Giane Lima Nepomuceno
Universidade Federal de Lavras – 3rlab
A Agricultura de Precisão é um tema abrangente, sistêmico e multidisciplinar. Não se limita a algumas culturas nem a algumas regiões.
Trata-se de um sistema de manejo integrado de informações e tecnologias, fundamentado nos conceitos de que as variabilidades de espaço e tempo influenciam nos rendimentos dos cultivos.
A agricultura de precisão visa o gerenciamento mais detalhado do sistema de produção agrícola como um todo, não somente das aplicações de insumos ou de mapeamentos diversos, mas de todo os processos envolvidos na produção.
Esse conjunto de ferramentas para a agricultura pode fazer a utilização do GNSS (Global Navigation Satelite System), do SIG (Sistema de Informações Geográficas), de instrumentos e de sensores para medidas ou detecção de parâmetros ou de alvos de interesse no agroecossistema (solo, planta, insetos e doenças), de geoestatística e da mecatrônica.
Hoje, especialmente no Brasil, as soluções existentes estão focadas na aplicação de fertilizantes e corretivos em taxa variável, porém não se deve perder de vista que AP é um sistema de gestão que considera a variabilidade espacial das lavouras em todos seus aspectos: produtividade, solo (características físicas, químicas, compactação etc), infestação de ervas daninhas, doenças e pragas (figura – 1).
Figura – 1:Agricultura de Precisão.
Mas a AP não está relacionada somente a utilização de ferramentas de alta tecnologia, pois os seus fundamentos podem ser empregados no dia-a-dia das propriedades pela maior organização e controle das atividades, dos gastos e produtividade em cada área. O emprego da diferenciação já ocorre na divisão e localização das lavouras dentro das propriedades, na divisão dos talhões ou piquetes, ou simplesmente, na identificação de “manchas” que diferem do padrão geral. A partir dessa divisão, o tratamento diferenciado de cada área é a aplicação do conceito de AP.
Com a adoção de técnicas e tecnologias da AP, tem sido possível favorecer a aplicação racional de insumos, otimizando o potencial produtivo, além de reduzir o impacto ambiental. Outro ponto a favor é a maior eficiência agrícola, menor custo na produção e, consequentemente, menor preço final dos produtos ao consumidor. A implementação da AP permite o aproveitamento de terras até então consideradas improdutivas, mudando a realidade econômica e social de diversas regiões do Brasil. Um exemplo significativo é a transformação de grandes extensões de savanas, os cerrados brasileiros, que apresentam alta acidez e baixo teor de nutrientes, em áreas altamente produtivas.
Segundo Bernardi, a Agricultura de Precisão tem ido bem e o número de adeptos vem aumentando gradativamente, com destaque na produção de soja e milho. Mas trigo, feijão, algodão, café e cana-de-açúcar também são culturas que começam a ver melhorias em seus rendimentos ao adotar a regra de aplicar o que é preciso onde for mais indicado.
O Brasil, porém, ainda tem um longo caminho a percorrer. Entre os fatores que contribuem para o lento desenvolvimento da tecnologia no campo estão o custo elevado dos equipamentos e, principalmente, a carência de mão de obra qualificada. Segundo Fábio Mattioni, engenheiro agrônomo e consultor dos produtores da região de Campo Verde (MT):“Existe uma forte demanda pela parte da tecnologia, mas faltam profissionais capacitados para interpretar e implementar essas técnicas na fazenda.”
Hoje, a maioria dos produtores trabalha apenas com o conceito básico da Agricultura de Precisão. “Grande parte utiliza mapas de amostragem para a correção do solo, máquinas que auxiliam o plantio e sensores para o monitoramento da colheita”, explica Mattioni (figura – 2). De acordo com o especialista, o próximo passo é a popularização dos pulverizadores, capazes de fazer a aplicação de herbicidas e defensivos com taxa variável, e a adoção da irrigação de precisão, o que aperfeiçoará a utilização da água nas lavouras.
Figura – 2: Agricultura de Precisão, grande parte utiliza mapas de amostragem para a correção do solo, máquinas que auxiliam o plantio e sensores para o monitoramento da colheita.
Recentemente, várias inovações tecnológicas chegaram ao mercado. Entre elas está o SeedSense, um monitor que supervisiona o desempenho da plantadeira. Já o aplicativo Field View transforma as informações deste monitor em mapas, tudo em tempo real. Assim, desde que conte com acesso à internet, o produtor pode visualizar possíveis falhas, acompanhar a velocidade adotada e até mesmo a qualidade ao longo do cultivo. Outro recurso é o Wavevision, um dispositivo acoplado às plantadeiras para medir a massa durante o plantio, diferenciando o que é semente de outros materiais, aumentando, assim, a assertividade no processo.
Essas e outras tecnologias já são realidade nas chamadas “fazendas hi-tech”. Ou seja, esse conceito de fazenda inteligente (ou smart farm) é o principal indício do promissor futuro no campo. “A tendência é uma interligação entre todas as atividades da propriedade. Esse amplo monitoramento e o controle intenso do funcionamento das máquinas permitirá a melhor utilização dos insumos e um ganho em produtividade. Isso já está acontecendo nos EUA”, segundo Bernardi.