Autor: Otávio Canestri de Souza Andrade
Foto: Otávio Canestri
O café é hoje um dos principais e mais importantes itens de exportação do Brasil, sendo responsável por movimentar a economia e gerar inúmeros empregos ao longo de todo o território nacional. Esse fruto, além de representar uma tradição cultural muito forte para o país, é também a segunda bebida mais consumida em todo o mundo, o que nos evidencia ainda mais sua grande importância e notoriedade.
Segundo dados da CONAB e da EMBRAPA, o Brasil é o maior país produtor e exportador de café do mundo, com uma produção anual média de mais de 50 milhões
de sacas. Além disso, a produtividade média aqui no país gira em torno de 30 sacas por hectare, sendo que a área total cultivada é de mais ou menos 2,13 milhões de hectares.
Dentre os principais fatores que influenciam diretamente na produtividade e na qualidade dos frutos do cafeeiro estão as doenças, que, se não diagnosticadas e combatidas de forma e no tempo correto, podem colocar em risco toda uma lavoura, causando prejuízos ao produtor e também à sua produção. Uma das principais e mais conhecidas doenças que atacam o cafeeiro é a cercosporiose.
SOBRE A CERCOSPORIOSE
A cercosporiose, também conhecida como mancha-de-cercospora ou mancha de olho pardo é causada pelo fungo Cercospora coffeicola (Berk e Cooke) e pode atacar não só as folhas, mas também os frutos de café, causando prejuízos na produtividade e qualidade dos grãos. Essa doença está presente em praticamente todas as áreas produtivas do país e pode atacar o cafeeiro tanto em sua fase jovem (mudas), quanto cafeeiros em produção.
SINTOMAS
Quando essa doença ataca as folhas, é possível perceber inicialmente pequenas manchas circulares com coloração marrom-escura e que vão crescendo rapidamente, tornando o centro das lesões cinza-claro, com um anel amarelado em volta da lesão, dando aparência de um olho. Por isso a doença é comumente chamada de “mancha de olho pardo”. Algumas lesões podem também serem escuras e não formarem o centro claro, nem o halo amarelo, nessa condição denomina-se cercospora negra, este tipo é muito comum em folhas de cafeeiros com deficiência em fósforo. As folhas que são atingidas pela doença caem rapidamente, o que causa desfolha das plantas e até secas de ramos (MATIELLO; ALMEIDA; 2018).
Foto: PROCAFÉ
Além dos sintomas encontrados nas folhas, a cercosporiose pode ocorrer também nos frutos, cujos os sintomas são pequenas manchas necróticas e deprimidas, de coloração marrom a negra. A queda precoce dos frutos, maturação acelerada e aumento na quantidade de grãos chochos são também alguns dos prejuízos causados por essa doença. Vale ressaltar ainda que a parte da casca necrosada fica fortemente aderida ao pergaminho, dificultando o processo de descascamento e despolpamento, gerando frutos quebrados e de má qualidade (CHAVES, A. 2014).
Foto: agrolink
CONDIÇÕES FAVORÁVEIS PARA O SURGIMENTO DA CERCOSPIROSE.
Entre as condições favoráveis ao surgimento e desenvolvimento da cercosporiose, podemos citar as condições ambientais como as principais, sendo elas: exposição ao sol, molhamento foliar e temperatura média.
O professor de Fitopatologia da UFLA e doutor Edson Pozza, no ano de 2011 realizou um experimento que comprovou que a incidência de Cercosporiose é maior na face das plantas voltadas para o lado norte, que apresentam maior exposição ao sol, devido a toxina cercosporina que é produzida e ativada pela presença de luz e causa danos à membrana celular do hospedeiro. Dessa forma, a intensidade da Cercosporiose é maior em plantios a pleno sol. Veja o gráfico abaixo que representa esse estudo:
Incidência em porcentagem da cercosporiose (Cercospora coffeicola) em frutos de café (Coffea arabica) localizados no terço mediano da planta, em cada face de exposição (norte e sul), em lavoura irrigada por pivô central. UFLA, Lavras, MG, 2011.
