Giane Lima Nepomuceno
Universidade Federal de Lavras – 3rlab.
A febre do leite, também conhecida como hipocalcemia, é uma doença causada pelo distúrbio metabólico, no qual ocorre a deficiência de cálcio no organismo de bovinos leiteiros devido à mobilização do elemento no período pré-parto e pós-parto (figura – 1). A mobilização do cálcio ocorre para atender as necessidades do organismo do animal para a produção de colostro e de leite. Durante a gestação também ocorrerá deslocamento do elemento para o processo de crescimento do feto, portanto o fornecimento de uma dieta e manejo adequado às vacas leiteiras é importante para o bom desempenho do animal durante esta fase.
Figura 1 – Febre do leite deficiência de cálcio no organismo de bovinos leiteiros devido à mobilização do elemento no período pré-parto e pós-parto.
Fatores que influenciam a ocorrência da febre do leite:
- A idade do animal, pois com o decorrer das lactações a vaca demonstra certa dificuldade na mobilização de cálcio;
- Consumo de cálcio durante o período seco (vacas não lactantes),
- Alto teor de cálcio na dieta, reduzindo a liberação do paratormônio e consequentemente, dificultando a mobilização do cálcio;
- Fatores nutricionais durante o período de transição, pois o animal passa a ingerir alimentos em menor quantidade, reduzindo o teor de cálcio disponível na dieta (ocorre principalmente quando há o oferecimento de matéria seca à base de palha e cereais);
- A produção de estrógenos inibe a mobilização do cálcio e a época da parição aumenta o teor deste hormônio, portanto, há um efeito negativo para manter a calcemia;
- A deficiência de magnésio induz a ocorrência de hipocalcemia, explicando casos da doença que não coincidem com a época de parto (vacas não lactante). Este fato ocorre devido ao magnésio estar associado ao sistema de mobilização de cálcio nos bovinos;
- A raça Jersey é mais susceptível a hipocalcemia devido sua maior produtividade de colostro e sua predisposição genética às doenças;
- Problemas como acidose e diarreia reduzem a absorção intestinal do cálcio.
O diagnóstico da febre do leite surge nos sinais clínicos e no histórico dos animais e é confirmado pela resposta positiva ao tratamento. Os sinais clínicos da hipocalcemia iniciam com aumento da sensibilidade. O animal encontra-se em pé com tremor muscular da cabeça e dos membros, evita andar e não se alimenta. Podem ocorrer agitação e paralisia da cabeça, com ranger de dentes e, posteriormente, ocorre rigidez das patas traseiras. O animal cai e permanece deitado por longo período, com a cabeça voltada para o flanco. Ocorre diminuição do estado de consciência, desaparece a rigidez das patas e os membros ficam flácidos com as extremidades frias. Alterações digestivas como, parada ruminal e timpanismo (produção intensa de gases na barriga) são frequentes. Caso não sejam tratados com medicamentos específicos, esses animais podem morrer.
Quando a vaca apresentar sintomas de hipocalcemia, o tratamento deve ser rápido (figura – 2). A recomendação é a administração intravenosa de gluconato de cálcio. Como o cálcio é cardiotóxico, a sua aplicação deve ser lenta e acompanhada de auscultação cardíaca. Na maioria dos animais a recuperação acontece imediatamente após o tratamento ou até 2 horas após. Os sinais indicativos de melhora clínica durante o tratamento são: tremores musculares finos, aumento da intensidade dos batimentos cardíacos, o pulso se torna evidente, retorno da defecação e eructação e tentativa do animal em se manter em pé. Quando o diagnóstico é feito corretamente e as vacas são tratadas em tempo hábil, a maioria se recupera.
Figura 2 – Vaca apresentando sintomas de hipocalcemia, o tratamento deve ser rápido.
Os custos do tratamento da hipocalcemia puerperal são relativamente baixos, porém os maiores prejuízos são em decorrência de uma série de complicações associadas como, por exemplo, retenção de placenta, prolapso uterino, partos complicados e mastite clínica. A febre do leite pode trazer prejuízos à produtividade porque afeta o desempenho animal, podendo reduzir em 14 % a produção de leite na lactação e também reduzir a vida útil da vaca em 3 a 4 anos.
A melhor prevenção da febre do leite é a alimentação correta, uso de mineral adequado e as boas práticas de manejo adotadas no pré-parto e pós-parto imediato. Um manejo nutricional adequado, iniciando-se cerca de 30 a 40 dias antes do parto, e alguns cuidados entre 48 horas antes e 48 horas após o parto, reduzem a incidência de hipocalcemia puerperal e suas complicações. Também são recomendadas dietas com altos níveis de fósforo durante a gestação e dietas com baixos níveis de cálcio no pré-parto.