Giane Lima Nepomuceno
Universidade Federal de Lavras – 3rlab
A preocupação com o bem-estar animal vem ganhando maiores proporções em todo mundo, inclusive no Brasil onde foram estabelecidas as primeiras medidas de proteção animal em 1934 por meio do Decreto n° 24.645, que menciona os princípios de respeito aos animais.
Devido à grande importância desse tema, o governo brasileiro, por intermédio do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA), criou através da Portaria n° 185 de 17 de março de 2008, a Comissão Técnica Permanente de bem-estar animal, com o objetivo principal de coordenar as mais diversas ações referentes ao bem-estar na produção animal. Com isso, os consumidores, principalmente dos países desenvolvidos, apresentam uma visão diferenciada que inclui os problemas presentes na agricultura moderna, em relação à qualidade do ambiente, a segurança alimentar e ao consumo ético dos produtos de origem animal, em que se preconiza o uso de práticas que minimizem ou evitem completamente tratamentos químicos ou hormonais nos animais e preservem, dessa forma, a saúde humana. É importante salientar que qualidade dos produtos de origem animal é agora julgada incluindo o impacto no bem-estar animal, na sustentabilidade da produção e nas consequências para os consumidores. Nos últimos anos, várias pesquisas têm abordado a temática do bem-estar animal a partir de diferentes perspectivas e públicos consumidores.
Bem-estar animal é um termo amplo e sua definição é complexa, uma vez que inclui a somatória de vários fatores que contribuem para a qualidade de vida do animal, como por exemplo: o ambiente que está inserido, as necessidades e a saúde dos animais, bem como também as liberdades (livre de medo e estresse, de fome e sede, desconforto, livres de dor e doenças e ter liberdade para expressar seu comportamento natural). O bem-estar animal demanda prevenção de doença, manejo nutricional, tratamento veterinário, instalações adequadas e finalmente um abate ou eutanásia humanitário.
Por muito tempo o bem-estar dos animais e a alta produtividade foram considerados antagônicos, porém estudos têm demonstrado que o estresse excessivo e o sofrimento dos animais têm efeito negativo na produtividade e na qualidade dos alimentos. O estresse pode ocorrer em situações pontuais como manejo para vacinação ou embarque, por exemplo, e poderia ser minimizado se o pecuarista estivesse capitalizado para investir em infraestrutura, como melhoria de curral e balança. Quando o bem-estar é pobre, pode haver quedas na produção (carne, ovos e leite), na reprodução, no crescimento e aumento da incidência de doenças nos animais. No entanto, a relação entre a produtividade e o bem-estar não é linear; e o aumento do bem-estar dos animais pode representar um aumento de custo na exploração, sendo que a magnitude desse custo é muito variável e depende, entre outras coisas, da mudança que se pretende fazer, a situação de cada país, bem como o ponto de partida em relação ao bem-estar dos animais em geral.
A relação entre bem-estar e desempenho econômico pode ser retratada num gráfico semelhante a um “U” invertido (figura 1), onde o eixo vertical indica o nível de bem-estar animal, como nós o percebemos; enquanto que ao longo do eixo horizontal computamos o aumento na produtividade (número de ovos por fêmeas, taxa de ganho de peso, entre outros) o qual reflete diretamente no ganho econômico. A princípio, numa situação onde os animais vivem sem nenhum manejo, de forma quase livre na natureza, a adoção de práticas que melhorem o estado sanitário (tratamento de verminose, cura de umbigo, dentre outras) e o fornecimento de alimentos, leva a um aumento de bem-estar e também no desempenho econômico. No entanto, num certo ponto, a adoção de práticas que aumentem a produtividade leva a um maior estresse dos animais e o bem-estar animal começa a diminuir. Nesta faixa, fica a dúvida “até que ponto o estresse sofrido pelos animais justifica o ganho na produtividade e nos lucros?”.
Figura 1 – Gráfico “U” invertido.
Os consumidores que puderem optar, pagando mais caro por um produto que agregue o componente ético, levarão os pecuaristas a eliminar a adoção de técnicas de criação estressantes para os animais, pois mesmo que o custo de produção seja maior, o produto terá um mercado garantido como é o caso dos consumidores europeus. Uma possibilidade de escape desta situação é a pesquisa, pois sempre se pensou em técnicas que aumentem a produção sem considerar a “capacidade de sofrer ou sentir prazer ou felicidade” dos animais, porém se forem desenvolvidas novas tecnologias que visem não só o aumento de produção e também confiram um grau satisfatório de bem-estar dos animais, podendo ser a solução ideal.