Fonte:
GARCIA JUNIOR, D. POZZA, E. A. POZZA, A. A. SOUZA, P. E. CARVALHO, J. G. BALIEIRO, A. C. Incidência
e Severidade da Cercosporiose do Cafeeiro em Função do Suprimento de Potássio e Cálcio em Solução Nutritiva. Fitopatol. bras. 28
CONTROLE DA DOENÇA
O controle da cercosporiose consiste, basicamente, em medidas preventivas que reduzam ou eliminem as condições favoráveis ao desenvolvimento do fungo. Essas medidas devem ser tomadas desde o momento da formação de mudas, até cafeeiros recém implantados e em lavouras em produção (MESQUITA et al., 2016). É importante dizer que quando a planta estiver bem nutrida e com equilíbrio nutricional, dificilmente a doença encontrará formas de a atacar.
O controle cultural em viveiros, deve ocorrer com a instalação do mesmo em locais secos, arejados e bem drenados. A irrigação deve ser controlada para não haver excesso e nem falta de água. Além disso é importante proteger as mudas contra a ação dos ventos frios e da insolação, escolher substratos de qualidade e realizar aclimatação antes de levar as mudas para o campo.
Após as mudas saírem dos viveiros, é indicado também evitar o plantio em solos arenosos e compactados, respeitando um bom espaçamento entre plantas e preparando adequadamente o solo com adubações e correções de acidez. O monitoramento pós plantio é fundamental para averiguar o desenvolvimento das plantas e possíveis surgimentos da doença.
Em lavouras adultas é recomendado um cuidado maior no momento da adubação, com o objetivo de evitar o desequilíbrio da relação parte aérea/sistema radicular, condição essa que favorece o desenvolvimento da doença. Este cuidado deve ser redobrado quando utilizadas cultivares que possuem uma alta produção precoce, levando a uma necessidade maior de adubação nitrogenada em equilíbrio com a adubação potássica (MESQUITA et al., 2016).
O controle químico da cercosporiose, assim com as medidas citadas anteriormente, deve ter caráter preventivo, ou seja, os produtos (fungicidas) devem ser aplicados com o objetivo de prevenir o surgimento da doença, e não combatê-la após sua proliferação na lavoura. É recomendado que o controle seja feito entre os meses de dezembro e fevereiro (MATIELLO; ALMEIDA; 2018).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MATIELLO, J. B; ALMEIDA, S. R – Procafé: Cercosporiose no cafeeiro, doença secundária, mas importante – disponível em https://www.noticiasagricolas.com.br/noticias/cafe/212200- procafe-cercosporiose-no-cafeeiro-doenca-secundaria-mas-importante.html#.XtfOXTpKjcs acesso em 03/06/2020.
MESQUITA, Carlos Magno de et al. Manual do café: distúrbios fisiológicos, pragas e doenças do cafeeiro (Coffea arábica L.). Belo Horizonte: EMATER-MG, 2016. 62 p. il.
GARCIA JUNIOR, D. POZZA, E. A. POZZA, A. A. SOUZA, P. E. CARVALHO, J. G. BALIEIRO, A. C.
Incidência e Severidade da Cercosporiose do Cafeeiro em Função do Suprimento de Potássio e Cálcio em Solução Nutritiva. Fitopatol. bras. 28.
CHAVES,C. et al – Manejo da cercosporiose, doença de extrema agressividade na cultura do café
– disponível em https://www.grupocultivar.com.br/artigos/manejo-da-cercosporiose-doenca- de-extrema-agressividade-na-cultura-do-cafe acesso em 03/06/2020.
EMBRAPA – Cafés do Brasil têm produtividade média superior a 32 sacas por hectare em 2018 – disponível em https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/38092192/cafes-do-brasil- tem-produtividade-media-superior-a-32-sacas-por-hectare-em- 2018#:~:text=Caf%C3%A9s%20do%20Brasil%20t%C3%AAm%20produtividade%20m%C3%A9di a%20superior,sacas%20por%20hectare%20em%202018&text=A%20produ%C3%A7%C3%A3o% 20dos%20Caf%C3%A9s%20do%20Brasil%20estimada%20para%20este%20ano,32%2C17%20sa cas%20por%20hectare. Acesso em 03/06/2020.
FERREIRA, L. T; CAVATON, T. F. – Safra dos Cafés do Brasil atinge 49,31 milhões de sacas das quais 34,3 milhões da espécie arábica e 15,01 milhões de conilon em 2019 – Disponível em http://www.consorciopesquisacafe.com.br/index.php/imprensa/noticias/963-2019-12-20-13- 19-19 – Acesso em 03/06/2020