Gabriel Castillo
Universidade Federal de Lavras-3rlab
É impossível falar em adubação, em qualquer que seja a cultura, sem levar em consideração a Lei do Mínimo, idealizada na segunda metade do século XIX pelo químico alemão Justos Von Lieberg. Esta que dizia: a produção das culturas é limitada pelo nutriente em menor disponibilidade para as plantas e para o bom desenvolvimento das culturas é necessário um equilíbrio adequado dos nutrientes, podendo-se fazer analogia às madeiras constituintes de um barril (figura 1).
Figura 1- Analogia da Lei do Mínimo a um barril.
Dessa maneira, pode-se concluir que os micronutrientes (B, Cu, Cl, Fe, Mn, Mo e Zn) mesmo estes sendo necessários em menor quantidade pelas plantas, são tão importantes quanto os macronutrientes. Além disso, a ausência ou até mesmo a deficiência de qualquer um deles no solo pode limitar o crescimento das plantas e as futuras produções, mesmo estando todos os demais nutrientes em quantidades adequadas.
Sabe-se que diversas regiões do Brasil têm apresentado deficiência ou toxidez severa desses micronutrientes no solo, ocorrendo inclusive com sintomas visuais na planta. O molibdênio (Mo), o cobalto (Co), o zinco (Zn), o cobre (Cu), o manganês (Mn) e o boro (B) são os micronutrientes com maior frequência de deficiência, principalmente nos solos do cerrado.
Na cultura da soja, dentre os micronutrientes que contribuem para o bom desenvolvimento, o molibdênio (Mo) e o cobalto (Co) podem ser considerados os mais importantes. Ambos têm participação direta na fixação biológica de nitrogênio (FBN). Por meio da simbiose das leguminosas com as bactérias do gênero Bradyrhizobium (fixadoras de N).
Sabe-se que os íons Mo4+ até Mo6+ são componentes de diversas enzimas, dentre estas se encontra a nitrato redutase e a nitrogenase, ambas responsáveis por catalisar a conversão de nitrato a nitrito durante a assimilação pelas células vegetais e converter N2 a amônia nos microorganismos fixadores de N. Sendo assim, a deficiência de Mo na cultura da soja acarretará em uma menor síntese da enzima nitrogenase, prejudicando assim a FBN e consequentemente diminuindo a produtividade.
Já o Cobalto, embora não seja considerado um elemento essencial para as plantas tem enorme importância na FBN. O cobalto faz parte da formação da vitamina B12, também conhecida como cobalamina, que é um componente de diversas enzimas dos microorganismos fixadores de N.
Dessa forma, é possível entender que o fornecimento de Mo e Co na cultura da soja é indispensável. Além disso, a maior parte dos solos em que se cultiva soja estes aparecem em quantidades muito baixas, não suprindo a exigência das plantas. É recomendada para a cultura da soja a aplicação por hectare de 2 a 3g de Co e 20 a 30g de Mo. Esta que pode ser via tratamento de sementes ou aplicação foliar entre os estágios V3 e V5.
Cabe ressaltar que em áreas de primeiro plantio de soja é recomendada a aplicação de Mo e Co via foliar no estágio V4, favorecendo assim a sobrevivência das bactérias fixadoras (inoculação). Já em áreas velhas ou que já houve cultivo anterior de soja a aplicação destes pode ser realizada de ambos os modos (via semente ou foliar).
Os sintomas de deficiência de molibdênio, seja por deficiência no solo ou acidez (principal fator que afeta a disponibilidade de Mo no solo), são caracterizados por plantas amareladas, causando clorose total das folhas mais velhas, esses sintomas são bem semelhantes à deficiência de nitrogênio, uma vez que esta é induzida por molibdênio (figura 2).
Figura 2- Deficiência de nitrogênio induzida pela falta de molibdênio.
Cabe ressaltar que o excesso de Mo e Co podem afetar outros nutrientes. Sabe-se que o excesso de molibdênio pode induzir a deficiência de cobre, bem como o excesso de cobalto pode induzir a deficiência de ferro. Dessa forma, é de extrema importância o agricultor estar bem assessorado por um bom profissional para que se estabeleça um programa nutricional que atenda as exigências das plantas para que estas possam se desenvolver e produzir ao máximo.