Produção de leite cai mesmo com contagem de células somáticas abaixo de 200.000.
Marcelo Hentz Ramos – PhD / Diretor 3rlab
Um dos pontos mais importantes para atingir altos picos de produção de leite é obter vacas no pós-parto sem mastite (clínica e ou subclínica). Neste artigo iremos discutir quantos litros de leite uma vaca perde devido à infecção subclínica (não podemos ver, precisamos enviar ao laboratório para análise de células somáticas) durante a lactação.
Para discutir este assunto foram sumarizados dados de 10 fazendas do estado de Wisconsin, totalizando 6.000 vacas em lactação. A contagem de célula somáticas no primeiro teste (após o parto e antes dos 30 dias de lactação) foi avaliada para entender o seu impacto sobre a produção de leite no mesmo dia e durante a lactação.
A produção de leite por dia foi reduzida em 7 kg no dia do exame, quando o animal estava com contagem de células somáticas acima de 200.000. Outra conclusão foi que durante a lactação o nível de contaminação do rebanho não importou: acima de 200.000 ou abaixo de 200.000. Quando uma vaca atinge 200.000 elas perdem uma grande quantidade de leite.
Em rebanhos com contagem de células somáticas baixa, 15% dos animais apresentavam contagem acima de 200.000 no primeiro teste. Em contraste, rebanhos com contagens altas apresentaram 40% dos animais acima de 200.000 células somáticas.
Gerentes de fazendas leiteiras geralmente não acreditam que vacas perdem muito leite mesmo com CCS abaixo de 200.000. Precisamos entender que vacas com CCS e vacas com mastite clínica perdem muito leite (deixam de produzir), mas vacas com CCS abaixo de 200.000 também estão deixando de colocar leite no tanque da fazenda.
Ficou claro a relação entre animal com mastite subclínica no pós-parto com menor produção de leite durante a lactação (figura 1). Entretanto, o mecanismo para explicar o impacto na lactação inteira do animal ainda é desconhecido. Pesquisadores sabem que quando uma infecção acontece na glândula mamária, existe uma infiltração de células brancas que excretam substâncias para “matar” os microrganismos invasores. Entre estas substâncias encontram-se inúmeras toxinas que destroem o tecido mamário. Este tecido que foi destruído é substituído por tecido fibroso (não produz leite).
Muitas vezes estamos na fazenda analisando inúmeros dados de produção, reprodução e sanidade tentando entender porque alguns animais conseguem realizar uma lactação com lucro e outros não. Uma porção destes animais que não foram bem sucedidos na lactação podem ser animais que tiveram CCS abaixo de 200.000 no início da lactação. São animais perfeitamente saudáveis aos olhos nus e mesmo com uma análise subclínica. Entretanto, quando observamos o que aconteceu no início da lactação conseguimos finalmente encontrar o problema.
Figura 1 – Produção de leite (milk production, em libras) e contagem de células somáticas. Linha verde – vacas com contagem abaixo de 200.000 e linha azul – vacas com contagem acima de 200.000. Eixo x – meses em lactação.
Adaptado de: Yields drop even at 200.000 CSS. Hoards Dairyman 10 de fevereiro de 2015.