Rafael Achilles Marcelino
Universidade Federal de Lavras – 3rlab
A Diarréia Viral Bovina (BVD) foi relatada pela primeira vez no Brasil, em 1968, no estado de São Paulo. Já o isolamento do vírus foi em 1974, no estado do Rio Grande do Sul. Atualmente o vírus está presente em várias regiões do país. A BVD é uma doença infecciosa, considerada enzoótica em muitos países com manifestações clínicas diversas. Causada por um Pestivirus da família Flaviviridae, constituídos de dois biótipos; um não citopático e outro citopático. Isso é determinado de acordo com o efeito viral em cultivo celular. O biótipo não citopático é o que normalmente circulam no rebanho originando animais persistentemente infectados (PI). Os animais PI são o reservatório primário do BVD, sendo considerados como a maior fonte de infecção nas explorações. Estes animais são imunotolerantes ao vírus, o seu sistema imunitário nao responde ao BVD, então o vírus continua a se multiplicar, sendo excretado ao longo da vida do animal.
Historicamente, a BVD foi associada com enfermidade do trato digestivo, relacionada à alta mortalidade. Atualmente, a BVD está mais associado à enfermidade respiratória e infecção fetal. Os animais que podem adquirir a BVD são os bovinos, ovinos, caprinos, suínos, coelhos, búfalos, alces, lhamas e alpacas. Sendo que os possíveis reservatórios são os ovinos, caprinos e suínos.
A enfermidade está distribuída mundialmente nos rebanhos bovinos, tanto de leite quanto de corte e, também, no Brasil, com taxas de prevalência que podem variar entre 60% a 85% de animais soropositivos. A doença possui importância econômica, com reflexos na redução na produção de leite, na taxa de concepção, nos abortos, nos efeitos congênitos e no atraso do crescimento.
Importância econômica
As perdas econômicas nos rebanhos bovinos prenhes são devidas ao abortamento (figura 1), defeitos congênitos, natimortos, mortalidade neonatal aumentada, retardo de crescimento pré e pós- natal, desempenho reprodutivo devido à infertilidade, além de mortes pela doença das mucosas e o descarte precoce dos animais PI. Vale ressaltar, que quando ocorrem epidemias da doença das mucosas, as perdas econômicas são altas.
Figura 1 – Fetos abortados devido a BVD
A incidência da doença das mucosas fica geralmente abaixo de 5%, podendo chegar até 20%. Essa doença pode ser considerada de custo elevado, já que possui despesas extras com o animal.
Controle e prevenção
A prevenção e o controle baseiam-se em boas práticas de manejo, tanto nutricional quanto ambiental, identificação e eliminação dos animais PI, e a vacinação. Todos deverão ser avaliados, quanto aos seus benefícios econômicos e práticas a serem implantadas. As únicas abordagens que têm sido bem sucedidas na redução do impacto decorrente da infecção pelo BVD são aquelas onde se dá ênfase as medidas de biossegurança em geral, com ou sem o uso de vacinas.
A exposição de novilhas púberes ao vírus, seis semanas antes da reprodução, estimula a produção de anticorpos neutralizantes séricos (SN). Esses protegem contra a infecção transplacentária dos fetos, quando as fêmeas prenhes são desafiadas com vírus homólogo em cem dias de gestação.
Vacinação
A vacinação contra o BVD tem sido utilizada com relativo sucesso para proteger animais da enfermidade clínica, reduzir a circulação de vírus e para tentar impedir a infecção fetal e a consequente produção de bezerros PI.
Em qualquer programa de prevenção para rebanhos leiteiros ou produção de bezerros de corte, a vacinação é muito importante. Uma estratégia para um controle bem feito é a vacinação da fêmea reprodutora pelo menos várias semanas antes do cruzamento.
Com relação aos fetos, a presença de imunidade materna irá protegê-lo da infecção, entretanto, a imunização, em termos de proteção do feto, pode não ser eficaz contra as cepas diferentes daquelas contidas na vacina, e a precaução final é evitar que vacas tenham contato imediato antes e durante a primeira metade da prenhes. A imunização inicial requer a administração de duas doses da vacina com intervalo de nove semanas.
