Gabriella Lima Andrade de Sousa – UFLA – 3rlab
A cercosporiose é uma doença antiga nos cafezais brasileiros e das Américas, também conhecida como mancha de olho pardo, mancha parda, mancha circular ou olho de pombo. No Brasil, a doença está presente em grande parte das lavouras cafeeiras, sendo que, nas regiões em que se apresentam condições favoráveis ao desenvolvimento da doença, como por exemplo a seca e solos com baixa fertilidade, constitui-se em uma doença de grande importância econômica.
A doença, seus sintomas e danos
O agente causal dessa doença é o fungo Cercospora Coffeicola, que ataca folhas e frutos, causando prejuízos em mudas e em plantações no campo, principalmente em cafezais jovens e também em regiões com falta de água. A doença se apresenta com os sintomas característicos que conferiram as suas denominações: inicia-se com pequenas manchas circulares de coloração castanho claro a escuro, que crescem rapidamente, com o centro branco-acinzentado, quase sempre envolvidas por um halo amarelado, o que lhe confere a aparência de um olho (figura 1). Algumas lesões são bem escuras, não formam o centro claro e geralmente sem o halo amarelo, dando origem a denominada cercospora negra. As folhas atacadas caem rapidamente, ocorrendo desfolha (causada pela grande produção de etileno no processo de necrose), seca de ramos produtivos, além de queda prematura de frutos atacados, chochamento, dentre outras consequências. Os cuidados com a doença em culturas irrigadas devem ser ainda maiores, pois o molhamento foliar favorece a cercosporiose, podendo resultar em prejuízos consideráveis.
Os danos têm início quatro meses após o florescimento, quando o ataque do fungo pode causar a queda dos chumbinhos. Nos frutos, as lesões são as que mais prejudicam a qualidade da bebida, pois fazem com que a casca fique aderida ao pergaminho, dificultando seu desprendimento durante o beneficiamento (figura 2). Sendo assim, o controle preventivo é fundamental para reduzir os danos causados pela cercosporiose em lavouras atacadas, pois quando as lesões são observadas nos frutos, já torna-se complicado para controlar a doença.
Figura 1: Lesões características nas folhas
Figura 2: Lesões características nos frutos
Causas e controles
Alguns fatores que condicionam o desenvolvimento da cercosporiose em lavouras adultas são: nutrição deficiente e desequilibrada, solos argilosos, arenosos ou compactados, sistema radicular deficiente e pião torto. Segundo pesquisas, principalmente a deficiência de nitrogênio torna as plantas de café mais suscetíveis ao ataque do fungo. As condições do solo e do sistema radicular da planta estão indiretamente relacionadas com a intensidade da doença e diretamente com a nutrição das plantas, favorecendo o desenvolvimento do fungo.
As práticas culturais são muito importantes para o controle da cercosporiose. Os cuidados devem ser iniciados pela produção de mudas sadias, em viveiros instalados em local bem drenado e arejado, utilização de substratos balanceados em nutrientes, controle da irrigação e do excesso de insolação nas mudas. Além disso, deve-se usar variedades mais vigorosas e fazer os tratos culturais adequados, visando deixar as plantas fortalecidas.
Muitas vezes o controle químico é necessário, porém deve ser preventivo. Portanto, recomenda-se o uso de fungicidas para proteção, na época mais crítica, que coincide com a granação dos frutos (80-100 dias pós florada), o controle entre dezembro e fevereiro (2 a 3 pulverizações), período em que as plantas ficam mais suscetíveis, além do uso de fungicidas protetivos na mesma época de maior infecção da ferrugem, podendo resultar no controle simultâneo das duas doenças.
Diante das informações apresentadas, é importante ressaltar que as lavouras cafeeiras precisam ser bem formadas e conduzidas, além de adubadas de acordo com a análise de solo realizada e, em lavouras atacadas pelo fungo, recomenda-se a realização de análises foliares complementares.