Cecília Donata Silva de Oliveira
Imagem de W olfgang Ehrecke por Pixabay
A pecuária leiteira ocupa uma posição importante na economia brasileira, porém é possível observar questões como má qualidade do leite, que ocorre devido a diversos fatores. Dentre eles a falta de conhecimento básico sobre higiene no momento da ordenha, Para uma produção de leite de alta qualidade, deve-se preconizar um manejo de ordenha que reduza a contaminação e transmissão de patógenos.
A mastite bovina é um processo de inflamação da glândula mamária, causada por diversos microrganismos, os casos mais comuns são causados principalmente por fungos e bactérias. O processo inflamatório altera a composição química e física do leite e pode lesar o tecido mamário, causando perdas na produção!
A infecção pode ser manifestar de duas maneiras: na Mastite clinica podemos observar sintomas de inflamação no úbere e tetos; alteração na composição do leite, grumos, pus, febre e queda na produção. Já na Mastite subclínica, ela se manifesta de maneira silenciosa nos animais e não apresenta sinais clínicos, podendo passar desapercebida e se alastrar entre as vacas, causando redução da produção leiteira, aumento da CCS (Contagem de células somáticas) e prejuízos a saúde dos animais. Para realizar o diagnóstico pode ser realizado um teste de CMT “California Mastists test” que é um teste rápido e de baixo custo ou exame microbiológico.
Os microrganismos estão agrupados de acordo com a sua origem e modo de transmissão
- Mastite contagiosa: Causada por bactérias, dentre elas podemos destacar o gênero Staphylococcus aureus. O úbere do animal infectado se torna o principal habitat dessas bactérias; Sendo capaz de se disseminar entre os animais do rebanho ou entre os tetos do mesmo animal durante a ordenha. Equipamentos contaminados, mãos dos ordenhadores, ou panos usados em mais de uma vaca, são as principais formas de transmissão
- Mastite ambiental: Pode ser causada por bactérias, fungos leveduras e algas. Esses microrganismos geralmente ficam no ambiente onde os animais estão no período entre as ordenhas. Tendem apresenta-se mais na forma clínica, é caracterizada como uma infecção curta, que resulta em queda brusca da produção de leite, e até mesmo, a morte da vaca.
Importância da higiene durante a ordenha
Dentre as medidas que tem se mostrado eficientes para controle da infecção, ações de higiene durante a ordenha tem-se mostrado eficaz, visto que a incidência de contaminações por microrganismos neste período tem maior intensidade. Estratégias simples devem ser admitidas visando reduzir a contaminação no momento da ordenha.
- Ordem de ordenha – Vacas infectadas ou que já foram infectadas devem ser ordenhadas por último. Mantendo a seguinte ordem: Primeira lactação, vacas que nunca tiveram mastite, vacas que já foram curadas da infecção, vacas com mastite.
- Retirada dos primeiros jatos – Descartar os três primeiros jatos de leite em um fundo escuro (caneca preta), identificando os casos de mastite clínica, podemos observar a presença de grumos e também descarte do leite armazenado no canal do teto que possui uma alta carga bacteriana.
- Lavagem dos tetos – Proceder a lavagem dos tetos com água corrente de baixa pressão, evitando deixar o jato subir para a parte superior do úbere do animal.
- Desinfecção dos tetos pré ordenha (Pre-Dipping) – Uso de desinfetante, geralmente propriedades utilizam iodo ou cloro, reduz a carga bacteriana que está na superfície do teto do animal. Diminuindo casos de infecções intramamárias, principalmente aquelas causadas por patógenos ambientais. Com o uso do pré-dipping, podemos descartar a lavagem com água dos tetos dos animais, exceto para animais com excesso de sujidade como barro ou esterco.
- Secagem dos tetos – Deve ser realizada essencialmente após o uso do pré-dipping, impedindo a contaminação do leite com a solução desinfetante utilizada, essa prática exerce forte influência sob a qualidade do leite, reduzindo a carga bacteriana do mesmo.
- Colocação das teteiras – Ao realizarmos o preparo do animal, descarte dos primeiros jatos, desinfecção e secagem, o estímulo para ejeção do leite ocorre cerca de um minuto, deve-se colocar as teteiras no máximo 1,5 minutos após o procedimento, uma rotina tranquila de ordenha é necessário para evitar que a retirada do leite não seja incompleta.
- Desinfecção dos tetos pós ordenha (Pós-Dipping)– Imersão dos tetos em solução desinfetante, mais utilizados são iodo e cloro entre outros, a mistura vem acompanhada de um agente emoliente para evitar o ressecamento da pele do teto, o objetivo é controlar e diminuir a incidência de novos casos de infecção. É o método mais eficaz contra mastite contagiosa.
Tabela 1: Contagem de células somáticas e crescimento microbiológico de duas fazendas do estudo, coleta 1 antes da implantação do pós-dipping e coleta 2 após o uso do mesmo.
Fazenda | Coleta | CCS | Microbiológico (%) |
1 | 1 | 2514.43 | 95.83 |
2 | 1150.56 | 84.83 | |
2 | 1 | 778.06 | 73.39 |
2 | 358.16 | 50.00 |
Fonte: Adaptado Alves 2017
Qualidade do leite
As condições sanitárias e saúde do rebanho mostram que o índice de contaminação microbiana pode nos dizer muito sob a qualidade do leite. O leite é um ótimo substrato para proliferação de bactérias que alteram sua composição química. Degradam gorduras, proteínas e carboidratos do mesmo, o tornando impróprio para comercialização, Contudo é ressaltamos a importância de boas práticas de higiene durante o processo de ordenha, visando reduzir a contaminação do leite. Higiene das mãos do ordenhador, dos azulejos da sala de ordenha, latões, ordenhadeiras e a higiene dos animais são essenciais para o controle da infecção. Podemos considerar um leite de boa qualidade aquele que apresenta baixa contagem de células somáticas, ausência de agentes patogênicos e contaminantes, baixa carga microbiana, sem alteração de seu valor nutricional e características como cor, sabor e cheiro.
Referências:
- Pós – dipping na produção, composição e qualidade do leite. Autora: Elizabeth Simões do Amaral Alves. Disponivel em: http://www.repositorio.ufal.br/bitstream/riufal/5943/3/P%c3%b3s-
Dipping%2c%20na%20produ%c3%a7%c3%a3o%2c%20composi%c3%a7%c3%a3o%20e%20qualidade%20
do%20leite..pdf
- Circular técnica: Manejo Correto da Ordenha e Qualidade do Leite. Por: Renata Wolf Suñé Martins da Silva, Jocely da Silva Portella, Melissa Michelott Veras. Disponivel em:
https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/227703/1/CR2702.pdf.
- Conceitos atuais sobre mastite contagiosa ou ambiental – Parte 1 Por: MARCOS VEIGA SANTOS e TIAGO TOMAZI. Disponivel em: h ttps://www.milkpoint.com.br/colunas/marco-veiga-dos-santos/conceitos-atuais-
sobre-mastite-contagiosa-ou-ambiental-parte-1-204901n.aspx