A necessidade de utilizar um manejo integrado de pragas para melhor controle da broca do cafeeiro
Gabriel Castillo
Universidade Federal de Lavras-3rlab
A broca do café (Hypothenemus hampei) é considerada como a segunda praga em importância na cafeicultura brasileira. O inseto foi encontrado pela primeira vez no Brasil em 1913, na região de Campinas e tem o continente africano como local de origem. Entretanto, a broca se dispersou por toda a cafeicultura brasileira e jamais será erradicada das lavouras.
Esse inseto ataca os frutos através da perfuração a partir da região da cicatriz floral ou coroa do fruto (figura 1). A fêmea adulta fecundada torna o fruto um ambiente adequado para fazer sua postura. Sabe-se que as larvas surgem em média de 4 a 10 dias após a postura e então se inicia o processo de destruição parcial ou total da semente. Após nova fecundação, as fêmeas vão procurar outros frutos para atacar e continuar o seu ciclo reprodutivo.
Figura 1- Broca do café perfurando a região chamada de coroa do fruto.
Um dos principais motivos para a infestação dessa praga está relacionado ao manejo deficiente, principalmente por uma colheita malfeita. Os prejuízos podem ser quantitativos ou qualitativos. O café beneficiado pode perder até 20% de seu peso, sendo assim com alta infestação as perdas chegam a 12 kg em uma saca de 60 kg. O ataque pode afetar também a qualidade do café produzido, pois quanto maior o número de grãos atacados (figura 2) menor será o seu valor de cotação.
Figura 2- Grãos de café atacados pela broca.
Dificuldade no controle químico
A maneira mais eficiente de controlar a broca do café é em seu ‘’período de transição’’. Neste período a fêmea abandona os frutos secos não colhidos ou no chão, onde se criaram e multiplicaram na entressafra, e procuram novos frutos, chumbões verdes para atacá-los e continuar seu ciclo de vida.
O controle deve ser iniciado quando a infestação atingir o nível de controle de 3 a 5%, e a pulverização de defensivos deve acontecer nas partes mais atacadas da lavoura. É importante continuar o monitoramento mesmo após a aplicação do inseticida e se necessário fazer novas pulverizações, respeitando o período de carência do produto.
O defensivo com melhor índice de eficiência para a broca são os inseticidas formulados a base de Endosulfan. Entretanto, sua principal desvantagem é o fato de não serem específicos, matando vários tipos de insetos, sendo eles nocivos ou não. Apesar de ser um inseticida muito eficiente, possui altos índices de toxidez, sendo considerado cancerígeno e prejudicial ao meio ambiente. Acredita-se que seu uso foi responsável por vários incidentes fatais de envenenamento. Devido a isso, no Brasil seu uso foi proibido.
Com isso, os produtores de café principalmente de Minas Gerais (maior estado produtor do grão no país) estão com enormes dificuldades para fazer o controle da broca. Os principais empecilhos estão ligados ao alto preço cobrado pelos produtos químicos disponíveis no mercado e sua baixa eficiência no controle quando comparado aos defensivos a base de Endosulfan.
Dessa maneira, os custos do processo de produção se tornam altos e o lucro é reduzido de maneira significativa, pois o produtor tem gastos enormes com defensivos e só consegue perceber o defeito nos grãos de café no momento de comercializar, uma vez que perdem peso e qualidade.
Controle alternativo
Existem alguns métodos alternativos que se mostraram eficientes para o controle da broca do cafeeiro. Uma alternativa que reduz significativamente o ataque dessa praga é o controle cultural. Através de um bom manejo na colheita e repasses na lavoura, destruindo cafezais velhos e abandonados onde a broca poderia encontrar abrigo e se multiplicar. Isso impede que ela passe para os frutos novos na safra seguinte. Entretanto, para o bom funcionamento desse método de controle cultural é necessário que o mesmo se aplique nas lavouras vizinhas.
Existe também o método do controle biológico. Em diversas regiões em que se observaram a presença do fungo Beauveria bassiana houve controle significativo da broca. Isso ocorre devido a esse fungo fechar, em forma de um tufo branco o furo feito pelo inseto. Dessa maneira, a broca não tem por onde sair e morre no interior do fruto. Sendo assim, a fêmea é impedida de completar seu ciclo reprodutivo. Há também o método de controle biológico que se utiliza de inimigos naturais, nesse caso a utilização de vespas parasitoides, principalmente das espécies vespa da costa do marfim (Cephalonomia stephanoderis) e vespa de Uganda (Prorops nasuta), tem se mostrado eficiente.
Um outro método alternativo interessante é a utilização de armadilhas com semioquímicos (Figura 3) para captura desse inseto. Estas usam de cor, modelo, atraentes (geralmente metanol e etanol) e taxas de liberação para estimularem as brocas pelos sentidos de visão e de olfato. Através de experimentos realizados com armadilhas semioquìmicas espalhadas pelas lavouras observou-se uma redução significativa na população dessa praga.
Figura 3- Exemplo de armadilha com semioquímicos para controle de broca.
Neste contexto, o produtor deve procurar métodos alternativos que se adequam melhor as condições gerais do seu processo de produção para que possa reduzir os gastos com defensivos, bem como minimizar os prejuízos causados por esse inseto.
Portanto, diante da fragilidade e alto valor encontrados nos produtos químicos presentes no mercado, é necessário fazer um manejo integrado de praga (MIP), ou seja, a utilização em conjunto de diferentes métodos para maior eficiência no controle da broca.