Lucas Machado – Universidade Federal de Lavras – 3rlab
Na década de 80 a cultura do algodoeiro atravessou grandes dificuldades. Os dois principais entraves foram: a chegada ao Brasil da praga do bicudo-do-algodoeiro, responsável por sérios prejuízos à cultura, e os incentivos oferecidos para compra de algodão importado que ocasionou uma diminuição na demanda interna do produto pela indústria nacional.
Os produtores do Centro-Oeste enxergaram no algodão uma grande oportunidade de negócio, por ser uma boa alternativa para rotação de cultura com a soja. A segunda metade da década de 90 significou um marco na migração da cultura do algodoeiro para o cerrado brasileiro. Hoje essa região responde por 84% da produção brasileira de algodão, tendo o estado de Mato Grosso como maior produtor brasileiro. O sucesso da cultura no cerrado se deve pelas condições de clima favorável, terras planas, programas de incentivo e o uso intensivo de tecnologias modernas.
O bicudo-do-algodoeiro tem uma alta capacidade reprodutiva, elevado poder destrutivo, dificuldade de controle e causa dano direto, ataca o produto que será comercializado, sendo assim, a principal praga do algodão. O ataque destas pragas provoca perda média de 11% da produção, segundo o entomologista da Embrapa Algodão, José Ednilson Miranda.
A praga
O bicudo-do-algodoeiro (Anthonomus grandis) é um besouro da família dos curculionídeos, de coloração cinzenta ou castanha e mandíbulas afiadas, utilizadas para perfurar o botão floral e a maçã dos algodoeiros. O adulto apresenta comprimento médio de sete milímetros e uma largura equivalente a cerca de três milímetros (figura 1). Os ovos, larvas e pupas se desenvolvem no interior dos botões florais e maçãs. O ciclo de vida de ovo a adulto é completo em cerca de 20 dias e podem ocorrer de quatro a seis gerações do besouro durante uma safra.
Figura 1: Inseto adulto bicudo-do-algodoeiro
Técnicas de manejo
Houve uma grande redução da área plantada de algodão no Nordeste que já chegou a ter dois milhões de hectares plantados. A convivência com o bicudo geralmente determina maiores riscos à cultura, ao ambiente e ao homem, por intoxicação devido ao grande uso de inseticidas.
O manejo da praga pode ser feito de três maneiras: controle biológico, controle cultural e controle químico. A escolha da cultivar ideal; época de plantio; catação de botões florais; destruição da soqueira e rotação de culturas são fatores importantes a serem considerados.
Durante o processo de amostragem é importante observar a presença de botões florais com danos provocados pelo inseto. É essencial recolher amostras nas bordaduras das plantas em separado do restante da área cultivada, para que seja possível diagnosticar insetos que ainda não passaram das áreas mais isoladas, já que a infestação começa pela bordadura.
O controle biológico tem sido utilizado em larga escala, por se tratar de um método mais eficiente e seguro que o químico. Entre as medidas de controle, estão:
• Destruição de soqueiras, para reduzir a taxa de reprodução do bicudo durante o período de entressafra.
• Preparo antecipado do solo em aproximadamente 40 dias, para eliminar os adultos remanescentes de entressafra na área cultivada;
• Utilização de cultivares precoces;
• Semeadura na época recomendada para cada região e simultânea entre talhões vizinhos;
• Instalação de plantio-isca nas áreas tradicionalmente infestadas;
• Aplicações de inseticidas nas bordaduras ou área total, a partir da fase inicial da emissão dos botões florais antigos, já atacados pela praga;
• Catação e destruição de botões florais danificados e caídos sobre o solo
• Utilização de produtos redutores de crescimento de plantas para aumentar a eficiência dos inseticidas;
• Aplicação simultânea de desfolhantes e inseticidas para reduzir danos e a densidade populacional da praga;
• Estabelecimento de soqueiras-iscas vegetadas para atração e combate aos bicudos emigrantes no final da safra;
• Instalação de Tubos Mata Bicudo (TMB) – tubo de papelão repleto com substância atrativa e um inseticida que deve ser posicionado 1 metro acima do nível do solo, principalmente em pré-semeadura e também na fase de colheita e pós-destruição das soqueiras para redução populacional do inseto (figura 2).
Figura 2 Tubo mata bicudo
O bicudo fica exposto à ação dos inseticidas apenas na fase adulta e as aplicações devem estar baseadas em dados de amostragens que determinarão a frequência das pulverizações.
Entenda a dinâmica do inseto praga
As fêmeas depositam os ovos nos botões florais e maçãs do algodão, revestindo o local com algo semelhante a uma cera. Após dois dias, as brácteas (folhas modificadas com objetivo de proteger as flores), apresentam-se amareladas, se abrem e, aproximadamente cinco dias depois, o botão floral atacado cai.
As larvas terminam seu desenvolvimento no interior dos botões florais, transformando-se em um novo adulto. As maçãs são atacadas no período de frutificação, quando a população está alta e há um número menor de botões florais.
Após a colheita e destruição das soqueiras, os adultos migram para áreas próximas, de vegetação permanente, permanecendo com o metabolismo reduzido e se alimentando de grãos de pólen, como se estivessem aguardando a próxima safra de algodão.
Os adultos do bicudo que sobreviveram à entressafra iniciam o ataque a partir das bordaduras. Na ausência de botões florais, a praga se alimenta do pecíolo (haste das folhas, e da parte terminal do caule). O inseto se movimenta pouco até os primeiros 70 dias de vida das plantas, permanecendo em reboleiras nas bordaduras. A partir desta fase se inicia o processo de dispersão por toda a lavoura.