Rafael Achilles Marcelino
Universidade Federal de Lavras – 3rlab
Os avanços obtidos na produtividade dos animais geraram necessidades adicionais no manejo e alimentação, o que determinou mudanças nos sistemas de produção, resultando em maior concentração de animal por área, maior volume de dejetos, maior umidade e maior dificuldade na higienização. A consequência dessas transformações foi o aumento das patologias podais, fazendo com que essas, em conjunto com as mastites e os problemas reprodutivos representem os três maiores entraves econômicos da atividade.
Diversos fatores predispõem à ocorrência de lesões em bovinos, podendo-se citar a umidade excessiva, higiene precária, pisos abrasivos, falta de conforto de instalações, problemas nutricionais, ocorrência de doenças sistêmicas, predisposição genética e falta do uso de pedilúvio. A higiene dos cascos é considerada fundamental na profilaxia das enfermidades dos mesmos, especialmente as de origem infecciosa, essa higiene pode ser dificultada pela maior densidade populacional, mas o uso de pedilúvio (figura 1) e de lava pés, inclusive com o uso de sabão, auxiliam significativamente neste controle.
Figura 1 – Pedilúvio para bovinos
A incidência anual de manqueiras em rebanhos leiteiros em todo o mundo aumentou significativamente, passando de 5% no início dos anos 80 para atualmente em até 100% em alguns sistemas. Consequentemente é cada vez maior a importância determinada pelas manqueiras em vacas leiteiras, particularmente quando se coloca em discussão os aspectos econômicos diretos e indiretos ocasionados por essas, sendo em muitos sistemas o fator determinante no equilíbrio entre o binômio lucro/prejuízo e assim na viabilidade e permanência dos produtores na atividade leiteira.
As claudicações (figura 2) são responsáveis por perdas, representadas por reduzida produção de leite no curso da doença, perda de peso, perda de leite por descarte decorrente da administração de antibióticos, aumento do intervalo entre partos, baixa fertilidade, dificuldade em observação de cio, aborto, número reduzido de animais para reposição com consequente baixo ganho genético, aumento dos descartes involuntários, aumento da incidência de mastites e outras doenças secundárias, custos adicionais com tratadores e veterinários e até mesmo morte do animal.
Figura 2- Claudicação em estagio avançado
Em 2006, alguns pesquisadores acompanharam e trataram durante um ano um rebanho de vacas holandesas confinadas em sistema de “Free Stall” no município de Esmeraldas/MG. O custo englobando o tratamento e a redução da produção leiteira no rebanho foi de USS 5.269,00; USS95.80 referentes ao tratamento e US$52.69 0 custo anual por vaca alojada.
Os valores relacionados aos custos de tratamento, redução da produção leiteira, número de intervenções e período de tratamento para vacas holandesas confinadas em sistema de “Free Stall” observados por esses pesquisadores encontram-se na Tabela l (valores calculados de acordo com o valor do dólar na época da pesquisa).
Tabela 1 – Custos adicionais de vacas com afecções podais
Fator | Valor observado | Custo em dólares |
Redução média na produção leiteira por caso | 9,3kg leite/dia | 1,68 |
Duração média dos casos até recuperação clinica | 24,5 dias | 41,2 |
Número médio de intervenções por caso | 2,8 intervenções | 54,6 |
Custo médio de tratamento por lesão | R$ 287,4 | 95,8 |
Custo adicional anual por animal alojado | R$ 158,07 | 52,69 |
Custo total no rebanho de 100 vacas em produção | R$ 15.807,00 | 5.269,00 |
Foram necessárias 2,8 intervenções por caso clínico e a redução média na produção leiteira, por caso de manqueira, foi de 227 kg de leite.
O período de serviço, número de serviços, incidência de mastite e metrite e valores adicionais relacionados a estes parâmetros, em vacas com manqueira e normais avaliadas por esses pesquisadores no estado de Minas Gerais/ Brasil, considerando 55% de incidência de manqueira, foi de US$12.536,70, e o custo anual por vaca alojada de US$125,36.
As enfermidades podais respondem por grandes perdas em vacas leiteiras confinadas em todo mundo e no Brasil. Particularmente representa grande desafio a atividade leiteira demandando esforços tanto por parte de pecuaristas quanto dos técnicos para amenizar os impactos econômicos determinados por essas afecções. Devido à alta frequência de afecções podais em rebanhos leiteiros, justifica atenção especial à sua prevenção no sentido de minimizar as perdas relacionadas a tratamentos, produção de leite, reprodução e descartes involuntários de animais.
O produtor deve sempre prestar atenção na higiene do local de manejo tentando sempre que possível fazer a raspagem do curral e lavagem do mesmo e também prestar atenção nos cascos dos animais, assim como também deve ficar atento para que os animais não fiquem muito tempo em pé, principalmente em locais úmidos e quentes. Quando algum animal for visto mancando, este deve receber o tratamento o mais rápido possível para que as perdas com ele sejam minimizadas.
Animais em situações criticas também devem ser observados atentamente pois existe um aumento das afecções podais nesse animais, causando uma maior perda econômica além do aumento do tempo desse animal parado.