Gabriella Lima Andrade de Sousa
Universidade Federal de Lavras – 3rlab
O arroz é uma planta da família das gramíneas que alimenta mais da metade da população humana do mundo. É a terceira maior cultura cerealífera do mundo, apenas ultrapassado pelo milho e trigo. Em todas as fases de desenvolvimento, a cultura está sujeita ao ataque de doenças que reduzem a produtividade e qualidade de grãos. A prevalência e a severidade das doenças dependem da presença de patógeno virulento, do ambiente favorável e da suscetibilidade da cultivar. Mais de 80 doenças causadas por patógenos, inclusive fungos, bactérias, vírus e nematoides, em diferentes países, estão registrados. No Brasil, o número exato de doenças de arroz, até agora, não está bem definido e algumas delas, que ocorrem em menor escala não tem sua ocorrência relatada.
O primeiro relato sobre a escaldadura em arroz foi feito no Japão em 1955, embora a doença já fosse conhecida anteriormente por outros nomes. Sua ocorrência é bastante generalizada, tendo sido identificada em diferentes partes do mundo onde o arroz é cultivado. A doença pode provocar perdas consideráveis em vários países da América Latina, inclusive no Brasil.
A escaldadura já foi constatada em praticamente todo o território brasileiro, sendo considerada particularmente importante na região Norte. Na região Centro-Oeste tem sido observado um crescimento significativo da doença. Tanto as culturas instaladas em condições irrigadas quanto as de sequeiro estão sujeitas ao ataque do patógeno Na cultura de sequeiro, a ocorrência de chuvas contínuas e de longos períodos de orvalho são fatores extremamente favoráveis ao seu desenvolvimento. Em função da prevalência destes fatores nas regiões tropicais, a escaldadura assume um papel relevante nestas regiões.
O agente causal da doença é o fungo Monographella albescens. As condições climáticas favoráveis ao desenvolvimento da escaldadura das folhas são alta pluviosidade, temperatura média entre 24 e 28°C, períodos prolongados de orvalho, alta densidade de plantas e adubação nitrogenada em excesso. Danos causados por insetos constituem uma porta de entrada para o patógeno. Sob essas condições, a doença instala-se com facilidade e permite que novos esporos sejam produzidos nos tecidos colonizados, iniciando-se assim um novo ciclo de infecção.
A escaldadura das folhas exibe mais de um tipo de sintoma. O mais característico que manifesta-se quando as condições climáticas são favoráveis, podendo ser inicialmente identificado nas extremidades apicais das folhas mais velhas ou nas bordas das lâminas foliares (figura 1). A princípio ocorre o aparecimento de manchas de coloração verde-oliva (figura 2), sem margens bem definidas. As lesões na região afetada evoluem formando sucessões de faixas concêntricas, com alternância das cores marrom-clara e escura (figura 3) As lesões coalescem, causando necrose e morte da área foliar afetada. Uma incidência severa de escaldadura, ao causar perdas de área foliar, paralisa o crescimento das plantas em pleno estágio de emborrachamento, afetando a quantidade e a qualidade dos grãos que se encontram em formação nesta fase. Normalmente, as lavouras afetadas apresentam um amarelecimento generalizado, com as pontas das folhas secas e altura irregular das plantas.
Figura 1: Sintomas típicos de escaldadura nas extremidades das folhas mais velhas
Figura 2: Manchas de coloração verde-oliva sem margens bem definidas
Figura 3: Sucessão de faixas concêntricas, com alternância das cores marrom clara e escura
Como a enfermidade é esporádica, em geral não necessita controle. Entretanto, o tratamento de sementes com fungicidas é indicado para a erradicação da infestação das sementes. O uso de sementes de boa qualidade fitossanitária constitui-se em uma medida preventiva. O manejo adequado da água e a rotação de cultura ajudam a diminuir a incidência da doença. Em lavouras de arroz plantadas em rotação com soja e em abertura de cerrado, o impacto da doença pode ser reduzido com aplicações de fungicidas.
Por todo o exposto, fica claro que a escaldadura das folhas é uma das doenças de grande importância na cultura do arroz. Como foi abordado, é uma doença esporádica e não necessita de controle químico, mas há alternativas para o manejo. Por isso, é muito importante que o produtor se informe sobre o assunto e busque a ajuda de um profissional para adotar todas as medidas necessárias.