Autor: Otávio Canestri de Souza Andrade
Produzir cafés de qualidade é um desafio enfrentado pela maioria dos produtores do país. Além de se preocuparem com a fertilidade do solo, nutrição das plantas e combate às doenças, existe um determinado organismo que ataca os frutos da planta e causa enormes prejuízos não só financeiros, mas também na qualidade da bebida do café que será produzido. Esse organismo em específico, é a chamada broca do café e a seguir, falaremos um pouco sobre essa praga tão perigosa e nociva ao cafeeiro.
SOBRE A PRAGA
A broca do café é um pequeno besouro (coleóptero) quase imperceptível a olho nu. De origem africana, ele chegou ao Brasil muito provavelmente através de sementes importadas, tendo seus primeiros relatos de aparição no país, por volta do ano de 1913 em lavouras paulistas. Desde então ele se disseminou por quase todo o território nacional e, atualmente, praticamente todos os produtores do país estão susceptíveis ao seu ataque (MESQUITA et al., 2016).
A fêmea desse inseto, quando adulta, possui aproximadamente 2mm de comprimento, com coloração preta brilhante e corpo cilíndrico. O macho é ligeiramente menor, possuindo cerca de 1,2 mm. Além disso ele não voa e permanece dentro dos frutos do café, onde se reproduz e ocorre a fecundação das fêmeas. Há citações na literatura de duração do ciclo da broca (ovo-larva-pupa-adulto) variando de 17 a 63 dias, podendo ocorrer também até 7 gerações por ano, dependendo das condições climáticas (MESQUITA et al., 2016).
Representação do ciclo de vida da broca do café.
Fonte: Caroline de Andrade Bezerra
De acordo com MESQUITA (2016), os frutos que sofrem o ataque da broca podem estar desde o estágio de chumbinho até a fase seca, sendo que nos chumbinhos, a fêmea faz apenas o furo no fruto, não realizando a oviposição devido ao estado ainda leitoso do endosperma.
Além disso, quando o fruto apresenta o endosperma mais desenvolvido, a fêmea faz a perfuração, geralmente na região da coroa e constrói uma galeria até a semente, onde faz a oviposição. Após a eclosão dos ovos, as larvas passam a se alimentar da semente do café no interior dos frutos onde se encontram alojadas.
Passam, a seguir pelo estádio de pupa e uma vez atingido o estádio adulto, as fêmeas já copuladas, abandonam o fruto à procura de outros frutos, dando continuidade à infestação. Os frutos que permanecem nos cafeeiros sem serem colhidos ou mesmo no chão, constituem o principal meio de sobrevivência da broca após a colheita. Condições de umidade e temperatura elevadas favorecem o desenvolvimento da broca do café, por isso, lavouras próximas de grandes represas ficam mais vulneráveis à infestação. Lavouras adensadas favorecem, de um modo geral, à sobrevivência da broca, sendo mais infestadas em comparação com lavouras mais arejadas. Áreas irrigadas também têm tendência a serem mais atacadas (MESQUITA et al., 2016).
PREJUÍZOS E DANOS CAUSADOS
Os danos causados pelo inseto da broca, são diversos e variam de acordo com o grau de infestação e intensidade do ataque. No geral, podemos dizer que os principais prejuízos ocasionados, são:
- Perda de qualidade da bebida: quando o fruto é atacado, é aberta uma “porta de entrada” para diversos outros microrganismos que, na maioria das vezes, realizam fermentações indesejadas no fruto do café. Por isso é muito comum observamos que as sementes que sofreram com o ataque da broca, além de apresentarem furos, apresentam também uma coloração esverdeada, decorrente da ação desses microrganismos.
- Redução no peso dos frutos: pelo fato de construírem suas galerias no interior das sementes e posteriormente na fase de larva se alimentarem delas, as brocas acabam influenciando no peso do café produzido. Reduzindo drasticamente no rendimento da produção.
- Prejuízos na comercialização: grãos brocados são muito mal vistos pelo mercado de cafés especiais e gourmet. Quando um lote de cafés apresenta esse defeito, seu valor de mercado pode ser drasticamente diminuído.
Fruto de café atacado pela broca/ Foto: Embrapa
COMO CONTROLAR/COMBATER ESSA PRAGA?
O combate à broca do café é uma tarefa que requer grande planejamento e organização do produtor. O controle preventivo é sem dúvidas uma das principais alternativas para se evitar o ataque dessa praga nas lavouras. O produtor deve sempre limpar todos os cafés presentes no chão entre uma lavoura e outra, impedindo que o inseto sobreviva naquele local e possa contaminar a próxima safra. Além disso existem também outras duas formas de controles que são:
Controle químico: consiste na utilização de pesticidas que têm o objetivo de matar o inseto. É recomendado adotar essa medida de controle quando o nível de infestação estiver entre 3 a 5%.
Controle Biológico: consiste na utilização de um inimigo natural que preda a broca do café. Um inimigo muito comum é a vespa-da-costa-do-marfim (Cephalonomia sp.). Além disso, existem estudos que buscam compreender o controle biológico da broca através do fungo Beauveria bassiana.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A broca do café é uma praga que possui extrema facilidade de disseminação e ocasiona em altos níveis de danos nos frutos. Além de provocar prejuízos financeiros ao produtor, ela influencia amplamente na qualidade dos cafés e rendimento da lavoura. O controle preventivo é a principal medida que deve ser adotada pelos cafeicultores. Evitar deixar frutos de café caídos na lavoura de uma safra para outra é o primeiro passo para se obter sucesso no combate a esse organismo. Além disso o monitoramento é fundamental para que o produtor tenha noção e conhecimento sobre os níveis de infestação e intensidade dos ataques.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MESQUITA, Carlos Magno de et al. Manual do café: distúrbios fisiológicos, pragas e doenças do cafeeiro (Coffea arábica L.). Belo Horizonte: EMATER-MG, 2016. 62 p. il.
BROCA DO CAFÉ – Agrolink – Disponível em https://www.agrolink.com.br/problemas/broca-do-cafe_30.html acesso em 10/07/2020.