A região do sul de Minas Gerais sempre se caracterizou por ser grande produtora de café e leite, as condições climáticas do local e o relevo sempre favoreceram essas atividades. Porém as grandes variações do preço do café e do leite pago ao produtor nos últimos anos forçaram os mesmos a procurarem novas atividades que pudessem ser interessantes economicamente e que tivessem boa liquidez no mercado.
Nesse contexto foi que surgiram os primeiros plantios de soja no sul de minas (figura 1), porém os primeiros produtores dessa oleaginosa na região enfrentaram grandes problemas principalmente relacionados a não existência de materiais adaptados as condições da região, não existência de silos para o recebimento do grão e pouca disponibilidade de máquinas para serem utilizadas nas operações de plantio, pulverizações e colheita.
Segundo os últimos dados do Centro de Inteligência em Soja (CISOJA) as cidades no sul de minas que mais plantaram soja foram Três Corações com área plantada de 4000 ha, Bom Jesus da Penha com 4000 ha e Delfinópolis com 3800 ha. No entanto a cultura está presente em quase todos os munícipios da região e tende a ganhar importância ao decorrer dos anos, principalmente devido ao fato do grão estar com preços em alta (média de R$70,00 a saca de 60 Kg) impulsionado pela alta do dólar.
Figura 1 – Plantio de verão de soja no sul de minas.
Devido a sensibilidade da soja as condições de fotoperíodo, foi necessário a condução de ensaios de competição na região a fim de verificar quais cultivares conseguiriam desempenhar boas características agronômicas a campo, foram avaliados atributos como: altura de planta e inserção do primeiro legume, resistência a doenças e pragas, índice de acamamento, rendimento de grão por área e qualidade das sementes.
As cultivares de soja que mais se destacaram quanto a produtividade na região em experimentos na Universidade Federal de Lavras em 2007 foram a Vencedora (4.395 Kg. ha), Paiaguás (3.897 Kg. ha), Aventis 2056-7 (3.780 Kg. ha), Monarca (3.646 Kg. ha) e FT2000 (3.498 Kg.ha). Essas cultivares podem ser recomendadas para o plantio na região, pois além de apresentarem boa produtividade, possuem bom tamanho de planta e resistência ao acamamento, boa altura de inserção do primeiro legume. Esses atributos são especialmente importantes em relação a colheita, tendo em vista que materiais que tem baixa inserção do primeiro legume e propensão ao acamamento tendem a ter altas perdas na colheita.
Junto com aumento da área plantada de soja no sul de minas cresce o número de produtores, interessados em também plantar o milho para safrinha. Na região a soja é plantada tradicionalmente até 15 de novembro a fim de aproveitar as chuvas incidentes nesse período e a colheita inicia-se em meados de março, junto com o plantio do milho safrinha. Para o bom funcionamento do sistema é necessário que a soja a ser plantada em novembro tenha ciclo precoce ou semi-precoce (ciclo aproximadamente entre 100 e 110 dias), a fim de estar em ponto de colheita em março para tornar possível o plantio do milho (figura 2) em forma de sucessão.
Ainda não se tem números oficiais que informam o quanto cresceu a área de safrinha na região comparado à últimas safras, porém sabe-se que Minas Gerais em 2013 colheu a maior safrinha de sua história com produção total de 560,7 mil toneladas. Segundo dados do IBGE em 2013 o sul de minas foi responsável por 9,8% do total da produção do milho safrinha no estado, o Noroeste se consolida como maior produtor com participação de 43,9% da safra estadual.
Em virtude do aumento da área plantada de grãos na região muitas cooperativas e revendas estão mudando o seu foco de trabalho, a fim de atender a nova demanda por serviços e produtos. Para ilustrar essa realidade temos a Cooperativa Agrária de Machado (COOPAMA) que em 2014 criou o departamento de cereais a fim de atender os novos produtores de cereais, que armazenam suas produções nos silos das cooperativas.
Figura 2 – Plantio de milho no sul de minas em Três Corações.
Fica claro que a produção de grãos é uma nova realidade para a região do sul de minas, nesse contexto é necessário que empresas, técnicos, universidades e outros agentes invistam em pesquisas e prestações de serviços a fim de garantir o crescimento da atividade de produção de grãos.