A vacinação nos animais imunocompetentes que não tenham infecção viral persistente fornece proteção parcial contra a infecção fetal, abortamento, natimortos, retardo do crescimento intrauterino, defeitos congênitos e infecção viral persistente no recém-nascido. As vacinas de vírus inativados não são feto patogênicas, mas apenas a vacinação bem sucedida, antes da concepção, protege o feto da infecção por todo o período gestacional.
Vacinas contra BVD
Os efeitos adversos da BVD em rebanhos de carne e leite, produção de vitelos e operação de lotes de alimentação têm estimulado a produção de numerosas vacinas e estratégias de vacinação para o controle da BVD. Existem vacinas de vírus vivo modificado (VVIM) e vírus inativados disponíveis. Atualmente existem muitas vacinas contra o BVD licenciadas na América do Norte isoladamente, e todas possuem requisitos de potência, pureza e segurança. Estes requerimentos são designados para assegurar-se que as vacinas obtenham uma resposta imune, sendo livres de agentes estranhos, e não induzam doença após a sua administração.
Nos Estados Unidos da América do Norte, as primeiras vacinas contra a BVD surgiram na década de 60 sendo que, atualmente estão disponíveis mais de 160 vacinas comerciais contendo imunógenos do BVD. Essas vacinas contem cepas inativadas ou atenuadas do BVD-I elou BVD-2. No Brasil, apenas são comercializadas vacinas inativadas, contendo em sua maioria apenas genótipos do tipo l . Isto leva a questionar o grau de reatividade sorológica entre as cepas vacinais e as amostras de campo brasileiro.
Várias vacinas inativadas possuem cepas citopáticas e não citopáticas do vírus. As vacinas inativadas incluem uma variedade de adjuvantes para aumentar a imunogenicidade. As respostas sorológicas variam entre vacinas VVM e vírus morto, e também entre cada tipo de vacina. Isto indica diferenças de potência entre as várias vacinas.
Atualmente não existe uma única medida de controle efetiva para evitar a BVD e sim, um conjunto de ações voltadas para a prevenção e controle da mesma. Mesmo assim, com efeito parcial, o que leva a necessidade do desenvolvimento de novas estratégias. Contudo, quando o acometimento em um rebanho de BVD, as perdas econômicas e os prejuízos são muitos.
A vacina por si só não é totalmente eficaz e age em conjunto com o sistema imunológico do animal não menosprezando a nutrição, as condições sanitárias e os abrigos apropriados para o bem estar do animal.
A falha de imunização é percebida nas vacinas, caso não sejam manipuladas ou armazenadas adequadamente (figura 2). São agentes que podem induzir o aborto e lesões idênticas a da lesão natural. Além disto, os surtos da doença podem ocorrer 10 a 14 dias após a vacinação, sem que se saiba o motivo. Contudo, a recomendação de uma determinada vacina não é possível, pois sua eficácia ainda é questionada. A vacina inativada é considerada boa, pois apresenta excelente imunidade fetal, ausência de doença pós-vacinal, falta de infectividade garantindo assim uma imunidade adequada. No entanto, a mesma possui um alto custo e necessita de duas doses para atingir a imunidade primária. Já a vacina VVM necessita de uma única vacinação para ocorrer a imunização adequada, porém ela possui propriedades imunosupressivas que se manifesta após a vacinação, Vale ressaltar que isso pode levar ao desenvolvimento de doença pós-vacinal.
Figura 2 – As vacinas devem ser armazenadas em freezer próprio para vacinas
No Brasil as vacinas são muito questionadas, pois existem dois genótipos para a doença. A erradicação da BVD dependerá da identificação dos rebanhos com infecção ativa, eliminação dos animais PI do rebanho e o desenvolvimento de medidas de controle para prevenir a introdução da infecção dentro dos rebanhos nos quais a infecção foi eliminada.