Marcelo Hentz Ramos, Médico Veterinário, PhD – Diretor 3rlab
Subprodutos são “sobras” do processamento de alimentos realizado pelas indústrias de alimentação. A utilização destes materiais para alimentação de vacas leiteiras é de grande importância para conseguirmos produzir leite mais barato. Entretanto, temos que entender a pergunta acima: “o que limita a utilização de subprodutos para vacas leiteiras?”.
Certamente o primeiro ponto é o preço. Precisamos comparar preço de subprodutos com os produtos tradicionais (farelo de soja e milho) sempre buscando um maior retorno por animal (aumentar ou manter a produção de leite) e não tentando diminuir custos (muitas vezes ocasiona queda na produção de leite também). Portanto, um subproduto pode até ser mais caro que a utilização de milho e farelo de soja, mas se experimentos mostram que existe a possibilidade de manter ou aumentar a produção de leite, este subproduto acaba ficando mais barato.
Outro cenário importante é a utilização de subprodutos sem que haja perda na produção de leite (manter a produção). Nestas situações o preço deve ser mais barato que o milho e ou o farelo de soja (o que ocorre em muitas situações). A situação final é quando ocorre queda na produção de leite mesmo sendo o preço do subproduto mais barato que o milho e ou farelo de soja. Nesta situação não recomendamos a utilização.
Perfeito, primeiro consideramos preço. Se o subproduto passou no “teste do preço”, agora partimos para análise da dieta. É recomendável que a dieta tenha pelo menos 20% de amido, ou seja, uma vaca consumindo 20 kg de matéria seca (40 kg de dieta),estará consumindo 4 kg de amido. Portanto, precisamos respeitar, ou no máximo, trabalhar com valores muito próximos a recomendação. Desta maneira, não podemos retirar o milho de uma dieta que já esteja com 20% de amido, porque o amido da dieta irá baixar e existe uma grande chance da produção de leite cair. Entretanto precisamos lembrar também que quando utilizamos subprodutos, nós geralmente aumentamos a quantidade de fibra na dieta (FDN). Mas esta fibra é fibra boa, ou seja, a vaca conseguirá utilizar para produzir leite. Portanto, podemos sim, trabalhar com um pouco menos de amido na dieta, desde que o subproduto tenha consistência na composição nutricional.
Na tabela 1 temos os dados de um experimento realizado com o objetivo de comparar a utilização de subprodutos com alimentos tradicionais (milho). Três dietas foram oferecidas aos animais: uma dieta com baixo amido (17.7%), uma dieta com amido médio (21%) e uma dieta com alto amido (24.6%). Podemos notar na composição da dieta que a quantidade de farelo de trigo, grão de destilaria e polpa de beterraba foram maiores na dieta com baixo amido, o objetivo era exatamente este: testar dietas com menos amido e com mais subprodutos para vacas leiteiras.
Ainda na tabela 1 podemos observar que a produção de leite não foi diferente com a utilização de subprodutos versus milho (média de 43 kg). Importante também notar que o consumo de matéria seca (CMS, a quantidade de material que é nutriente na dieta) não foi diferente (média de 26 kg). Portanto podemos observar dois pontos importantes: não houve mudança na produção de leite e as vacas não comeram menos quando as dietas continham subprodutos.
Este experimento provou que podemos sim trabalhar com subprodutos e manter a mesma produção de leite. Nesta situação o preço do subproduto tem que ser mais barato que o preço do milho. Situações como estas são comumente encontradas em fazendas brasileiras e precisam ser exploradas para permitir um ganho financeiro maior aos produtos quando a utilização de subprodutos é interessante.
Tabela 1 – Composição das dietas utilizados no experimento
Baixo | Médio | Alto | |
Composição ingredientes, %MS | |||
Silagem de milho | 30 | 30 | 30 |
Silagem de capim | 18 | 18 | 18 |
Feno | 5 | 5 | 5 |
Farelo de trigo | 13 | 10 | 7 |
Grão destilaria | 10 | 9 | 8 |
Farelo de soja | 7 | 8 | 9 |
Polpa de beterraba | 7 | 3 | – |
Farinha de milho | 3 | 10 | 17 |
Melaço | 1 | 1 | 1 |
MVA* | 6 | 6 | 5 |
Composição nutricional, %MS | |||
PB | 17.4 | 17.6 | 17.2 |
Amido | 17.7 | 21.0 | 24.6 |
Desempenho | |||
CMS, kg/d | 26.4 | 26.9 | 26.3 |
Leite, kg/d | 42.9 | 43.4 | 43.8 |
- MVA = minerais vitaminas e aditivos.
PB = proteína bruta, CMS = consumo de matéria seca.
Polpa cítrica
Farelo de algodão
Cevada – Resíduo de cervejaria