Rafael Achilles Marcelino
Universidade Federal de Lavras – 3rlab
Alta temperatura ambiente e umidade, assim como a radiação solar, são elementos climáticos estressantes responsáveis por baixas performances do gado leiteiro. Os animais absorvem calor do ambiente, além daquele produzido no organismo (metabolismo energético), provenientes da radiação solar direta ou indireta.
O animal confortável, é aquele em que já atingiu um certo nível de bem-estar. Por isso a importância da atenção com o manejo desses animais, independente do sistema adotado, pois ele deve garantir certas condições que proporcionem conforto. Por exemplo: controle da temperatura, abrigo, espaço físico, água limpa, ventilação, dieta nutritiva, ausência de dor, pânico, de ansiedade ou abuso.
Importância da temperatura ideal
O frio é o principal causador de estresse térmico em animais jovens, devido à falta e/ou baixa produção de calor a partir da fermentação no rúmen. Ao contrário, os adultos são mais susceptíveis ao calor.
Em locais de alta temperatura, a principal resposta animal é a diminuição da produção de calor metabólico, obtida por redução no consumo de alimentos (tabela 1), o que consequentemente causa perdas na produção de leite.
Temperatura ambiente | ||
18°C | 30°C | |
Consumo de concentrado (kg/dia) | 9,7 | 9,2 |
Redução no consumo (%) | – | 5,1 |
Tabela 1 – Efeito da temperatura sobre o consumo de ração de bovinos leiteiros
Adaptado de MacDowell (1975)
Efeitos do estresse calórico
A maioria dos animais possuem uma zona de conforto térmico – zona de termoneutralidade (ZTN) – que faz a temperatura de seu corpo se manter constante, com um mínimo de esforço fisiológico. A esse controle se dá o nome de homeotermia e, através dela o gado pode manter sua temperatura corporal em torno de 37°C a 39°C.
Em regiões muito quentes – fora da zona de conforto – o animal precisa de um gradiente térmico para o qual ele possa transferir seu calor corporal, em outras palavras ele precisa de um ambiente mais frio. Segundo especialistas, vacas em lactação devem dispor de um ambiente com temperaturas entre 4°C e 24°C.
Principais problemas causados pelo estresse térmico em temperaturas acima de 20°C:
Maior índice de retenção de placenta,
Mastite clínica,
Predisposição à acidose ruminal,
Predisposição aos problemas de casco,
Baixa resistência imunológica,
Redução de escore corporal,
Redução na produção de leite
Efeitos sobre a produção de leite
A temperatura ótima para a lactação depende da espécie, da raça e de sua tolerância ao calor ou frio. O principal fator que provoca redução na produção e na qualidade do leite (tabela 2) durante o estresse térmico é a diminuição do consumo de alimento, em comparação com as necessidades da vaca, e não pela elevação da temperatura corporal, apesar desses fatores serem quase sempre inseparáveis.
Temperatura | 8˚C | 36˚C |
Proteína | 3,42 | 2,98 |
Teor de gordura | 3,85 | 3,31 |
Tabela 2 qualidade do leite de animais em duas temperaturas do ambiente
Estratégias para minimização do estresse calórico
Existem várias alternativas de modificação ambiental destinadas a reduzir o impacto térmico sobre os animais, incluindo desde a disponibilidade de sombra, passando por resfriamento evaporativo com água em forma de névoa, neblina ou gotejamento (figura 1). O uso de ventilação natural, ou mesmo de ar refrigerado em confinamento total, são outras formas de diminuir o estresse calórico.
Figura 1 – aspersores com água para resfriamento dos animais
Antes de fazer as modificações ambientais é importante conhecer o material utilizado, a altura da sombra, evitar o amontoamento dos animais e em zonas com baixa umidade utilizar aspersores de água.
É interessante um planejamento da localização dos centros de manejo, como estábulos e salas de ordenha, por exemplo, se possível antes de sua construção. Recomenda-se a construção do centro de manejo em locais altos, evitando-se baixadas, pois a falta de vento nesses locais prejudica a troca de calor do animal com o ambiente.
Foi se observado que vacas que foram resfriadas em salas de espera, após a ordenha, ficam um tempo maior se alimentando no cocho, o que auxilia em um maior desempenho do animal, além de fazer com que esse animal fique mais tempo em pé, diminuindo os casos de mastites por contaminação ambiental.
Se tratando de sombreamento artificial, o tamanho e altura das instalações variam de acordo com a raça a ser criada, o local da instalação e o tipo de instalação. Mas geralmente se recomenda um piso com um declive de 1,5 a 2%, para que ocorra escoamento de líquidos. O abrigo para sombra deve ser construído a uma boa distância de árvores, edifícios ou outros obstáculos que possam interferir na ventilação natural. A orientação do abrigo deverá ser leste-oeste, no sentido do eixo longitudinal do telhado (figura 2). De forma que durante o dia o sol passe por cima de todo o telhado, e não atinja a parte interna da instalação.
Figura 2 – Galpão localizado sentido leste-oeste
Alimento e água devem ficar sempre à disposição dos animais à sombra, e sob algum abrigo. Dependendo do tamanho da instalação recomenda-se o uso de lanternim.
Todos esses cuidados devem ser tomados de forma que o animal utilize o mínimo de energia para o resfriamento corporal e utilizar essa energia para funções reprodutivas e produção de leite.