Gabriella Lima Andrade de Sousa
Universidade Federal de Lavras – 3rlab
O arroz, durante todo o seu ciclo, é afetado por doenças que reduzem a produtividade e a qualidade dos grãos. A intensidade das doenças depende da ocorrência do patógeno virulento, do ambiente favorável e da suscetibilidade da cultivar.
A brusone, causada pelo fungo Magnaphorthe oryzae, forma imperfeita Pyricularia oryzae, é considerada a doença mais destrutiva do arroz e ocorre em todo o território brasileiro. Os prejuízos são variáveis, sendo maiores em arroz de terras altas, na Região Centro-Oeste e podem comprometer em até 100% a produção nos anos de ataques epidêmicos. O fungo tem capacidade de infectar culturas de importância econômica, como milho, milheto, cevada e trigo.
As principais fontes de inoculo primário são sementes infectadas e restos culturais. Já a infecção secundária tem como fonte as lesões esporulativas das folhas infectadas. Todas as fases do ciclo da doença são altamente influenciadas pelos fatores climáticos. A deposição de orvalho ou gotas de chuva nas folhas é essencial para a germinação dos conídios e para o início da infecção. De maneira geral, são necessárias altas temperaturas, de 25 a 28ºC, e umidade acima de 90%.
A brusone pode ocorrer em todas as partes aéreas da planta, desde os estádios iniciais de desenvolvimento até a fase final de produção de grãos. Nas folhas, os sintomas típicos iniciam-se por pequenos pontos de coloração castanha, que evoluem para manchas elípticas, com extremidades agudas, as quais, quando isoladas e completamente desenvolvidas, variam de 1 a 2 centímetros de comprimento por 0,3 a 0,5 centímetros de largura (figura 1). Estas manchas crescem no sentido das nervuras, apresentando um centro cinza e bordos marrom-avermelhados, às vezes circundadas por um halo amarelado. O centro é constituído por tecido necrosado sobre o qual são encontrados as estruturas reprodutivas do patógeno.
Figura 1: Sintomas de brusone em folhas
A dimensão do bordo está diretamente relacionada com a resistência da variedade e com as condições climáticas, sendo estreita ou inexistente em variedades muito suscetíveis. As manchas individualizadas podem coalescer e tomar áreas significativas do limbo foliar, neste caso, aparecem grandes lesões necróticas, que se estendem no sentido das nervuras. A redução da área foliar fotossintetizante tem um reflexo direto sobre a produção de grãos. Quando a doença ocorre severamente nos estádios iniciais de desenvolvimento da planta, o impacto é tão grande que a queima das folhas acaba por levar a planta à morte.
Nos colmos, mais precisamente na região dos entrenós, os sintomas evidenciam-se na forma de manchas elípticas escuras, com centro cinza e bordos marrom-avermelhados. As manchas crescem no sentido do comprimento do colmo, podendo atingir grandes proporções. Esporos do patógeno podem estar presentes sobre o tecido necrosado das lesões.
Os sintomas característicos nos nós são lesões de cor marrom, que podem atingir as regiões do colmo próximas aos nós atacados (figura 2). As lesões provocam ruptura do tecido da região nodal, causando a morte das partes situadas acima deste ponto e a quebra do colmo, que, no entanto, permanece ligado à planta.
Figura 2: Sintomas de brusone nos nós
Nas panículas, a doença pode atingir o raque, as ramificações e o nó basal. As manchas encontradas no raque e nas ramificações são marrons e normalmente não apresentam forma definida. Os grãos originados destas ramificações são chochos. A infecção do nó da base da panícula é conhecida como “brusone do pescoço” (figura 3) e tem um papel relevante na produção, cujo sintoma expressa-se na forma de uma lesão marrom que circunda a região nodal, provocando um estrangulamento da mesma. Quando as panículas são atacadas imediatamente após a emissão até a fase de aparecimento de grãos leitosos, a doença pode provocar o chochamento total dos grãos. As panículas se apresentam esbranquiçadas e eriçadas, sendo facilmente identificadas no campo. Quando as panículas são infectadas mais tardiamente, ocorre redução no peso dos grãos ou a quebra da panícula na região afetada, caracterizando o sintoma conhecido por “pescoço quebrado”.
Figura 3: Sintoma conhecido como “brusone do pescoço”
Os grãos, quando atacados, apresentam manchas marrons localizadas nas glumas e glumelas, as quais são facilmente confundidas com manchas causadas por outros fungos. Além da infecção externa, o patógeno pode atingir o embrião, sendo veiculado também internamente à semente.
As perdas de produtividade podem ser reduzidas com o emprego de variedades resistentes, práticas culturais e aplicação de fungicida de maneira integrada. Deve-se utilizar sementes sadias e livres do patógeno, bem como adotar práticas quarentenárias, visando evitar a entrada do patógeno em novas áreas, como também a entrada de novos tipos de patógenos. Em áreas extensivas de arroz de sequeiro deve-se realizar um bom preparo do solo, com aração profunda, e o plantio deve ser feito com uniformidade e a 2 centímetros de profundidade. A utilização balanceada de fertilizantes também contribui para o controle da brusone. Adubação com alta concentração de nitrogênio favorece o aparecimento de doenças. No controle da brusone são empregados fungicidas tanto no tratamento de sementes quanto em pulverizações da parte aérea. Recomenda-se o uso de produtos registrados para a cultura.
Por todo o exposto, fica claro que há uma grande preocupação com o potencial destrutivo da brusone e com as perdas que ela pode vir a causar à cultura do arroz. Por isso, é muito importante que o produtor se informe sobre o assunto e busque a ajuda de um profissional para adotar todas as medidas necessárias disponíveis no controle desta doença, visando reduzir os custos e obter os lucros esperados.