Gabriella Lima Andrade de Sousa
Universidade Federal de Lavras – 3rlab
Embora de ocorrência frequente na soja, no passado, os níveis populacionais da lagarta falsa-medideira (Chrysodeixis includens) eram muito baixos, sendo considerada como praga secundária. Um dos motivos principais para sua população ser normalmente tão baixa é a alta eficiência de seus inimigos naturais, especialmente parasitoides, que têm uma grande capacidade de manter a população sob controle. Porém, nas últimas safras em muitas regiões, essa lagarta tem sido considerada uma das pragas principais.
A lagarta falsa-medideira passou a ser considerada uma praga importante na cultura da soja após as safras de 2000 a 2002, devido ao desequilíbrio do agrossistema, ocasionado pela constante aplicação de fungicidas e outros produtos não seletivos para o controle da ferrugem asiática, afetando os inimigos naturais da lagarta.
A correta identificação dessa praga no campo é de grande importância. Seus ovos são globulares, medem cerca de 0,5 milímetros de diâmetro (figura 1) e apresentam coloração creme-clara logo após a oviposição e marrom-clara próximo à eclosão. O desenvolvimento embrionário se completa em torno de 2,5 dias.
Figura 1: Características dos ovos de Chrysodeixis includens
As lagartas que eclodem são de coloração verde-clara, com listras longitudinais brancas e pontuações pretas, atingindo de 40 a 45 milímetros de comprimento em seu último estádio larval (figura 2). Dentro de cada instar, a lagarta sofre uma perceptível mudança na coloração, de verde amarronzada-clara enquanto se alimenta, para verde-limão translúcida.
Figura 2: Características da lagarta falsa-medideira
Depois do último instar larval, esta lagarta se transforma em pupa, que ocorre sob uma teia, em geral na face abaxial das folhas (figura 3). O período de pupa dura de 7 a 9 dias até a emergência dos adultos. A coloração da pupa é afetada pelo tipo da dieta em que a lagarta se desenvolve Nesse período, os olhos passam de uma tonalidade escurecida para coloração verde-clara.
Figura 3: Chrysodeixis includens no período de pupa
Os adultos são mariposas com 35 milímetros de envergadura de asas, dispostas em forma inclinada. As asas anteriores são de coloração escura, com duas manchas prateadas brilhantes na parte central do primeiro par de asas, e as asas posteriores são de coloração marrom.
As lagartas geralmente se alimentam de folhas localizadas no terço médio e baixeiro da soja. No primeiro e segundo instar as lagartas raspam as folhas, selecionando as mais novas e com baixo teor de fibras, enquanto as lagartas mais desenvolvidas são menos exigentes e alimentam-se de folhas mais velhas e fibrosas. No terceiro instar, as lagartas conseguem perfurar as folhas, deixando íntegras somente as nervuras centrais e laterais (figura 4), diferentemente da lagarta-da-soja que consome toda superfície foliar, inclusive o pecíolo das folhas.
Figura 4: Danos causados pela lagarta falsa-medideira
Nas últimas safras, o aumento da população da lagarta foi favorecido pela estiagem em algumas regiões produtoras de soja, ocasionando altas temperaturas e baixa umidade do ar proporcionando a aceleração do crescimento populacional e a redução da ação dos inimigos naturais, respectivamente. No manejo adequado da praga, destaca-se o Manejo Integrado de Pragas (MIP) associado ao monitoramento da lavoura, o uso racional do controle químico, utilização de cultivares geneticamente modificada e a preservação dos inimigos naturais através do controle biológico.
Por todo exposto, foi possível observar os grandes prejuízos que a falsa-medideira pode ocasionar na cultura da soja. Dessa forma, essa praga pode ser manejada através do monitoramento e práticas do MIP, preservando os inimigos naturais no campo, obtendo boa produtividade com redução dos custos de aplicação de inseticidas e prejuízos econômicos que podem ser causados pela praga.