Lucas Machado – Universidade Federal de Lavras – 3rlab
Alguns insetos pragas possuem grande potencial em provocar danos econômicos a uma lavoura comercial. No milho, podemos citar a Helicoverpa zea (figura 1) como sendo uma das importantes pragas da cultura, pela preferência apresentada pela lagarta da espiga (forma jovem da Helicoverpa zea) em atacar as partes comercializáveis, ou seja, sendo um inseto que causa dano direto ao milho e a outras culturas, como: abóbora, abobrinha, algodão, alho, berinjela, cebola, chuchu, ervilha, feijão, feijão-vagem, fumo, girassol, jiló, melancia, melão, milho, pepino, pimentão, soja, sorgo, tomate e trigo.
Figura 1 Lagarta atacando a espiga do milho. |
A mariposa, inseto na forma adulta, mede cerca de 40 mm de envergadura, apresenta asas anteriores de cor amarelo-parda, com uma faixa transversal escura, e manchas escuras aleatórias sobre as asas. As asas posteriores possuem coloração mais clara, com faixa nas bordas externas (figura 2).
Figura 2 Helicoverpa zea em fase adulta (mariposa). |
O inseto adulto, preferencialmente deposita seus ovos nos estilos-estigmas (cabelo do milho), entretanto, pode também colocar os ovos nas folhas de plantas ainda em estádios vegetativos de desenvolvimento. É possível encontrar até 13 ovos por espiga, com um período de incubação em torno de três dias. Ao eclodir, as larvas se alimentam dos cabelos de milho, e dependendo da quantidade de larvas podem ocorrer grandes falhas nas espigas pela não formação dos grãos. As larvas podem atingir cerca de 35 mm e ao se desenvolver elas caminham em direção à ponta da espiga e a partir daí, começam a se alimentar dos grãos em formação.
O inseto completa seu ciclo total de vida com aproximadamente 45 dias, passando por seis instares larvais num período de 28 dias. Durante um ano é possível que ocorra mais que cinco gerações do inseto, fato que também dificulta o controle. O ciclo de vida desse inseto se reinicia quando a larva está totalmente desenvolvida e sai da espiga em direção ao solo. No solo, a larva se transforma em pupa, período que pode durar aproximadamente 12 dias, quando então ocorre a formação do inseto adulto, dando início a um novo ciclo.
As formas com que essa lagarta pode prejudicar a cultura são as seguintes: impedindo a fertilização pelo ataque aos estigmas, se alimentando dos grãos leitosos, fato que reduz o peso de grãos e deixando orifícios que propicia a entrada de microrganismos que podem causar podridões.
Os danos causados pela lagarta da espiga são semelhantes aos causados pela lagarta do cartucho (Spodoptera frugiperda), o que pode gerar confusão. Uma característica marcante e que facilita a identificação da praga é a coloração da cabeça. A lagarta da espiga apresenta cabeça de coloração marrom bem clara e já a lagarta do cartucho apresenta a cabeça na cor mais escura, quase preta.
O controle químico através de inseticidas não é muito eficiente, pelo fato da larva estar protegida na espiga, dificultando atingir o alvo (lagarta) por meio de pulverizações. Assim, uma das alternativas para controle é a utilização das técnicas de controle biológico, com o uso de parasitoides e predadores, dando destaque a tesourinha (Doru luteipes). A tesourinha deposita seus ovos nas camadas de palha da espiga e tanto a forma jovem quanto os adultos se alimentam dos ovos e das pequenas larvas da praga. Uma tesourinha pode consumir aproximadamente 42 ovos por dia.
Os ovos da Helicoverpa zea podem ser parasitados por Trichogramma, uma vespa capaz de parasitar os ovos de várias espécies de insetos praga. A utilização de parasitoides como forma de controle tem se mostrado bastante eficiente, sendo amplamente utilizados atualmente em países como: China, França, Estados Unidos, Rússia, Nicarágua e Colômbia. Essas vespas podem ser criadas facilmente em laboratório através de hospedeiros alternativos, fato que viabiliza economicamente a aquisição para distribuição em grandes lavouras comerciais. Em algumas regiões é possível que o parasitismo atinja taxas de 80%, proporcionando tranquilidade ao produtor, visto que dessa forma a praga não ocasiona danos significativos ao milho (figura 3).
Figura 3 Vespa parasitando o ovo. |
A dificuldade encontrada em controlar essa praga por meio de defensivo químico, somado ao fato dos técnicos de campo estarem atentos para que não ocorra o uso indiscriminado de inseticidas, são fatores que aumentam a importância em adotar medidas como o controle biológico e ter a consciência em preservar os inimigos naturais, sendo essas as principais e mais importantes formas de controle e manejo dessa praga na cultura do milho no Brasil.