentam de tamanho, podendo chegar a 4 mm e adquirem a cor castanho avermelhada.
Para melhor identificação das urédias à campo e a olho nu, deve-se fazer com que a luz incida com inclinação sobre a face abaxial da folha, fazendo assim com que ocorra a projeção de sombras das urédias. Posteriormente, as estruturas reprodutivas do fungo (urédias) adquirem cor castanho clara a castanho escura, e expelem os uredosporos. Estes de coloração hialina (cristalina), ficam beges e se alojam ao redor dos poros ou são translocados pelo vento. Sabe-se que o número de urédias pode variar de um a seis. Progressivamente o tecido da folha, ao redor das urédias iniciais, adquirem coloração castanho clara até castanho avermelhada, variando de acordo com a presença/ausência de gene resistente no cultivar. E nesse estádio, as lesões se tornam facilmente visíveis em ambas as faces da folha.
Os principais prejuízos causados pela infecção por esse fungo é o rápido amarelecimento e queda prematura das folhas. Consequentemente, quanto mais precoce ocorrer a desfolha, menor será o tamanho final dos grãos, gerando grandes perdas no rendimento e qualidade final da produção. Quando a doença atinge a cultura na fase de formação das vagens ou no período inicial de granação poderá causar o aborto e queda destas, resultando em perdas quase totais da produção.
Controle
Erradicar a ferrugem asiática dentro da cultura da soja é algo impossível. Entretanto, é possível evitar que a doença atinja altos índices de incidência e ocasione grandes perdas no rendimento da cultura. Diante disso, existem algumas estratégias de manejo que auxiliam no controle e o produtor deve estar sempre preparado para realizar a pulverização de fungicidas quando necessário, tanto pela ocorrência da doença ou atuando de forma preventiva.
No Brasil, há algumas estratégias de manejo recomendadas, são elas:
- Eliminar plantas de soja voluntárias e não cultivar soja na entressafra adotando vazio sanitário;
- Utilizar cultivares com ciclo precoce;
- Realizar o plantio/semeadura no início da época recomendada de cada região;
- Monitorar a lavoura desde o início do ciclo da cultura;
- Utilizar cultivares resistente a doença;
- Utilizar fungicidas no início do aparecimento dos sintomas ou até mesmo de maneira preventiva.
Atualmente no país existem mais de 110 fungicidas registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para o controle dessa doença, entretanto na escolha do produto deve-se observar dois fatores. Primeiro: é recomendado utilizar a associação de dois ou mais fungicidas formulados a base de princípios ativos diferentes, como por exemplo: triazol+estrobilurina e azoxistrobina+benzovindiflupir, devido a cada princípio ativo ter uma ação diferente sobre o patógeno, aumenta-se as chances no sucesso do controle. Segundo: em caso de necessidade, realizar novas pulverizações, para isso é importante respeitar o período de carência dos produtos utilizados, bem como realizar a rotação de produtos a cada aplicação evitando assim o uso repetitivo de um mesmo grupo de fungicidas dentro de uma determinada área. Dessa maneira, o fungo causador da ferrugem não vai se adaptar a aplicação de um mesmo princípio ativo e, portanto, não desenvolverá populações resistentes.
Cabe ressaltar que mesmo que um produto apresente ótima eficiência no controle da doença, não se recomenda realizar diversas pulverizações consecutivas com o mesmo, uma vez que poderá induzir o fungo a desenvolver resistência a esse defensivo, gerando futuros problemas.
A severidade da doença se dá em função das variações das condições ambientais, sendo de ano para ano, de estação para estação ou de local para local. Sabe-se que cultivares resistentes/tolerantes sofrem menores quedas de produção se comparado com as suscetíveis, entretanto a resistência genética poderá ser perdida com o tempo. As condições climáticas no Brasil são favoráveis para o desenvolvimento do patógeno, devido a isso ocorreu sua rápida disseminação, bem como sua extrema severidade nas regiões produtoras de soja em todo país. Diante disso, cabe ressaltar que os fungicidas fazem parte de apenas uma das estratégias de manejo. Sendo então, necessário a adoção das demais ferramentas para se obter melhor eficácia no controle da ferrugem asiática dentro da cultura da soja.