DIOVANA M. SANTOS
Universidade Federal de Lavras | 3rlab
A cana-de-açúcar é considerada a opção forrageira de melhor desempenho bioeconômico para ser utilizada na alimentação de bovinos de corte e leite, apresenta elevada produtividade de massa por área, o que representa a principal vantagem de sua utilização. Mesmo que a cana apresente inúmeras vantagens como volumoso, há muitas recomendações para que esta não seja utilizada como alimento para animais de bom potencial genético, por apresentar baixo teor proteico e de minerais e fibra de baixíssima qualidade. Apesar de as considerações sobre suas limitações nutricionais serem verdadeiras, precisam ser consideradas sob uma nova ótica.
Na comparação da cana com outras forrageiras, o que primeiro precisa ser esclarecido é a necessidade de ajuste das dietas, para que haja uma comparação justa e adequada. Os estudos que apenas trocaram o volumoso de forma imprópria, não apresentaram validação teórica e nem prática.
A escolha de uma variedade com qualidade adequada pode ser adotada durante todo o período de entressafra das pastagens. As variedades podem ser classificadas em precoce, média e tardia (de acordo com a época de maturação), e como os produtores geralmente não levam em consideração esse conceito na hora da colheita, esse se torna um ponto crítico na redução do desempenho do animal, já que quando a cana está imatura, ela apresenta baixa concentração de açucares solúveis e alta concentração de fibra. Alguns esforços têm sido realizados no sentido de desenvolver variedades de cana-de-açúcar com maior digestibilidade da fração fibrosa. Um bom exemplo foi o lançamento da variedade IAC-86-2480 (figura 1), considerada uma variedade específica para alimentação animal, devido à alta digestibilidade da fração fibrosa em relação às outras cultivares existentes.
Figura 1- Detalhe do porte (ereto) e detalhe da uniformidade de altura de plantas da variedade IAAC86-2480b.
O teor de proteína é considerado um dos maiores limitantes para a utilização da cana como alimento volumoso para ruminantes. Os valores de proteína bruta variam de 1,91 a 3,81%, e realmente os valores de nitrogênio se comparam a resíduo pós-colheita de semente de capim-Marandu (3%PB), porém devemos considerar sua capacidade de fixar carbono com baixa exigência em nitrogênio. Comparando-se dois estudos que avaliaram a resposta produtiva de milho e cana-de-açúcar, em função da dose de nitrogênio aplicada, tem-se o real do benefício desta: apresentar baixa concentração de nitrogênio (gráfico 1).
Gráfico 1- Resposta das plantas de milho e cana a doses de nitrogênio.
Um grande problema se nota quando a cana é reservada à alimentação animal, isso quer dizer que seu potencial produtivo é subutilizado, devido à falta de atenção nos cuidados básicos com cultura. Pode-se afirmar que muitas falhas na utilização dessa forrageira para alimentação animal são causadas pelo não atendimento mínimo das exigências da cultura e não nos aspectos nutricionais.
Para contornar a necessidade do corte diário, foi proposta a utilização de compostos alcalinos como controladores da ação de micro-organismos no processo de deterioração da cana-de-açúcar após a picagem da forragem, pois além da conservação do material, o uso de agentes alcalinos (cal virgem e cal hidratada) atua sobre as ligações covalentes do tipo éster entre a lignina e a parede celular, quebrando-as e aumentando a solubilidade da fração fibrosa. Mas ainda que haja uma vantagem operacional da não realização de cortes diários devemos considerar o custo da mão-de-obra para a mistura do agente alcalino com a cana-de-açúcar, o que seria inviável em rebanhos de médio e grande porte.
Há de se considerar que o uso desse volumoso na alimentação de vacas de média a alta produção deve ser realizado com cuidado, pois o aumento da participação da cana na dieta implica redução de consumo.