Rafael Achilles Marcelino
Universidade Federal de Lavras – 3rlab
Estudos internacionais mostram que consumidores de países em crescimento econômico, como o Brasil, sempre aumentam a procura por cames em detrimento de outros alimentos. Com mais dinheiro para gastar, as pessoas dão preferência a carnes de melhor qualidade. Este novo nicho parece estar em franco crescimento: quem não quer comer picanha se tem dinheiro no bolso?
Mas um boi que só tenha picanha nem a mais evoluída engenharia genética vai ser capaz de produzir. Talvez o caminho já está sendo trilhado. Como produtores e frigoríficos vêm investindo em genética e tecnologia, produzimos hoje um boi cuja carcaça inteira (figura 1) é de primeira qualidade. Não só os cortes nobres do traseiro, mas também do dianteiro. Esse boi “moderno” gera carne que nada deixa a desejar àqueIa importada da Argentina, proveniente das fazendas do Pampa úmido.
Figura 1 – Carcaças bovinas
Mas ainda enfrentamos uma realidade que tem sua importância: o boi de “segunda”, que continua produzindo os chamados cortes de “primeira”, que não passam mais do que 25 kg da carcaça, e os de “segunda”, o restante da carcaça. Desperdício.
Quando falamos do boi de “segunda”, estamos falando de produção e manejo antigos. Pecuaristas que não acreditam que é possível com a melhora na genética e no trato aumentar significativamente sua produção, gerando assim maiores ganhos. Esse criador tem o gado pronto para abate com mais de 48 meses. Os bezerros são desmamados com menos de 150 kg e as fêmeas têm a primeira cria com mais de três anos de idade. Para essa pecuária de ‘segunda’ a conta não fecha.
Sem dúvida, esse não é mais o produtor que retrata a realidade da pecuária brasileira. Pode estar ainda em maiornúmero, mas longe de mostrar os excepcionais avanços da atividade, que dobrou a oferta de carne bovina em uma década e tem indicadores de eficácia cada vez mais elevados.
Uma carne de ‘segunda’ proveniente de um boi de primeira além de ser muito saborosa – normalmente melhor que o filé mignon – chega às gôndolas com preços praticados no mercado, ou seja, sem o custo alto das carnes especiais. E o pecuarista recebe mais por isso.
Cada vez mais o criador brasileiro moderno está investindo em tecnologia, em uma propriedade com parâmetros para a produção sustentável, preservando a água, matas e encostas. Ele sabe que sua fazenda necessita estar em equilíbrio com a natureza.
Felizmente, para nós, consumidores e produtores, este pecuarista está ganhando espaço, pois o número de adeptos aumenta, comprovando que é possível produzir heterose com touro a campo ou inseminando aqueles que já têm nível de tecnologia maior,
Os sinais são vários e evidentes. Não se pode fechar os olhos para o aumento da procura por raças bovinas de alta produtividade – as chamadas raças adaptadas – e as taurinas, entre elas as britânicas, com bons ganhos de peso, cujos bezerros desmamam pesados e ganham peso rapidamente, estando prontos para o abate mais cedo.
Em destaque novamente o chamado cruzamento industrial, ou seja: o touro adaptado ou europeu acasalado com vacas zebuínas ou meio sangue (zebu x taurino) e novo cruzamento com o touro adaptado, gerando o animal 3/4. Seus bezerros são de 15% a 20% mais pesados. Isso significa mais peso (e mais rápido) por carcaça e com carne de melhor qualidade tendo no máximo 25% de zebu, segundo padrões internacionais. Hoje, isso é realidade e é possível em condições de campo.
O Bonsmara (figura 2), raça trazida da África do Sul, é o mais bem-sucedido exemplo desse cruzamento. Seus primeiros embriões chegaram ao Brasil há mais ou menos uma década. Essa raça produz touros resistentes ao calor, capazes de percorrer grandes distâncias atrás das vacas, possibilitando plena adaptação ao clima quente, com fertilidade, precocidade e alta qualidade de carne.
Figura 2 – Bonsmara
A pecuária brasileira tem várias oportunidades para manter a expansão. O mercado interno está aquecido e o externo cada vez maior e mais exigente. Os produtores devem fazer suas escolhas para participar ativamente desse processo. E também sempre ter em vista qual raça é mais adaptada ao seu manejo, clima, e alimentos porque em sempre uma raça que se desenvolve bem no sul do país vai ter o mesmo desenvolvimento no norte, é preciso sempre buscar por animais de qualidade e com a ajuda de profissionais capacitados. Com animais bem adaptados e com a melhor genética, é totalmente possível produzir carcaças com maior rendimento de carne e com padrão. E também não se pode esquecer a alimentação desses animais, porque de nada adianta um animal com boa genética receber uma dieta desequilibrada ou de má qualidade.