Rafael Achilles Marcelino
Universidade Federal de Lavras – 3rlab
Na bovinocultura brasileira, seja ela de corte ou de leite, devemos nos atentar para todos os fatores que possam prejudicar ou diminuir a produção do animal, como por exemplo as doenças, porém muitas delas podem ser evitadas se os animais forem vacinados, por isso é importante que o produtor esteja sempre atento aos programas de vacinação adotados em cada região, levando em consideração a maneira mais adequada para tratar os animais, pois há vacinas que são aplicadas no rebanho todo, outras são aplicadas somente em certas categorias de animais, selecionando idade e até mesmo o sexo, como é o caso das vacinações contra o carbúnculo sintomático e a brucelose.
No Brasil, existem vacinas obrigatórias por lei, como é o caso da vacina contra a febre aftosa e, mais recentemente, a da brucelose em alguns Estados. Outras tornam-se obrigatórias não por lei, mas pelo fato de que sem elas fica quase impossível a criação de bovinos em certas regiões, a exemplo da vacinação contra a raiva bovina e o carbúnculo sintomático.
Como vacinar
A aplicação correta da vacina influência no resultado e garante a saúde do rebanho. Uma boa resposta vacinal depende da qualidade da vacina, da resposta imune do animal e do processo de vacinação, que deve ser feito corretamente.
Um ponto primordial é adquirir produtos de alta qualidade, eficácia e segurança adquiridos em locais confiáveis e de fabricantes idôneos. Os pecuaristas devem sempre consultar um médico veterinário. Não é recomendado vacinar animais doentes, debilitados e estressados (ex.: estresse de transporte e desmame).
Durante toda a vacinação deve se ter o máximo de higiene possível, tanto do animal, como do vacinador (figura 1), igualmente relevante é a esterilização de seringas e agulhas, as quais deverão ser utilizadas no máximo dez vezes e depois dispensadas. O calibre da agulha também é de extrema importância pois uma agulha muito fina pode entupir, quebrar ou entortar durante a aplicação, e uma agulha muito grossa pode causar refluxo do medicamento dentro do animal.
Os medicamentos devem ser mantidos sobre refrigeração a uma temperatura de 2°C a 8°C, nunca devem ser congelados e devem continuar sobre refrigeração inclusive no momento da aplicação.
A vacina contra febre aftosa, por exemplo, possui uma substância densa e oleosa, e, por isso, deve ser aplicada de forma correta para não causar danos ao animal. Utilizada incorretamente, a substância pode formar um caroço no animal, advindo de uma inflamação provocada por seu sistema imunológico, que com o passar do tempo some. Para evitar que este caroço apareça, o aplicador da vacina deve realizar o processo com calma de preferência nos horários mais frescos do dia.
Figura 1 Animal sendo vacinado
Doenças e vacinações mais comuns no Brasil
Febre aftosa
A vacinação contra febre aftosa é obrigatória em todos os Estados, exceto Santa Catarina. Todas as vacinas são inativadas e acrescidas de adjuvante oleoso. O calendário é determinado pelo MAPA.
Brucelose
A vacina contra brucelose é feita em dose única com amostra B19 de Brucella abortus. A vacinação deve ser feita sob orientação de um médico veterinário responsável, de acordo com a legislação vigente. A vacina é aplicada somente em fêmeas de 3 a 4 meses de idade, acompanhada da marcação com um V seguido do último número do ano de nascimento, no lado esquerdo da cara.
Raiva bovina
A vacinação contra raiva bovina é feita em regiões onde existem colônias permanentes de morcegos hematófagos (sugadores de sangue). A vacinação se torna obrigatória em 100% dos animais quando aparecem focos esporádicos da doença, em certas regiões. A aplicação da vacina é anual e todo o rebanho deve ser vacinado, independentemente da idade. O esquema recomendado é de duas doses iniciais, com intervalo de 30 dias e revacinação anual de todos os animais.
Botulismo
A vacinação contra o botulismo é feita em regiões onde haja sua ocorrência. Geralmente recomenda-se o uso de duas doses iniciais com quatro a seis semanas de intervalo e a seguir uma dose anual em todo o rebanho.
Leptospirose
A primeira dose da vacina contra leptospirose deve ser aplicada entre quatro e seis meses de idade, com reforço após quatro semanas. Todo o rebanho deve ser vacinado a cada seis meses ou em intervalos menores, a critério do médico veterinário.
IBR, BVD
Recomenda-se a vacinação aos três meses de idade, com reforço após quatro semanas e revacinação anual em dose única. É importante vacinar os animais em reprodução um mês antes do início da estação de monta.
Aplicação da vacina
O local da aplicação deve ser sempre na tábua do pescoço, evitando outras partes do corpo como cupim, lombo, dorso e prega da cauda. Para a aplicação subcutânea (figura 2), a seringa deverá ser posicionada paralelamente ao pescoço do animal. A pele deverá ser puxada, formando uma prega, onde será introduzida a agulha para aplicação da vacina. Após a vacina aplicada, aguarde um segundo para que não haja refluxo. Para aplicação intramuscular, a seringa deverá ser posicionada perpendicularmente ao pescoço do animal.
Figura 2 Aplicação de vacina subcutânea
Observações durante o processo de vacinação:
– Sempre verificar a temperatura da caixa de isopor na qual estão as vacinas.
– A cada cinco a dez animais, trocar a agulha. Colocar as agulhas utilizadas no recipiente com água fervendo e retirar conforme a necessidade do uso.
– Ao final da vacinação, observar os animais para identificar possíveis reações adversas.
– Após o uso, fazer a lavagem e desinfecção da pistola e agulhas. Retirar a agulha e desmontar a pistola cuidadosamente (figura 3).
– Lavar todas as peças cuidadosamente com uma escova e esponjas limpas.
– Colocar as peças em um recipiente com água e deixar ferver por 15 minutos.
– Retirar todas as peças da água fervente e colocar sobre uma toalha de papel; lembrar de mantê-las cobertas enquanto as peças secam. Após todos os procedimentos e pistola completamente seca, montar a seringa e guardá-la frouxa. Lubrificar com óleo específico indicado pelo fabricante. Recomenda-se guardar a seringa lubrificada e lavar antes do uso. Não é indicado fazer a lubrificação antes da vacinação para que não ocorra mistura com a vacina. Guardar o equipamento em local limpo, fresco e organizado.
Figura 3 Desmontagem e limpeza da pistola obs: fazer edição na imagem
Uma vacinação adequada, de acordo com a orientação do médico veterinário e com as boas práticas garante a saúde do rebanho e a lucratividade do negócio.