Gabriella Lima Andrade de Sousa
Universidade Federal de Lavras – 3rlab
As doenças nos últimos anos têm se tornado uma grande preocupação por parte de técnicos e produtores envolvidos no agronegócio do milho. Relatos de perdas na produtividade devido ao ataque de patógenos têm sido frequentes nas principais regiões produtoras do país.
A cercosporiose (Cercospora zeae-maydis) é uma das doenças com maior importância econômica na cultura do milho. A doença foi observada inicialmente no Sudoeste do estado de Goiás em Rio Verde, Jataí e Santa Helena, no ano de 2000. Atualmente, ela está presente em praticamente todas as áreas de plantio de milho no Centro Sul do Brasil e ocorre com alta severidade em cultivares suscetíveis, podendo as perdas serem superiores a 80%.
As lesões de cercosporiose apresentam formato retangular e são delimitadas, na largura, pelas nervuras principais da folha (figura 1). Essa é uma característica de lesões causadas pelo gênero Cercospora em gramíneas e que distingue a cercosporiose das outras doenças foliares do milho. As lesões apresentam coloração marrom, até que, sob condições de alta umidade relativa, há a formação de densa esporulação, que dá às lesões a coloração acinzentada, característica da doença.
Figura 1: Lesões desenvolvidas de cercosporiose em folhas de milho de uma cultivar suscetível
As lesões apresentam desenvolvimento mais lento, quando comparadas àquelas produzidas por outros patógenos causadores de doenças foliares em milho, requerendo de 2 a 3 semanas para atingirem o seu total desenvolvimento. Lesões plenamente desenvolvidas apresentam comprimento de 1 a 6 centímetros, com 2 a 4 milímetros de largura. Se áreas adjacentes são infectadas, duas ou mais lesões isoladas podem coalescer, dando a aparência de uma única lesão (figura 2). As lesões mais jovens apresentam um halo amarelado característico, quando observadas através da luz. Dentro de um período de duas a três semanas, essas lesões se alongam, formando estrias, antes de atingirem a sua forma retangular característica. Quando as lesões cobrem a maior parte da área fotossintética, a perda de água resultante determina também a deterioração do colmo e o acamamento. Isso pode ocorrer quando a infecção ocorre muito cedo e há formação de grande quantidade de lesões foliares.
Figura 2: Lesões coalescidas de cercosporiose em folhas de milho
A disseminação ocorre através de esporos e de restos de cultura levados pelo vento e por respingos de chuva. Os restos de cultura são, portanto, fonte de inoculo local e, também, para outras áreas de plantio. A ocorrência de temperaturas entre 25 e 30oC e de umidade relativa do ar superior a 90% são consideradas condições ótimas para o desenvolvimento da doença.
A principal medida de manejo da cercosporiose é a utilização de cultivares resistentes. Além disso, recomenda-se evitar a permanência de restos da cultura de milho em áreas em que a doença ocorreu com alta severidade para reduzir o inoculo do patógeno na área e realizar a rotação com culturas não hospedeiras como a soja, o sorgo, o girassol, o algodão e outras, uma vez que o milho é o único hospedeiro de C. zeae-maydis. Para evitar o aumento do potencial de inoculo de C. zeae-maydis, deve-se evitar o plantio seguido de milho na mesma área.
Deve-se ressaltar que é muito importante realizar adubações de acordo com as recomendações técnica para evitar desequilíbrios nutricionais nas plantas de milho, favoráveis ao desenvolvimento deste patógeno, principalmente a relação nitrogênio/potássio. Para que essas medidas sejam eficientes recomenda-se a sua aplicação regional (em macrorregiões) para evitar que a doença volte a se manifestar a partir de inoculo trazido pelo vento de lavouras vizinhas infectadas.
Por todo o exposto, fica claro que há uma grande preocupação com o potencial destrutivo dessa doença e com as perdas que ela pode vir a causar à cultura do milho. A adoção de estratégias adequadas de manejo e o desenvolvimento de pesquisas que visem o manejo da doença de forma sustentável são de suma importância.